As cinco coisas que eu quero que façam quando eu falecer

Eu não tenho herança, nem terrenos, nem dinheiro no banco, nem bens como ouro e peças de arte valiosas, concluindo, eu não tenho onde cair morta, e por incrível que pareça, isso é fantástico! E sabem porquê leitores? Porque se eu fosse riquíssima, quando eu batesse as botas ia dar voltas e mais voltas no caixão, com as disputas de herança que a minha família iria ter.  Mas como há outros aspectos na hora da nossa morte mais importantes que uma herança, e como não sei quando e onde a morte me espera (nem eu nem ninguém), resolvi escrever…

As cinco coisas que eu quero que façam quando eu bater a caçoleta:

  1. Não quero pessoas que me chatearam e me atravancaram a vida toda no meu funeral! Só porque fica bem comparecer, só para o povo não falar que x e y não vieram ao funeral, só para verem a minha fronha de morta. E depois dizem a mítica frase: era tão boa pessoa! Oh povo, sou tão boa como as outras todas e tão má como as outras todas também! Acreditem leitores, se alguém que me dificultou a vida tiver a ousadia de aparecer no meu funeral, faço como o meu amigo disse que faria, levanto-me do caixão e pergunto: mas que porra vocês estão aqui a fazer? Não seria a única defunta de certeza!
  2. Não quero flores, adoro que me ofereçam flores mas enquanto estou viva, depois de morta não vale mesmo a pena! É o que chamo desperdício de dinheiro.
  3. Não coloquem a foto do meu falecimento no jornal. Se todas as pessoas a quem deixei dividas e todos os meus ex namorados resolverem aparecer, não há igreja que sustente tanta gente triste e raivosa!
  4. Não quero que chorem por mim, chorar é saudável e imprescindível enquanto se vive bem a vida. Chorar por um defunto nem pensar! Esqueçam a missa de sétimo dia, enfeitar a campa, gaveta para os ossos, terço na mão, Pais nossos e avé Marias, estou-me a borrifar! A vida continua e há que aproveita-la com pequenos grandes momentos felizes, da melhor forma que pudermos e soubermos!
  5. Depois de ler os últimos quatro itens concluí que nem precisam de fazer um funeral! Já não faço parte da gloria portuguesa porque deixei de pagar as cotas, e um funeral mais rasca não fica por menos de 800 euros! Peguem no dinheiro e gastem numas ferias, quanto à defunta, eu, enterrem-me no quintal, ahhhh não tenho quintal, enterrem-me no quintal do vizinho, no parque mais próximo, deitem o corpo num poço, entreguem no hospital para doação de órgãos (se não estiverem todos podres), estou-me nas tintas! Depois de morrer, vá para o céu ou para o inferno (se é que existem mesmo) já não sinto nada, absolutamente nada, nem pretendo vir à terra assombrar ninguém! Deixem-me viver a vida como eu quero, agora, neste momento, enquanto ainda cá estou! Porque amanhã…amanhã ninguém sabe!