Chega de Calimeros no futebol português!

É preto, pequenino, tem uma casca na cabeça e está sempre triste e a chorar, quem é ele? Quem disse Calimero acertou, quem, por sua vez, afirmou ser o típico adepto português, não andou nada longe. É senso comum, que todas as pessoas que passam a vida a lamuriar-se, a chorar e a arranjarem desculpas são conhecidas como Calimeros, o desenho animado do patinho preto que estava sempre triste, a chorar e que falava sempre em injustiças. Pode pois afirmar-se, que associá-lo aos adeptos do futebol português, em específico dos três grandes,  não é só pura coincidência e que corresponde, quase na íntegra, à realidade.

Nos dias que correm é quase impossível ter uma conversa sobre futebol. Pelo menos uma conversa que acabe com o nível de sanidade alto e o de violência baixo. A meio, já se está um a exaltar e a bater na mesa, outro a levantar-se e a ir embora e o último, isto pressupondo que são três, a chorar num canto. Um dos problemas fulcrais do debate desportivo, mais especificamente do futebol, é que há sempre adeptos a “chorarem-se”. É frustrante tentar debater com quem só se escuda em desculpas. A opinião do comum adepto encontra-se cada vez mais formatada, cada vez mais cheia de “inverdades” que passam por palavras escritas no testamento e, acima de tudo, cada vez mais cheia de discursos venenosos proferidos pela entidades superiores dos clubes que apoiam. Tudo isto mina as opiniões de quem, quase, não as tem, uma vergonha.

Antes de mais, há um leque que é composto por quatro, cinco, ou quiçá seis, casos gerais que vão sempre servir para escudar a opinião e para chorar mais um bocadinho a derrota, ou o empate, da última jornada. Primeiro, temos o árbitro. O exemplo aqui é genérico, no entanto, é facilmente extrapolado para rivalidades ou ódios pessoais. O que se diz do árbitro varia imenso, entre “não ganhámos porque jogámos contra 14”, ou “só perdemos porque o senhor do apito quis” ou ainda “fomos empurrados desde o inicio do jogo, assim não dá”, estas frases são apenas um número mínimo do que é referido, além de serem uma versão soft sem as palavras impróprias. Segundo, a equipa adversária. Desde a crítica feroz ao suposto “anti-jogo”, mesmo tendo o adversário efectuado mais de 10 remates, às queixas vorazes ao jogo duro, quando se sabe que o futebol é, ou pelo menos devia ser, um jogo de contacto e ainda as ofensas proferidas ao jogador X que só se lembrou do que era o futebol no dia do jogo, ou então, estava dopado. Terceiro, as condições climatéricas. Não há equipa que aguente uma carga de água, isso e um relvado encharcado, que maldade! E quando está muito calor? Aí nem se fala! Quarto, a imprensa. Para os Calimeros, a imprensa só destabiliza, só diz barbaridades e graças a isso a equipa não esteve em forma devido a não ter conseguido lidar com a pressão, uma chatice. Quinto e último exemplo, o tempo de descanso. Em Portugal, tudo o que seja menos de 300 horas de descanso, é pouco. É pouco e vai afectar a clarividência e o discernimento em campo. Uma tragédia. Tudo isto, e muito mais, é dito com um ar sofrido e de lágrima no olho.

Os Calimeros não cessam, pior ainda, multiplicam-se. As desculpas vão-se somando, assim como o choro. Para um Calimero, a equipa nunca perde porque joga mal, a equipa nunca empata porque o adversário esteve bem, a equipa nunca é goleada porque mereceu. Não, nada disso. Em vez de se assumir um erro colectivo, uma má exibição ou uma falta de qualidade, prefere-se andar a escudar-se em argumentos inválidos e desprovidos de razão. Ao adepto português, falta jogo de rins para saber aceitar criticas, falta que saibam defender-se sem insultar o clube adversário e ainda mais, falta que deixem de se esvair em desculpas externas. Este tipo de atitude e de postura, acontece sobretudo em adeptos das equipas ditas “grandes”, os 3 grandes. Benfica, Sporting e Porto, qualquer uma delas é menos vezes prejudicada do que é beneficiada, no entanto a única coisa que conta é aquela vez, aquela mesmo em que só não ganharam porque o árbitro assinalou mal um lançamento lateral. Tal só acontece em virtude dos discursos provenientes das suas direções, dos seus discursos e acções que só vão no sentido de exaltar ânimos e de procurar bodes expiatórios de forma a saírem, como lhes convém, isentos de culpas. As derrotas e mesmo os empates são raros, contudo, é peremptório que percebam que chorar não é solução e que acabar um debate com desculpas inventadas é tudo menos uma forma sã de conversar. Há que assumir os erros, há, sobretudo, que ser justo e correcto, isto de forma a que os assuntos triviais não passem a batalhas campais.

Assim vão os nossos patinhos chorões, a refugiarem-se em balelas transmitidas nos meios de comunicação social e a pensarem francamente menos pelas suas cabeças. A obrigatoriedade de se começar a assumir o erro é grande, mas a vontade nem por isso. Enquanto todas as discussões forem baseadas em “calimerices”, nem vale a pena debater futebol, é preferível falar com uma parede a tentar chamar à razão um Calimero. É bom que estes aspectos intrínsecos e indissociáveis do comum adepto português mudem, só será saudável e positivo que se volte a conversar saudavelmente sobre aquilo que tanto nos une, o futebol.