Chester Bennington – A Voz da Minha Adolescência

Era eu um pequeno míudo, ouvia através da minha irmã mais velha uma banda rock muito popular que, apesar do muito barulho que faziam, eram extremamente apelativos. Não percebia practicamente nada de inglês, afinal tinha só 9/10 anos, mas aquele género musical era interessante e começava a despontar o meu interesse. Estava a ouvir aquilo que seria um dos álbuns de maior sucesso da banda norte-americana. Era Meteora! E se, na altura, a música já me tinha deixado um bichinho, imaginem como fiquei quando na banda sonora do jogo FIFA, provavelmente o FIFA 2003, incluía a música “Somewhere I Belong”, diga-se de passagem a minha favorita de todas as dos Linkin Park.

Infelizmente, esta crónica é escrita poucas horas depois de sabermos da notícia que dava conta do suicídio de Chester Bennington, um dos vocalistas da banda norte-americana. Uma notícia que me deixou de rastos e que me deixa com mixed feelings. Porque apesar de ser sempre algo interessante e engraçado escrever sobre uma banda e artista de quem gosto bastante, fico triste por fazê-lo por estes motivos. Contudo, o Chester merecia uma homenagem, ou não fosse ele parte de uma das bandas que mais me acompanhou durante a minha adolescência.

Como referi, apanhei-os na altura do Meteora, através da minha irmã mais velha e fiquei vidrado neles após ouvir, vezes sem conta, a “Somewhere I Belong” enquanto jogava. Mas claro que a “Numb” era também uma das músicas que mais se destacava já na altura. Era incrível a energia que a banda transmitia, a força da voz de Chester deixou-me desde logo vidrado e o rap cantado em algumas músicas de Mike Shinoda era algo que fazia as músicas diferentes. E um pouco mais tarde conheci o fabuloso Hybrid Theory, de onde sairam músicas que ainda hoje estão na mente de grande parte das pessoas quando se fala de Linkin Park. Músicas como “Runaway“, “Crawling“, “In the End” são históricas e farão sempre parte da minha infância e adolescência.

Claro que passados uns anos vieram músicas mais fora do estilo dos Linkin Park que nós conhecíamos, mas fã que é fã, tenta ao menos continuar a acompanhar e ver algo positivo, mesmo que ele possa não existir. No meu caso, o Minutes to Midnight foi muito fora do que eu gostava… Ainda hoje considero esse álbum um dos piores da banda. No entanto, sei que há muita gente que passou a gostar mais dos Linkin Park a partir deste álbum, através de músicas como “Leave Out All the Rest”, “Shadow of the Day”, “Bleed It Out”, entre outras. Na altura, até comecei a gostar de algumas músicas, maioritariamente da última referida, sobretudo por ser completamente diferente, dado o rap ser a parte fulcral da música.

Seguiram-se mais dois anos e a banda norte-americana trouxe-nos A Thousand Suns, outro álbum bastante polémico, por ser de novo diferente do estilo que os Linkin Park nos habituaram nos seus primeiros álbuns (Hybrid Theory, que nos trouxe músicas tão fenomenais, e Meteora). Pessoalmente, só recentemente consegui aceitar este álbum, passados tantos anos a “lutar” contra o mesmo. A verdade é que tem algumas músicas interessantes. É o caso de “Waiting For the End”, “Blackout” (onde a voz de Chester é levada a extremos que já não ouvíamos desde Meteora) e “The Messenger”, que tem uma melodia maravilhosa e é cantada por Chester acompanhado apenas por uma guitarra. Aliás, estou neste momento a ouvi-la e arrepio-me, não só por ouvir a voz de Chester, que já só iremos ouvir através das músicas que ele gravou com os Linkin Park, mas também pela rouquidão (que nem sempre é positiva num cantor) que ele apresentava.

Recordar o vocalista dos Linkin Park é complicado, por ser algo que nunca pensei fazer tão cedo na minha vida. Nunca esperei estar à beira dos meus 25 anos e saber que uma das vozes da minha adolescência tinha desaparecido deste mundo… É algo que não consigo explicar!

