Como será 2015?

Quer-me parecer que paira no ar alguma incerteza quanto ao que se vai passar em 2015. Isto porque apesar de, na opinião de grande parte dos analistas, o Orçamento de Estado de 2015 deixar tudo na mesma, ao contrário das declarações dos governantes de que iria aliviar um pouco os portugueses, há a ideia errada que o “salvador” António Costa vem aí.

A ideia que se criou até pode agradar ao PS pois assim ganha simpatias e, no limite, votos, mas não corresponde à verdade. A verdade, nua e crua, é que as eleições legislativas, se a actual maioria parlamentar não ceder, continuarão a ser no final do ano. Ou seja, qualquer que seja o partido que ganhe as eleições, só tomará posse a tempo (ou já em cima do limite) de elaborar o Orçamento de Estado para 2016. Até lá muitas batalhas poderão ser travadas na Assembleia da República. Mas se continuar como até aqui, com a maioria parlamentar a fazer o que quer, independentemente do interesse nacional, a maioria serão derrotas.

Assim, vamos enfrentar, em 2012, um país com mais impostos apelidados de “verdes”, que aumentam os preços dos sacos plásticos vendidos nos supermercados, mas que, ao que parece, deixa as petrolíferas de fora, de tão “verde” que é. Vamos enfrentar um país que permite que as famílias com filhos deduzam em IRS o valor de facturas  de um vasto leque de áreas, mas com um limite por pessoa inferior ao limite que havia para despesas com saúde e educação, que agora fazem parte do “bolo”, do conjunto do que se pode deduzir. Vamos iniciar um ano em que os juros de empréstimos para habitação e rendas de casa deixam de poder ser deduzidos em IRS. Entre outros.
Para um governo que diz que a reforma de IRS beneficia as famílias com filhos mas não penaliza os solteiros, não entendo onde esta medida do apoio à habitação se insere, visto que acaba por penalizar todos, especialmente os solteiros que saíram de casa dos país para se tornarem independentes. Não creio que, no enquadramento económico actual, a maioria tenha dinheiro para comprar casa própria sem recorrer às instituições bancárias – que já nem emprestam com a mesma facilidade de outrora. Então, aqueles que podem compram, se a prestação ao banco for conveniente, ou arrendam casa. Em qualquer das situações, o Estado já não permite que as despesas com a habitação possam ser deduzidas em IRS. Qual é o incentivo aqui? Incentivo para voltarem a viver com os país? Ou acreditam que alguém vai casar e/ou ter filhos só para poder deduzir facturas em IRS, com um retorno que, por pessoa, nem chega a um salário mínimo? Pouco provável.

Crónica de João Cerveira