Como os homens vêm o amor – Da infância à velhice

Esta é uma semana marcada pelo amor. Esteja apaixonado ou não é impossível passar ao lado do Dia dos Namorados. E sendo esta data omnipresente o “Desnecessariamente Complicado” desta semana tinha de falar sobre o amor. Mas o “amor” é um tema demasiado vasto para ser abordado (poderíamos estar aqui até ao final dos nossos dias que mesmo assim o tempo não seria suficiente) como tal centrar-me-ei na visão que os homens têm do amor. Mas como a nossa visão do que realmente é o “amor” muda ao longo dos anos, este texto será dividido em várias fases. Obviamente que embora fale num tom genérico a opinião expressada terá sempre um cunho pessoal e dado que cada um é como cada qual é necessária cautela antes de generalizar.

Como bem sabem tudo começa em petizes. Esta é a fase onde não ligamos nada ao amor. Aliás nem sequer percebemos o amor! Achamos os beijos na boca nojentos e não compreendemos quem é que pode gostar de os dar. Sabemos que os bebés não vêm de Paris numa cegonha, contudo não sabemos ao certo como raio nascem as crianças. Para nós só a ideia de o amor pressupor que iremos passar o resto da nossa vida (pelo menos na teoria) com outra pessoa é suficiente para nos atormentar. Para ilustrar esta fase eu posso dar o melhor exemplo que conheço. Um dia em conversa com a minha afilhada perguntei-lhe: “Então afilhada, confessa lá aqui ao padrinho…já tens namorado?” E ela do alto dos seus 4/5 anos responde, muito calma: “Sim, padrinho, já tenho um namorado!” Eu, completamente surpreendido pela resposta positiva pergunto-lhe: “Então e o que é que tu fazes com o teu namorado?” Novamente muito calma, ela dá uma resposta que me desarmou: “Então padrinho, coisas que os namorados fazem: falamos e andamos de mão dada”. A essência do amor é isto mesmo. Falar significa comunicar, trocar ideias, gostos, opiniões, etc. E se falamos com aquela pessoa por alguma razão é. E depois o gesto de darmos a mão que simboliza o apoio, a confiança e a força que damos aquele outro ser humano. Claro que o amor é muito mais do que isto, mas esta é a sua verdadeira essência.

Chegamos agora à fase das descobertas: a pré-adolescência/adolescência. Esta é a altura em que finalmente começamos a perceber um pouco o que é o “amor”, embora continuemos a não perceber as mulheres (mas isso nunca perceberemos, seja qual for a nossa idade). As hormonas passam a estar sempre à flor da pele e estranhamente as raparigas passam a ficar muito mais belas aos nossos olhos. Passamos a querer impressiona-las nem que para isso tenhamos que nos atirar de um penhasco. Perto dos 18 já saíamos à noite, bebemos álcool (e já nem vou falar no resto) e o “jogo” do amor volta a mudar: já sabemos reconhecer quando ela o quer tanto quanto nós e como tal avançamos destemidos rumo a um futuro cinzento e rodeado de incertezas. Temos sonhos. E ilusões. Queremos sair daqui e viajar. Queremos viver ao máximo. Queremos agir sem pensar nas consequências. O mundo é uma janela de oportunidades.

Quando estamos ali entre os 23 e os 28 anos (e nos anos seguintes) já pensamos de outra forma. Continuamos a querer viver. E a ter sonhos e ilusões. Mas mais do que quantidade queremos qualidade. Já estivemos apaixonados e já sofremos a nossa quota-parte de desgostos amorosos, logo já aprendemos a ter cuidado e a não relevar demasiado a nosso respeito e daquilo que sentimos. Nesta fase as raparigas de 19/20 anos já nada nos dizem. Agora centramo-nos nos vinte e muitos ou nos trinta e poucos. É aqui que a mulher (e o homem) estão no seu auge. Ambos têm já alguma experiência de vida. Em condições normais já trabalham (ou pelo menos estão em vias de o fazer…isto se arranjarem emprego, claro está) e têm a sua independência. Esta é a idade onde tudo o resto conta mais do que a beleza. Já não procuramos uma modelo para passar uma noite, mas sim uma mulher com quem passar o resto da vida. Queremos alguém forte, determinado, confiante, de olhos postos no futuro e positivo. Mas a vida não corre bem para todos e como tal há alguns que conheceram mais baixos do que altos. Mães solteiras/divorciadas deste país só vos digo o seguinte: são os maiores exemplos de força, determinação e confiança que conheço, uma verdadeira inspiração dia após dia! E quem não vê isso não vos merece! Ponto final parágrafo!

Na meia idade já perdemos os sonhos e as ilusões. A dura realidade da vida já nos marca o rosto e a mente. Os filhos, se existirem, já estão a chegar à idade de sair de casa o que é simultaneamente uma bênção e um tormento. Uma bênção porque embora os amemos mais do que tudo o resto…já sentimos o peso da idade. E porque quem nos tira o nosso sossego, as nossas rotinas e as nossas manias tira-nos tudo. Um tormento porque o casal há décadas que vivia para os filhos. As rotinas, as conversas, os sucessos, os insucessos, as gargalhadas, as lágrimas eram ou dele ou para ele e não entre os membros do casal (salvo as normais discussões que marcam qualquer relação). Agora sem nada, nem ninguém, “entre eles” o casal terá de reaprender a viver a dois, mas mais importante do que isso, a amar. Porque se nós mudamos o amor tem obrigatoriamente de mudar. Esta é a altura em que a paciência, a compreensão e o amor um pelo outro será mais testado do que nunca. Se a relação sobrevive a esta fase arrisco dizer que apenas será separada pela morte, venha ela quando vier.

Chegada a velhice o ciclo completa-se e o amor regressa à sua verdadeira essência. Quer-se alguém com quem possamos falar. Quer-se alguém que nos dê a mão, juntando as suas rugas às nossas. Rugas essas que são a representação mais visível do passar dos anos, das experiências, dos risos, das lágrimas, dos bons e dos maus momentos, dos amores e desamores, dos abraços à beira-mar perante um lindo pôr-do-sol mas também das discussões onde cada um julgou ter razão. Voltam as brincadeiras inocentes e infantis. Os sorrisos simples e sem segundas intenções. Agora, mais do que viver intensamente, queremos é…viver. É tão simples quanto isto.

Mas seja qual for a sua idade, ou género, o que realmente interessa é que mais do que gostar dos outros goste…de si. Arranje o cabelo, coloque uma roupa bonita acompanhada daquele par de sapatos que até brilham, maquilhe-se, coloque perfume, e tudo o resto…para si! O segredo de ser feliz solteiro é gostar realmente de si. Se o fizer será sempre feliz, mesmo que não tenha a seu lado aquela pessoa com quem sempre sonhou.

Seja uma criança, um adolescente, um adulto a caminhar para os trinta, um senhor de meia-idade ou um “jovem” com mais de 65 anos desejo-lhe exactamente o mesmo: um bom Dia dos Namorados. Disfrute da companhia de quem está ao seu lado e mostre-lhe o quão importante é para si. Caso esteja sozinho nunca se esqueça do percurso que o conduziu até aqui e daquilo por que passou – é isso que o define!

Boa semana.
Boas leituras.

Crónica de Bruno Neves
Desnecessariamente Complicado
Visite o blog do autor: aqui