Continuando por esta carreira dos Linkin Park, em 2012, Chester, Shinoda, Han, Phoenix, Brad e Rob apresentam-nos Living Things, algo que nos era apresentado com uma sonoridade mais original, deixando todos os fãs expectantes para saber o que viria dali. Shinoda prometera-nos músicas boas e o que tivemos foi um pouco disso, mas ainda assim longe do que os fãs mais die hard esperavam. No entanto, há boas músicas, não há duvidas disso. “Powerless”, “Victimized”, “Lies Greed Misery”, “Roads Untraveled”, são exemplos de músicas que para mim ficarão sempre marcadas com o selo dos Linkin Park. 2012 foi também o ano em que finalmente, os pude ver ao vivo, algo que sempre tinha ambicionado.

Ver a banda que marcou a minha adolescência ao vivo e a cores. E ainda por cima, num dia do festival Rock in Rio, em que várias boas bandas faziam parte do cartaz. Um cartaz que tinha no palco principal a abrir, Limp Bizkit, seguidos pelos The Offspring. Era não só o regresso a Portugal por parte dos Linkin Park, passados 4 anos, mas também o regresso de um dia de Rock ao festival do Parque da Bela Vista. E que concerto mítico! Para além de se apresentarem cheios de qualidade vinham com o Living Things preste a estrear e Mike Shinoda chegou a distribuir algumas cópias de um dos singles deste novo álbum ao público presente.

É sabido que os Linkin Park têm uma ligação muito forte com os seus fãs e com o público que vai aos seus concertos. Sabemos também que o nosso país era um dos países que os recebia com maior carinho. Tudo isso faz com que os fãs portugueses sintam bastante a partida de uma das figuras maiores, se não mesmo a maior, da sua banda preferida.

Passemos a 2014, quando aparece aquele que, para mim, é o álbum que mais próximo ficou dos Linkin Park originais. Refiro-me a The Hunting Party, que trazia de volta o punk rock e a energia dos primórdios. Músicas como “Guilty All the Same”, “Wastelands” ou “Final Masquerade”, traziam na voz de Chester Bennington a força e a garra que ele sempre nos tinha apresentado, mas que tinha vindo a ser deixada um pouco de lado, até pela operação que teve de fazer às cordas vocais que limitam todo e qualquer artista. Foi passados estes dois anos que voltei a ver os Linkin Park ao vivo, naquela que foi a minha segunda vez e a sétima para os americanos.

Agora, neste momento em que escrevo estas linhas, deparo-me na realidade de que aquela foi a última vez que vi a voz da minha adolescência, e da adolescência de muitos dos meus amigos. Aquela que até pode ter sido a voz da minha geração. Era sabido que Chester tinha tido problemas com as drogas e com o álcool, mas que tinha conseguido superar esses vícios.

Recentemente, já neste ano de 2017, os Linkin Park lançaram um novo álbum denominado One More Light, que foi bastante mal recebido pela crítica e por alguns fãs, por se estarem a aproximar demasiado do estilo pop, algo que era visto como um afastamento claro daquilo que eles já tinham feito até aí. No entanto, apesar das críticas negativas, que começaram mal saiu o single Heavy”, com a colaboração de Kiiara, parece que todas as letras do novo álbum têm um significado por trás. Parece que Chester nos estava a avisar que algo se estava a passar. Mas quem poderia perceber? Se nem os amigos mais chegados, como o colega da banda Mike Shinoda, que se disse chocado após a notícia da morte ter sido confirmada.

É difícil terminar uma crónica de homenagem e de recordação do trabalho deste grande artista dos Linkin Park sem dizer um obrigado e sem recordar que, às vezes, é preciso ler nas entrelinhas e apoiar aqueles de quem mais gostamos. Sinceramente, não sei o que levou Chester Bennington a cometer suicídio, porém segundo o que tem vindo a ser dito desde a notícia da morte do cantor, este tem vindo a estar mais deprimido devido ao suicídio do seu bom amigo, Chris Cornell. E ficamos ainda mais tristes quando percebemos que Chester morre no dia de aniversário de Cornell, o que leva a pensar que este não aguentou estes últimos meses. Desde a crítica ao seu trabalho, à morte de um dos seus melhores amigos.

 

Deixo-vos com a música que dá o nome ao álbum e que me arrepia da cabeça aos pés, sobretudo pela sua letra. E ainda mais porque só conheci esta música após a notícia da morte do vocalista de uma das minhas bandas preferidas!

Obrigado por tudo Chester, serás sempre a voz da minha adolescência!

 

“Who cares if one more light goes out? Well I do!”