Comprei um Triciclo!

  Lá damos início a mais uma semana… o tempo voa… já se passaram quase 3 meses desde que começou este ano repleto de perdas, novos ciclos, atentados… Hoje venho falar de coisas divertidas, positivas (pelo menos para mim!) Pois é… Comprei um triciclo!

  Na verdade andava a testar a minha paciência de touro desde finais de Dezembro, altura em que surgiu esta oportunidade. Quem é touro cornudo sabe bem que quando se quer algo é para ontem ou, no mínimo, para já… não descansamos enquanto não conseguirmos e dormimos mal, ficamos obsessivo-compulsivos em modo loop constante pensando no nosso objetivo. Foi difícil… Mas finalmente, dia 19 de Março, concretizei mais um sonho. Foi especial porque neste dia recordo-me ainda mais do meu pai e do meu gato Gary, que infelizmente partiu também no dia do pai. Desta forma, presenteei o meu pai com a possibilidade de ver a sua filha única histérica de felicidade, a dar saltinhos parolos e a sentir-se como uma criança na noite de natal, com vista privilegiada, lá do topo do universo onde ele mora.

  Sempre tive assim uns gostos meios estranhos. Curiosamente, às vezes consigo concretizá-los. Posso demorar 10 anos para lá chegar mas isso agora não interessa nada. Por exemplo, o meu jeep favorito é o Lada Niva…Faz-me lembrar um Renault 5 alto e espadaúdo. Ninguém gosta do Niva mas eu adoro (por acaso ainda não consta das minhas aquisições…). Quando tirei a carta de carro, em 98, adorava o Twingo, azul-bebé… lindo! Parecia um sapinho. Consegui comprar um, o modelo antigo como eu gostava (cinzento) em 2008. Tardou, mas consegui comprar um carro que adorava e, principalmente, com menos de 10 anos, ao contrário de todo o meu leque de carros (o que é que posso dizer… sou uma gaja de clássicos!)

  Pois nutro semelhante gosto esquisito quando o assunto são motas. Adoro andar de mota. Tenho 20 anos de experiência como motard… mas à pendura! A única vez que havia tentado conduzir uma mota tinha talvez 12 anos e uma vespa azul em pavimento de gravilha. Escusado será dizer que, após acelerar e travar a fundo em simultâneo, fui diretamente ao chão! Não tinha ideia do que era um punho de acelerador e o facto de aquilo ter mudanças deu-me logo cabo do Tico e do Teco. Nunca mais experimentei… até agora! Sempre achei imensa piada às motas de 3 rodas, lá dizia para mim “olha, isto se calhar eu até conseguia conduzir”.

  Barcelona apela às motas… aliás, Barcelona grita motas! É, sem dúvida, a melhor forma de nos deslocarmos pela cidade, para ir para a praia, etc. Portanto, quando aqui cheguei comecei logo a trabalhar o novo objetivo… queria uma mota! Como com a carta de carro se podem conduzir até 125cc, lá comecei a ver o que havia de scooters (sim, porque mota de mudanças era muita coisa a aprender). Pois que, de repente, me lembrei da mota de 3 rodas de um vizinho que tive há cerca de 8 anos, uma Piaggio MP3. Lá comecei a investigar e ver o que havia e percebi que esta mota era a minha cara chapada… Eles têm uma versão, a LT, que está homologada como triciclo, tem pedal de pé e tudo, logo, quem tenha só carta de carro pode conduzir estes bichinhos apetitosos. Mas eram caras como o catano… na melhor das hipóteses, conseguia uma por um preço que considerasse aceitável, voltando aos clássicos, ou seja, uma moto com praticamente 10 anos. Aqui não existem muitas portanto a oferta de segunda mão é escassa e quando aparece um bom negócio são 500 mil espanhóis a um osso… Acabei por desistir da ideia (a muito custo), mas realmente eram caras e financeiramente também não era o melhor tempo.

  O natal tem destas coisas … caiu-me do céu (mais precisamente, de uma cidade a cerca de 80 km daqui) uma oportunidade única. Nem pensei duas vezes, era agora, era já. Tudo que eu tinha sonhado (acordada e a dormir). Preta, versão LT, de Janeiro de 2014 (nunca tive um veículo tão bebé!) e o extra de ser a cilindrada máxima que existe nestas Trikes, 500 de cilindrada… estava pronta a voar!

  Depois da tormenta da espera (porque a mota precisava de um arranjo, motivo pelo qual estava tão barata e basta dizer que, se a vender agora, ganho dinheiro… coisa que não vou fazer porque ela é “My Precious”), lá foi o meu querido D. comigo para a irmos buscar dia 19.O D. tem carta de mota e muita experiência e eu, experiência zero. Ainda acalmei os ânimos na garagem a sentar-me nela e fui para casa com a “babes” já em minha posse.

  No dia seguinte, cheia de entusiamo e com centenas de vídeos visualizados nos últimos 3 meses fizemo-nos ao parque. Aqui na zona há um parque enorme, equivale a 3 faixas e está sempre vazio, era o sítio ideal para eu experimentar e começar a aprender. Já ia a medo porque o bichinho pesa nada mais, nada menos do que 253 quilos, digamos que não é levezinha. Só posso dizer que o asfalto de Barcelona é igual ao de Portugal… duro, portanto.

  Não tardei 30 segundos a ir ao chão! Arranquei tranquilamente e com o coração a 120 batidas, acelerando na subida e depois, achei que devia descer. “Tenho de descer… ok… então tenho de curvar… curva à esquerda… abranda… ai que impressão virar… é melhor parar… ai que esta merda é pesada”… puf! Eu não caí, mas a mota sim. Felizmente optei por lesionar o pulso esquerdo (que ainda me dói) para abafar a queda da mota, que se encostou em câmara lenta ao asfalto. Alguns arranhões (na mota) mas nada demais. Lá vem o pobre D. a subir para me levantar a mota porque nem isso consegui fazer. São 253 quilos, pá!

  Com o apoio psicológico e motivador da minha cara-metade lá me sentei outra vez no bicho e tentei, tentei e tentei. Percebi, da pior forma, que curvas à esquerda são o meu calcanhar de Aquiles. Nesse dia lá consegui fazer uma curva à direita mas à esquerda…nem vê-las… Fazia umas quatro manobras a empurrar a mota com os pés para dar a volta.

  Hoje, dia 28 de Março (sim, porque só pratico aos fins-de-semana), já levo orgulhosamente com 2 horas de rodagem em parque de estacionamento, quedas apenas uma, curvas à direita umas quantas e à esquerda talvez umas três… Ontem, consegui ficar mais confiante com o peso da mota, perder o medo de me inclinar e até andei às voltinhas tipo o senhor do Poço da Morte mas em versão baixa rotação. As 3 rodas são, definitivamente uma vantagem, já o peso… intimida. Claro que espelhos, olhar para onde estou a ir, piscas e afins não existem para mim… vou sempre a olhar nem sei bem para onde, acho que para a frente da mota, como se desse para ver o que quer que fosse.

  Em resumo, lá para 2017 faço-me à estrada! Brincadeirinha, mas vai demorar algum tempo para me meter no meio dos carros. Convém-me conseguir fazer, pelo menos, uma rotunda sem me baldar para o chão, não é verdade?

Novo objetivo: A volta ao Parque em 120 dias.