Cheios de “Curiosity”? – Miguel Bessa Soares

Nos tempos da “Guerra Fria”, mais concretamente na corrida à lua, EUA e a velhinha URSS depararam-se com um pequeno problema, as esferográficas não escreviam em gravidade zero. A lógica é muito simples, a tinta da caneta levanta e não escreve nada no papel, tal como acontece quando colocamos uma caneta de pernas para o ar. Os EUA através da agência espacial NASA lançaram um projecto de milhões de dólares para inventar uma caneta que escrevesse em gravidade zero, ela lá apareceu e nos anos 80 era moda qualquer miúdo ter uma caneta que escrevia “de pernas para o ar”. A URSS levou lápis para o espaço… cumpriu o objectivo a custo zero.

Volvidos anos em pleno século XXI tornaram-se comuns termos como: Gigabytes; Terabytes; rede móvel; 3G; 4G; SMS; MMS; Banda Larga; Megapixeis; Inteligência artificial; HD; HDMI; Alta definição e por ai fora. No entanto Uma sonda super mega hiper equipada com Terabytes e megapixeis amarta, não sei segundo o novo acordo ortográfico, mas se aterrar na lua é alunar, para aterrar em Marte o termo correcto será amarta. Mas com ou sem acordo a sonda aterra e a primeira imagem que envia é a preto e branco.

Eu sei que aquilo está a milhares de KM da terra, mas por Deus, o meu telemóvel custou 50€ tem MMS e é das melhores coisas que as fábricas chinesas têm para oferecer. No mínimo era de esperar que uma sonda que no mínimo deve ter custado 3 vezes a dívida de Portugal tivesse uma melhor performance.

No fundo isto serve para explicar porque Portugal nunca foi à lua e tão cedo não vai a Marte. Nós somos perfeccionistas, tuga que é tuga tem no mínimo dois telemóveis ambos com 4G, banda curta média e larga, com onda média FM, e até Gigapixeis, Android, ou como ouvi recentemente Sistema Operativo – Poloroid. Nunca uma sonda tuga enviaria uma imagem a preto e branco de Marte.

A Curiosity despertou sem dúvida curiosidade e provavelmente na NASA dezenas de técnicos rezam dia e noite para que não tropece num trambolho simples e feio com as palavras em vermelho garrido – URSS.

 


Crónica de Miguel Bessa Soares
Mundo ao Contrário