O Casamento Gay e o Sonho Americano

Caro leitor(a), na minha primeira crónica não tive oportunidade de me apresentar. O meu nome é Mónica, sou licenciada em Ciência Política e, actualmente, estou a tirar um mestrado em Estudos Internacionais com especialização em Médio Oriente e Norte de África. No Ideias e Opiniões sou aquela que mete o dedo nas feridas que ninguém quer curar. Mensalmente, ao dia 16, falarei de Direitos Humanos em todas as suas vertentes. Tentarei alertá-lo a si e aos seus e, à minha maneira, vou tentando mudar consciências.

They ask for equal dignity in the eyes of the law. The Constitution grants them that right[1]– declaração final do juiz do Supremo Tribunal, Anthony Kennedy, quando decidiu a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo nos Estados Unidos da América.

26 de Junho de 2015. A comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgéneros) norte-americana vence (finalmente!) a luta pela igualdade no que diz respeito ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. Podia ter escolhido a temática da Lei Mordaça espanhola, as violações e imolações de mulheres sudanesas ou o tema-rei Estado Islâmico, mas não. A comunidade LGBT não morde, não queima, nem mata. A comunidade LGBT é igual a todas as outras pessoas, por dentro e por fora. Também sentem. Com a mesma intensidade que o leitor. Só não têm os mesmos direitos. E porquê? Porque amam o diferente. E amar o diferente não é mau. O que para mim é diferente, não o é para a pessoa ao meu lado, e se todos gostássemos de amarelo, não havia o arco-íris!

Nunca eu, em tempo algum, me senti no direito de opinar sobre quem X e Y escolhem para amar. Pessoas homossexuais nunca me chatearam. Nunca me fizeram mal. O que me chateia é saber que existem pessoas infelizes o suficiente para acharem que têm o direito de decidir se A casa com B. E é por isso que nunca aceitei de ânimo leve viver num país onde houvesse discriminação matrimonial (adoro este novo conceito!) só porque alguém gostava de outro alguém e que, por acaso, não só se amavam e respeitavam muito, como também eram do mesmo género.

Voltando ao país de Obama, foi preciso chegarmos a 2015(!) para que os LGBT pudessem ser iguais em direitos e deveres no que toca a casório. Sim, nem tudo nos EUA é assim tão avançado, alternativo ou liberal. E este assunto já tem barbas e cai no ridículo quando foi preciso chegar ao século XXI para estas liberdades serem legalizadas, tendo em conta que, dos 50 estados, 37 já tinham legalizado o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Ainda assim, alguns municípios do estado norte-americano Alabama deram a volta à questão e recusam-se a emitir licenças de matrimónio, mostrando o seu descontentamento com a aprovação da lei.

casamento gay

Sim meus senhores, falamos de liberdades. Liberdade de amar o próximo, incondicional e independentemente do seu sexo, raça, etnia, religião e orientação política ou sexual. Trata-se de aceitar tudo e todos. Tolerância. Nem todos conhecem o conceito. Nem toda a gente é capaz de aceitar a diferença. (Verdade seja dita, estas faltas de tolerância, de aceitação e de comunicação têm criado muitos problemas no mundo… Mas isso são outros quinhentos!).

Aqui há dias, encontrei um filme no Youtube (aconselho vivamente a ver!) onde um grupo de crianças analisava a transformação de Bruce Jenner, ex-atleta olímpico norte-americano e padrasto de Kim Kardashian, para Caitlyn Jenner. Eu sabia que a sociedade era preconceituosa, que era má e que teimava em magoar! Mas ver que as crianças, talvez os únicos seres puros que por cá andam e que aceitam a diferença sem interferência do mundo exterior, faz-me acreditar que vale realmente a pena continuar a falar sobre os assuntos “tabu” que a sociedade teima em esconder. A certa altura, uma das crianças toca na ferida: “I think they’re just scare of change, (…) they just want everything to stay the same, (…) they just don’t know how to handle it” (uma ovação, por favor! The kid knows it better!).

E a verdade é só, e apenas, isto. Seja para a mudança de género, seja para o casamento ou adopção homossexual. Seja para qualquer outro assunto. A mudança assusta. O desconhecido aterroriza. E o ser humano não se acha preparado para isso até estar, frente a frente, numa situação fora do normal, e que de anormal nada tem. Ando a bater na mesma tecla desde que me conheço. A solução passa, essencialmente, pela educação e sensibilização dos mais novos. Não é nada de muito difícil. Basta ensiná-los a amar todos, da mesma forma, erradicando “preconceito” e “estereótipo” do dicionário. Porque hoje podemos não aceitar o diferente por não nos dizer nada, mas um dia, essa diferença pode-nos bater à porta. Basta pensar: alguma vez deixaria eu de gostar de um(a) filho(a) por ele(a) amar o diferente? A resposta, caro leitor, é não. E amaria o diferente de braços abertos. Porque um mundo sem amor, tolerância e respeito, é um mundo onde eu não quero viver.

Assim sendo, e em jeito de conclusão, ponha-se no lugar da comunidade LGBT. Veja a sua vida constrangida por leis, feitas por pessoas que podem amar quem querem apenas por serem de sexos diferentes. Imagine-se impedido de poder assinar um papel (na verdade não passa disto…) onde esteja oficialmente escrito que A casa com B, independentemente do seu sexo. Imagine um mundo onde as suas liberdades são definidas por outros, quando, na verdade, “a minha liberdade termina onde começa a do outro”.

Apesar de tudo, parabéns América! O caminho é para a frente! Mais vitórias virão! E quanto a si, goze o sol e a praia. Divirta-se! Viva a vida. Aproveite-a. E deixe os outros fazerem o mesmo.

Volto em Agosto!

[1] “Eles pedem dignidade igualitária aos olhos da Lei. A Constituição concede-lhes esse direito” (tradução livre).