Cinderela, uma mulher de sorte – Laura Paiva

Conquistar um homem dá muito trabalho mas mantê-lo, ao longo dos anos, requer muita dedicação.
Caso contrário, a tentação do alheio torna-se real – a relva do vizinho é sempre mais verde do que a minha!

Nem todas as mulheres têm a sorte de ter um principe encantado, caído de joelhos sem qualquer trabalho, como a Cinderela.
Muito menos uma fada madrinha que, com um simples toque de varinha mágica, a transformou numa belíssima princesa.

O que aconteceria, no baile, se a Cinderela aparecesse toda esfarrapada?
E se bem vestida, com os seus ombros desnudados, ao levantar os braços para bailar, tivesse o sovaco cheio de pêlo?
Já imaginaram a cara do princípe se, ao calçar o sapato à Cinderela, visse nas suas pernas um matagal?
E se no primeiro beijo, o Príncipe ficasse todo picadinho pelo bigode da Cinderela?
Com uma montra assim, aposto que ele nem quereria ver o armazém!

Nós, mulheres reais, temos de fazer pela vida e os homens nem sonham os sacrifícios que fazemos!
Senão, vejamos, nada pode ser deixado ao acaso: os cabelos, as unhas, os pêlos, o calçado, a figura e… a roupa – e aqui temos a interior e a exterior!
Bem, no caso da roupa exterior é uma questão de embelezar o naco para que possa ser mostrado aos outros.
Quanto à roupa interior, e na grande maioria da vezes, ela é mesmo para tirar… No entanto, a sua existência é importante e não deixa de ser um instrumento de sedução.

Não sei porque é que os homens continuam a não perceber a relação que as mulheres têm com as compras e com os cuidados estéticos.
Afinal, só à Cinderela é que um par de sapatos foi capaz de lhe mudar a vida.

Se eu pudesse escolher entre um Princípe encantado ou uma fada madrinha… escolheria a fada madrinha, claro!
Os Princípes encantados não existem.

Crónica de Laura Paiva
O mundo por estes olhos