Casamento de Crianças – Breve nota crítica e reflexiva

Hoje vi um vídeo da UNICEF, de arrepiar, de causar tristeza profunda…
O vídeo mostra um enorme flagelo deste século, o casamento de crianças, meninas, com homens adultos, a quem foram prometidas e são literalmente “dadas” pelas próprias famílias.
Uma vergonha… Uma atrocidade, que é, no entanto, permitida pelos governos do mundo…
Governos que tudo podem, se em nome de uma qualquer riqueza material que ambicionam para si, e que nada parecem poder fazer – porque não querem, por medo, ou não sei porquê (ou talvez saiba) – contra este flagelo, que se junta a tantos outros como o tráfico de pessoas, a escravatura, perpetuadas sob as mais diversas formas…umas óbvias, outras mascaradas de credos ou tradições várias, pelo mundo fora…
Uma miséria constatar as vidas perdidas, infâncias roubadas, abusos e violações consentidas pelo casamento hediondo, permitido por governos, cultos religiosos, familiares… todos os que tinham por obrigação – que têm por obrigação! – defender e zelar pelos seus menores, pelas suas crianças, por estas meninas…
Provavelmente um destes dias escreverei num outro local, mais detalhadamente, sobre esta aberração com a qual convivemos em pleno século XXI…Muitas vezes em territórios bem mais ligados à Europa do que aquilo que podemos imaginar…
Hoje, deixo esta reflexão, este alerta, esta dura verdade que se apresenta perante os nossos olhos, se os abrirmos para o mundo…
Escrevo umas linhas mais, por aquilo que me vai na alma, quando sinto e penso estas meninas…abafada a sua infância pelo silêncio ensurdecedor de quem permite esta barbaridade, e de quem a comete, direta ou indiretamente.
Hoje escrevo assim:

“Cativeiro de horror”

Caracóis dourados, caídos nos ombros,
doce olhar sorrindo, de um mar sem fim…
vestindo a pureza que a infância traz…

Um dia vestida de branco rendado,
quem te trouxe ao mundo, entrega-te enfim,
rouba-te a infância, teu olhar marejado…

Viola-te a alma, leva-te de ti…
dá-te a casar a homem maduro,
graves as feridas, nesse teu “futuro”…

Leva-te do mundo, do corpo, do amor,
lágrima que rola, no leito à noite,
morres lentamente, sentes só a dor…

Miséria de horror, tristeza infinita,
praga desumana, tradição maldita,
mundo de cobardes, que nada evita…

Rompe-se o teu elo ao mundo e à vida,
sangrando de dor, esvai-se a tua voz…
silêncio que é teu, é de todos nós…

Até quando permitiremos?…
Até quando fingiremos nada ver?…
Lágrima de menina és tu…

Deixaram que te roubassem,
corpo e alma, infância pura…
esperança no Amanhã…

Não deixes morrer o teu sonho…
se puderes, se conseguires,
mantém-te agarrada à vida…

Não sucumbas ao terror,
acredita que em breve,
pode o mal terminar…

Lágrima de menina doce,
que ouçam a tua voz…
que cesse a tua dor…

Que as trevas desapareçam,
que a tua vida aconteça…
que a humanidade vença.

Por Lúcia Reixa Silva, 26 de Setembro de 2016,

Poema dedicado a todas as meninas do mundo a quem é roubada a infância sob a máscara da tradição, na esperança de que brevemente sejam protegidas por governos e leis que cumpram a sua obrigação: Proteger as suas menores e os seus menores, defender e garantir os direitos das crianças.