“Cartas de Maria ” – Carta I

20/03/2016

Querido parvalhão,  

(Não) Lamento, mas não arranjei uma forma mais bonita para te identificar. Fazem hoje 14 dias que desapareceste sem deixar rasto, sem uma palavra, sem uma justificação. Tenho-te a dizer que passei momentos terríveis por tua causa. O que é que te passou pela cabeça, hein? Isto não é normal. Ninguém deixa para trás alguém que ama só porque sim, só porque lhe convém. Onde é que desligaste o teu botão dos sentimentos? Também quero desligar o meu e não voltar a ligar. Foi tudo uma mentira? Duvido. Eu senti a tua entrega em cada beijo, em cada abraço, em cada momento juntos nos nossos encontros de 8 horas. O que é que aconteceu, Daniel? Onde esta essa coragem que tantas vezes usaste e que agora fugiu? A única coisa que consigo sentir é a cobardia por trás desse silêncio. E dói tanto. Não querias mais esta relação? Bastava dizeres. Não conseguias conciliar tudo na tua vida? Bastava dizeres. Eu não estou, nem nunca estive aqui para te prender. Sempre foste livre de tomar as tuas opções, tão livre que foste e ainda não voltaste. Porquê este acto de infantilidade e egoísmo puro? Estás feliz com a opção que tomaste? Estás bem?

(Mas porque é que me estou a perguntar isto? Claro que deves estar bem melhor que eu, seu parvalhão!) Eu confiei em ti, confiei os meus sentimentos, o meu coração. E no fim, aquela lengalenga que me disseste para não partir o teu coração, foram apenas tretas porque na realidade foste tu que partiste o meu.

Tantas perguntas que tenho, Daniel. Mas acima de tudo, tenho amor-próprio. E se foste tu que escolheste afastar-te, só tu podes escolher aproximar-te. Não imaginas o quanto dói estar neste vazio. Precisei deste papel para desabafar. Sinto que pareço um disco riscado a massacrar os meus amigos. Abençoados sejam, que todos juntos seriam capaz de partilhar a minha dor, suportando-a. Um dia também pensei que pudéssemos ser para além de namorados, os melhores amigos. Que inocente que eu fui.

Ainda escrevia mais qualquer coisa, mas o papel está a acabar.

(Devia escolher alguma forma de despedida, mas não me ocorre nenhuma politicamente correcta)

Ass: Maria

Maria foi a personagem retratada na minha crónica da semana transacta, que podem ler aqui. Alguns dos leitores falaram comigo e reviram-se no caso da Maria, em algum momento da sua vida. Como tal decidi explorar mais esta personagem, criando cartas escritas por Maria, como forma de terapia.

Boas leituras 🙂