Comprar numa sex shop – Sandra Castro

Há dois motivos porque resolvi escrever sobre este assunto esta semana. O leitor deve estar a interrogar-se: Porra, ainda estou a digerir as rabanadas e o rabo do bacalhau e vem esta gaja escrever sobre  sexo novamente? Pelo amor de Deus, que Ele nem devia ser para aqui chamado! Calma leitor, desfrute calmamente da sua agua das pedras para curar a azia e a ressaca, e leia atentamente a minha crónica que é meramente opinativa e informativa e não é sobre sexo.

Primeiro, começo a ficar sem paciência para as pessoas, infelizmente ainda são muitas, que não encaram as sex shops como um tipo de comercio tão banal e normal como todos os outros. Alias, o comercio sexual contribui positivamente para o crescimento da nossa economia, além de todos os benefícios pessoais que são garantidos às pessoas que usufruem destes espaços. Segundo, acho que há escassez de sex shops de qualidade na cidade do Porto, e as existentes tem a minha pontuação negativa em decoração, produtos e atendimento aos clientes, ou seja, os três itens mais importantes para um estabelecimento ter sucesso.

Gosto de sex shops, isso não faz de mim ninfomaníaca, nem viciada em sexo, nem doida, nem exibicionista, nem tão pouco desesperada por dar uma queca, sou apenas uma gaja normal, que gosta de sexo como todas as outras mulheres, e que gosta de alguns artigos que vendem nestes espaços. Há cerca de cinco anos que sou cliente, obviamente que não sou uma cliente habitual, porque não compro vibradores ou lubrificantes todos os meses.

Esta semana fui à sex shop aonde vou habitualmente, e como detectei (já tinha verificado anteriormente) falhas existentes neste espaço comercial resolvi relatar esta experiência natalícia.

– Boa tarde, posso ajudar?

– Não, só estou a ver. Obrigada!

Dou uma volta pelo espaço para ver alguns produtos e a funcionaria vem atrás de mim.

Primeiro ponto negativo: É totalmente desrespeitador e aborrecido irmos a uma loja e termos o funcionário no nosso pé, então se for numa sex shop é grosseiramente mau, porque eu, como cliente, quero a minha privacidade enquanto escolho um artigo de uso tão pessoal.

É um espaço dividido em três partes, a entrada está muito bem decorada (embora se eu fosse a gerente não decoraria assim), depois temos uma sala bem aprumada, com produtos mais caros e ostensivos, que tem uma dupla função, tem consultas de sexologia. Aqui está mais dois pontos a desfavor, não deveriam fazer separação de produtos, porque quando um cliente entra não é pelo aspecto dele que sabem se vai gastar 20 euros ou 500 euros! As consultas de sexologia deveriam ser feitas em local mais reservado, acho um excelente conceito haver consultas de sexologia numa sex shop, mas a sala devia estar em formato gabinete para que as pessoas se sintam mais à vontade. A terceira sala não parece pertencer ao resto da loja, está desleixada em termos de decoração e exposição dos produtos.

Estou com uma caixa nas mãos e um funcionário aborda-me:

-Posso ajudar?

– …Pode…Estas amarras prendem bem?

– Sim, posso lhe mostrar.

O fulano tira as amarras da caixa e coloca-as no pulso para provar que eram de qualidade.

– Ah, e o chicote é igualmente bom?

Ok ok…este dialogo está um pouco estranho! Eu não tenho qualquer problema em falar sobre estes assuntos com as pessoas com as quais socializo, mas com um vendedor é mais dificultoso. O funcionário foi bastante profissional ao responder às questões que lhe coloquei, mas não deixa de ser caricata esta situação. Acho,sinceramente, que as clientes deveriam ser atendidas por mulheres e os clientes por homens, para ambos, cliente-funcionário, é mais fácil dialogar e é menos constrangedor.

Logo a seguir fui muito bem atendida por uma vendedora, cinquentona, com um excelente vocabulário, com um grande-à-vontade a explicar as funções de alguns produtos, experiente, simpática, dinâmica, sincera, qualidades necessárias para esta área.

Acho também que neste estabelecimento faltam funcionarias com boa apresentação. Exemplificando, eu sou um fulano e vou a uma sex shop comprar uma prenda para a minha querida esposa. Se eu for atendido por uma mulher bonita, elegante e boa como o milho até, que fale e se expresse bem, sem manias nem receios, eu não compro só uma prenda, compro logo duas e volto na semana a seguir!

Há imensos produtos sexuais, obviamente que uma sex shop, como qualquer outro negocio, não pode ter todos esses produtos concentrados numa só loja, mas como vendedora temos de ter especial atenção ao que o mercado procura, ter a certeza do que o cliente quer e precisa. Agora está na moda produtos bondage devido ao sucesso enorme da trilogia Cinquenta Sombras de Grey, portanto deveria haver uma maior aposta neste tipo de produtos enquanto a moda não desvanece, mas nesta sex-shop tinha apenas uns chicotes sem graça, umas palmatorias enfadonhas e umas vendas olhos comuns.

Os vibradores também ficaram aquém do desejado. Apesar dos preços razoáveis tem pouca variedade. Imagino que vai uma cliente a este estabelecimento, com vontade de comprar um vibrador tiger, formato mulato,todo xpto, ora ela não vai poder concretizar o seu desejo, a menos que a funcionaria a convença a comprar um outro vibrador, com 1000 rotações, a cliente vai ficar muito insatisfeita. Pontos positivos, lingerie e lubrificantes, têm para todos os gostos e bolsas, com grande variedade e boa exposição dos mesmos.

Outra moda que se tem vindo a verificar é a venda de artigos sexuais pela internet, confesso que já me senti tentada a comprar desta forma, mas realmente não é a mesma coisa. Obviamente para as pessoas mais tímidas será a melhor forma, mas já imaginou se encomenda umas bolas chinesas e quando a encomenda chega as bolas são maiores ou mais pequenas que as que viu no site? O que vai fazer? Trocar o raio das bolas? Mais vale dar as bolas para o gato brincar que eles gostam, e não fazem distinção entre bolas chinesas ou portuguesas!

Se o meu novo emprego der para o torto, se a crise económica deste país não me livrar do desemprego, eu já sei o que fazer, pego numa malinha cheia de produtos eróticos e lá vou eu, vender porta a porta!Truz truz truz…se eu bater na sua porta, caro leitor, o que é que vai comprar?

Crónica de Sandra Castro
Ashram Portuense