Charuto anterior a 2000/1996? Vá a pé!

Vive em Lisboa? Encontra-se desempregado ou é um dos felizardos em situação oposta? Conduz? Em caso afirmativo, possui um veículo recente ou é apenas um “charuto” anterior ao ano 2000/1996? Se é um dos felizes contemplados com um “charuto” anterior a 2000/1996 sugerimos-lhe o seguinte: venda-o no OLX ou pondere começar a andar a pé!

Podia iniciar a presente crónica referindo os diversos benefícios de andar a pé, aliando esta actividade com outra: fazer uma alimentação saudável. O resultado obtido, de acordo com os especialistas da área da nutrição, é satisfatório, se não mesmo invejável: um corpo semelhante ao do Cristiano Ronaldo e da sua ex-companheira Irina Shayk. Poder podia, mas não era a mesma coisa, uma vez que o assunto exige mais seriedade e menos superficialidade.

Há algum tempo atrás, não muito na verdade, fomos apanhados de surpresa com uma notícia, no mínimo, caricata e geradora de controvérsia. A Câmara de Lisboa, uma cidade-modelo (dizem por aí), ao ter aderido ao programa ZER (Zona de Emissões Reduzidas), em 2011, parece ter obtido melhorias significativas na qualidade do ar, de acordo com os resultados divulgados numa conferência XPTO. Até aqui tudo muito bem e aproveito ainda a ocasião para congratular a autarquia por tal feito histórico e/ou heróico. Contudo, as medidas exigidas por este programa, no sentido de se melhorar ainda mais a qualidade do ar, não deixam de ser preocupantes… Ora vejamos: se o seu veículo for anterior ao ano de 2000 está a partir deste momento impedido de circular em zonas como a Avenida da Liberdade e a Baixa e se tiver a infelicidade de só poder pagar um “charuto” construído antes do ano de 1996 as restrições são ainda maiores, pois além das zonas supracitadas, também não pode circular na Avenida de Ceuta, Avenida das Forças Armadas e Avenida dos Estados Unidos da América. Claro que se residir nestas zonas, tais medidas não se aplicam, pelo menos por enquanto, uma vez que a autarquia de Lisboa está mesmo empenhada em melhorar a qualidade do ar da cidade… Por isso, previna-se e mude de casa, por exemplo.

Apesar das sanções para os incumpridores destas medidas não serem exorbitantes (24€ apenas e sem a apreensão do veículo ou “charuto”…) não invalida que aqui se levantem algumas questões. Ora, é de conhecimento geral, que viver em Lisboa (e falo por experiência própria) não é de todo um processo low-cost, quanto mais não seja por esta ser a capital do país e a aliar a este facto temos um outro: o elevado índice de desemprego. Mas e os que trabalham? Como se irão deslocar para os seus locais de emprego? Bem sei que existem transportes públicos, mas não nos enganemos, pois estes não cobrem todas as zonas da cidade… E os que trabalham nas áreas limítrofes? Vão a pé? Bicicleta? Então e nos dias em que chove torrencialmente e a cidade passa de Lisboa a Veneza? Certamente que me responderiam para irem de barco… Têm razão! Também podem ir de táxi, pois claro, mas o mais provável é terem de deixar de comer, até porque este último não é um bem essencial… Então e os jovens ainda em início de carreira? Compram já um BMW de 2014? E como suportam os custos que uma bomba deste tipo exige? Pedem já ao Ministério das Finanças para procederem à penhora dos seus bens ou esperam mais um pouco?

Deixo aqui algumas questões que, a meu ver, não são retóricas e como tal gostaria que algum iluminado da autarquia em causa tivesse a amabilidade de as responder… Ainda assim, o melhor é ficarmos tranquilos, porque afinal de contas a qualidade do ar está melhor e é só isso que importa.