Casamento (Sur)real

Olá a todos. O meu nome é Bruno Custódio e se são leitores do Ideias e Opiniões irão reconhecer-me das tardes de Discos Pedidos. Se forem ou foram meus vizinhos, irão reconhecer-me dos concertos tributo que faço naquele Coliseu a que pessoas comuns chamam de chuveiro.

O último Verão ficou marcado por transferências escaldantes. Cristiano Ronaldo mudou-se de Madrid para Turim. Cristina Ferreira mudou-se da TVI para a SIC e, reza a lenda que quis evitar a todo o custo passar por túneis no caminho para o novo local de trabalho. Eu também me transferi, naquela que podia ser considerada a transferência do ano se eu jogasse à bola nas tardes de Domingo, no clube recreativo da minha cidade. Eu transferi-me do Clube dos Solteiros para a Equipa dos Casados, embora ainda seja olhada de lado a minha mudança uma vez que ainda não apresento aquilo que me faz ser aceite no meu nove time, uma barriga crescida.

É precisamente o meu casamento e os seus preparativos que me trazem hoje até vós. Em primeiro, segundo, terceiro e adiante na escala de importância na preparação de um casamento está única e exclusivamente uma coisa:

O casamento é uma coisa cara e, se não forem ricos há uma forte possibilidade de vos passar pela cabeça assaltar um ou dois bancos. Não vale a pena, até porque eles estão a abrir falência, uma estratégia anti-roubo e anti-casamentos. É também impossível encontrar uma nuvem que faça chover dinheiro, daí elas apenas estarem representadas em desenhos animados. E se não quiserem vender rifas ou todo o recheio da vossa casa de solteiros podem, em último caso, mendigar. Apenas recomendo esta última hipótese enquanto actividade geradora de dinheiro que, embora pouco, não precisa de ser declarada cada moedinha às finanças e descontada para o Estado.

(Não António Costa, não foi uma sugestão. Está lá quieto!)

Casar ainda está mais caro do que viver em Lisboa, mas felizmente não precisamos de casar todos os dias. As principais dificuldades na preparação do meu casamento prenderam-se com orçamentos. A busca pelo melhor preço é complicada numa industria onde nem os olhos da cara chegam para pagar o mais simples dos detalhes.

Vamos começar pelo Copo d’Água. Como é que uma festa que tem nome de bebida grátis custa tanto dinheiro? O nome é publicade enganosa quer pelo valor quer pela sua ausência no casamento. Se o seu nome fosse estabelecido pelo seu preço teria que se chamar de Tequila Ley 0.925.

A escolha da quinta para a o Copo d’Água envolve vários factores. Entre decoração, espaço exterior e interior, preço (pois) e disponibilidade. As melhores quintas ficam marcadas com muita antecedência. A melhor altura é assim que é feito o pedido… de namoro.

Outra coisa a ter em atenção ao escolher a Quinta. Um casamento com menos de 100 convidados não acontece ao Sábado. Se tiverem poucos amigos e familiares ou pouco dinheiro para convidar pessoas, há fortes possibilidades do vosso casamento acontecer a um Domingo. Mas há formas de casar ao Sábado com poucas pessoas. Há.. nas datas onde ninguém quer casar, o chamado Inverno.

Há quintas que não exigem um mínimo de convidados pagantes, por isso podem sempre contornar o mínimo de 100 convidados chamando crianças com idades inferiores a 2 anos, uma vez que essas não costumam pagar. Assim podiam casar ao Sábado sem pagar mais que os 60 amigos que têm ou que o vosso dinheiro consegue pagar.

Quanto aos fotógrafos é preciso procurar o melhor pacote a nível de preço e oferta. Mas esta é uma busca sem sentido uma vez que estamos a pagar centenas de euros para algo que qualquer um dos convidados pode fazer a troco de comida e da senha do wi-fi. Este pacote ainda inclui filtros para tornar as fotos mais bonitas e hashtagportagem nas redes sociais. O meu conselho para quem quer procurar fotógrafos para o seu casamento é que escolham um(a) fotógrafo(a) que seja bonito(a), uma vez que será a pessoa para quem mais vão olhar nesse dia.

(Um conselho amigo, não esquecer de marcar sessões de fisioterapia para o maxilar para a semana seguinte ao casamento.)

No que à música diz respeito, é preciso conseguir contratar um artista que corresponda a dois critérios. A saber, “Apita o Comboio” e “O Coração Não Tem Idade”. O baile será um sucesso. Ponto final!

Para terminar, o nosso casamento não fica completo sem os trajes. Eu comecei a escrever este artigo em Agosto, já lá vão 3 meses. Ainda assim, longe do tempo que se leva a tratar do fato e do vestido.

A minha relação com o meu fato foi uma relação “Morangos com Açúcar”. Eu olhei para ele, gozei sem nenhum motivo e ao fim de uns minutos estava apaixonado por ele. Na verdade, nem quis experimentar mais nenhum. A indecisão assusta-me e tinha medo que o primeiro fato se vingasse de mim depois. “Oh Bruno, mas um fato não te faz mal“. Mas a minha consciência sim. Escolher ou sequer olhar para outro fato iria fazer com que sonhasse com o casamento e que nesse sonho a noiva não quisesse casar comigo precisamente por aquele fato ser feio.

Eu não estive presente na decisão da minha noiva relativamente ao seu vestido, mas ela foi lá tantas vezes e passou lá tanto tempo que creio que já a considerem da família e a vão convidar para passar lá na loja a Ceia de Natal.

Por hoje é tudo. Preparar um casamento é cansativo, mas também pode ser divertido. Pensem como um jogo de Monopoly. Tanto no jogo como no casamento, gastas o dinheiro todo em tudo e procuras o melhor sítio para ter uma casa. E ambos os casos é tudo muito longo.

Espero que tenham gostado. Voltarei em breve. Quando a minha mulher deixar.

Spoiler: A história das calças é apenas mito. Ela usa vestido e manda na mesma.