Carta de uma mãe para o filho – Sandra Castro

Anteontem andava na rua em passo apressado, como sempre, quando de repente olho para o chão e vejo uma folha A4 dobrada, não sei porquê mas aquele pedaçinho de papel despertou-me atenção e peguei nele.

Quando abri o papel, deparei-me com uma carta escrita à mão, numa bela letra. Palavra a palavra fui lendo e o meu coração foi cedendo aquelas palavras cheias de amor, ternura, humildade e tristeza como só uma mãe consegue transmitir.

Era uma carta de uma mãe para o seu filho (suspiro):

“Filho, não sei por onde começar, desde que tu nasceste que penso em te escrever para quando fores adulto, quando eu já não andar por estas bandas, tu poderes conhecer o outro lado da tua mãe. Mas o que nunca me passou pela cabeça foi que a primeira carta que te escrevesse fosse a desabafar sobre este assunto.

Eu e o teu pai estamos separados, e eu não sei como vai ser a nossa vida daqui para a frente! Não sei se amanhã estaremos na mesma casa, não sei se amanhã te poderei dar aquele brinquedo que tanto me pediste, não sei se amanhã iremos ao cinema, não sei se amanhã poderei comprar aquelas bolachas e aqueles sumos que gostas tanto de levar para a escola, não sei se amanhã terei dinheiro para te dar de comer!



Não fiques triste, a culpa não é tua, os adultos são uns idiotas e esquecem-se do amor que já os uniu e que gerou um belo ser como tu, e guardam apenas rancor e mágoa que só nos prejudica a todos. A culpa não é tua, filho! A culpa não é tua!

Lembro-me quando eras bebé e que idealizava uma vida diferente para nós, cheia de abundância em tudo o que nos fizesse felizes! Tenho tantas saudades desses momentos…da primeira vez que te levei à praia e tu choraste quando sentiste a areia nos pés…a vida passa a correr.

Estou triste filho, tu já sentiste a mãe triste, eu sei, ando cansada, enervada, stressada, desculpa filho. Vais ver a mãe chorar muitas vezes mas não fiques triste, a mamã só tem medo que te falte alguma coisa, que penses sobre isso e não desabafes comigo. Quando a tempestade passar eu serei uma mãe mais presente, brincalhona, meiga, calma e feliz como sempre fui.

O meu objectivo era ter um pé de meia para ti, para poderes estudar e formares-te na faculdade sem nenhum sobressalto económico. Também queria oferecer-te um automóvel, queria dar-te essa prenda porque sei que vais ser um adolescente brilhante e que vais merecer esse presente! Mas não vou conseguir juntar o dinheiro necessário até la, o meu salário é baixo e estico-o até à exaustão, é impossivel para mim,neste momento, juntar um cêntimo.

A mamã está sozinha! Não tem ninguém que lhe dê a mão e diga que vai tudo correr bem, não tem ninguém que lhe dê um abraço bem forte e a faça esqueçer por momentos, a vida dificil que se avizinha, mas a mãe tem te a ti! E tu, meu filho, és e serás sempre a pessoa mais importante da minha vida! Não me importa as voltas que a vida vai dar, a mamã pode estar fora o dia todo, a correr de um trabalho para o outro, para colocar comida na mesa, mas no final do dia, eu sou tua e apenas tua, adormeçemos abraçados e despeço-me sempre com muitos beijinhos.


Quando fores adulto e leres esta carta, provavelmente eu já terei morrido de velhice ou de doença, mas continuarei a ser a tua mãe, e podes falar comigo sempre que quiseres, porque eu estarei sempre a zelar por ti e responderei sempre às tuas preces.

Quero que faças o que te fizer sentir feliz, que trabalhes numa área que te fascine e pela qual te sintas realizado! Mantem te sempre activo, faz exercicio, lê muitos livros, ri muito e sê sempre simpático. Não dês grande importãncia aos bens materiais, preocupa-te em aproveitares todos os momentos ao máximo. Trata sempre bem as mulheres, se as fizeres felizes elas também te farão feliz. Se fores homossexual, o conselho é o mesmo, e não te sintas mal por gostares de pessoas do mesmo sexo que tu, o amor existe de várias formas e todas elas são verdadeiras. Sê forte e persistente, e quando estiveres triste lembra-te de mim, da tua mãe…nunca, mas mesmo nunca te esqueças que eu amo-te, meu filho!”

Crónica de Sandra Castro
Ashram Portuense