”Congressando”: Um olhar sobre o XXXV Congresso do PSD

Findo o XXXV Congresso Nacional do PSD, que decorreu no Coliseu dos Recreios, pairam no ar as mesmas dúvidas de outrora, amaciam-se os mesmos egos, lambem-se as mesmas botas, corre-se no mesmo sentido e cai-se para o mesmo buraco. Ainda assim, o fim de semana correu bem.

No entanto, visando discernir sobre o contributo deste congresso para o futuro próximo do principal partido de governo e ante inúmeras precipitações e previsões sufragistas, importa analisar as intervenções que, a meu ver, indubitavelmente contribuíram para mobilizar a opinião pública, não só para o repto eleitoral que se avizinha mas também no que toca à apreciação global do trabalho dos sociais-democratas.

Em primeiro lugar, Passos Coelho, o querido líder, que pouco nos trouxe de novo. Sabemos da sua dedicação ao partido, da sua adoração por Miguel Relvas e dos trilhos que quer traçar para a economia portuguesa. Para além disso, sabemos da sua inequívoca preocupação com os assuntos que teima em não resolver, não por incompetência política, não por decoro partidário, não por afastamento ideológico nem tão pouco por entraves internos na coligação. Passos Coelho não resolve porque não o sabe fazer, porque talvez ninguém o saiba. Enquanto  espera por uma nova aparição divina, que é como quem diz ‘’Não caias António José Seguro ‘’, caminha lentamente e vai desbravando caminho, passo a passo, para sair de cabeça erguida, com o partido internamente unido e externamente honrado. Difícil.

Desta feita ao anúncio da candidatura de Paulo Rangel como cabeça de lista às eleições europeias, Passos Coelho aposta seguro, com aso a todas as interpretações. Por um lado, porque reconhece os inimitáveis dotes oratórios de Rangel e porque sabe que Francisco Assis é defunto político. Por outro, porque não lhe interessa afastar Seguro já, deixando a porta aberta a António Costa.

E se de Paulo Rangel se fala do mesmo se falará, principalmente depois da sua estrondosa intervenção no congresso. Pouco lhe importou chamar eleitores, ainda tem tempo para isso e, não fosse o seu porte a fazer lembrar uma pelúcia, mais valeria correr ao voto, antes que voem. Não obstante à sua calma,  a preocupação central no discurso de Rangel foi a de afastar os socialistas em crise existencial do próprio PS, digo mais, arrasar com as hipóteses de Seguro chegar longe no partido. E assim o fez, recorrendo ao calcanhar de Aquiles do secretário-geral socialista, esse que tanto quis colar a sua política aos homónimos europeus e a quem nunca lhe passou pela cabeça que nenhum deles a encontrasse, ou pior, que nenhum deles a quisesse. Nenhuma das propostas de Seguro foi incluída em nenhum outro manifesto socialista europeu, o que resulta numa espécie de humilhação de Seguro enquanto dirigente partidário à escala europeia. Por outras palavras, o descrédito total!

Por fim, o pai santo do PSD. Marcelo Rebelo de Sousa, já recuperado da birra por aparentemente ter sido afastado da corrida a Belém por um estapafúrdio perfil presidencial que Passos Coelho resolveu traçar qual suicídio, embarca no espírito do XXXV congresso laranja e resolve brindar a audiência com um discurso improvisado e munido de farpas e fagulhas que a muitas carapuças serviram.

Por um lado, serviu a Portas e aos restantes parceiros de coligação, se não mesmo a todo o CDS, pela ilusão que ao longo dos anos souberam perpetuar no seio do partido (do deles), a começar pela peculiar ideologia que apregoam ter, que não é mais que uma deturpação da Democracia Cristã, ou algo assim chamado mas muito pouco parecido. Serviu ao PS, que é o Pôncio Pilatos da história, a cada par de mãos que lava no final de cada um dos seus governos, tão idóneos e leais quanto os servos de Viriato, o Lusitano. Por fim, serviu também ao PSD, nomeadamente a Passos Coelho, para relembrar que Marcelo está vivo e que, quer queiramos quer não, detém pelo menos três bairros com hotel no monopólio que é a opinião pública.

Em tom de conclusão, o que retirei do XXXV Congresso do Partido Social Democrata foi muita confiança, confiança a mais até, não fosse o equilíbrio retórico que Rangel e Marcelo imprimiram ao congresso, um no ataque justificado a uma oposição desconcertada, outro com o porte natural de quem sabe ainda ter voto na matéria!