Conto Infantil – 10 de Junho – Patrícia Marques

«Perdi! Perdi porque não sou capaz. Porque te amo demais…»

Anónimo

 

Era uma vez um menino e uma menina, que se cruzaram via sapo. A escrita daquele menino despertou a atenção daquela menina pela maneira eloquente, sagaz, ponderada e envolvente. A menina tratou de saber se aquele menino teria um blog pessoal; e por sinal ele tinha mesmo. Interessava-se por coisas magníficas, e a menina esperou até ao dia em que se tornou dono de um projeto de escrita.

Certo dia, no seu blog, convidava todos para o 1º lançamento do seu 1º projeto. A menina acabou por conhecê-lo e as suas palavras pareciam embebidas em bálsamo assim que saíam da sua boca. Ela não acreditava naquela envolvência interior que sentia por aquele menino.

Assim que acabou a apresentação, a menina, egoísta, chamou-o e tinha um mar de questões para lhe fazer. Em direção à biblioteca onde comprara ‘Poesia e conhecimento’ de Fernando Guimarães, foram falando de assuntos poéticos, e por parte da menina, foi-se pensando em assuntos menos poéticos como o amor.

Tudo aquilo parecia estar em verdadeira harmonia, a menina quase se atrevera a roubar um beijo ao autor, mas não teve grande coragem. Ele parecia envolvido numa nuvem doce, onde se alguém tocasse o poderia magoar, em sinal de contemplação.

A menina, contra a vontade, despediu-se do menino e acabou-se por ir embora.

Certo dia, um tempo mais tarde, veio a existir a apresentação do projeto escrito do menino, desta vez em Coimbra. A menina, insistentemente pediu aos pais se a poderiam levar a Coimbra, para assistir à apresentação.

O menino como cavalheiro que era, assim que findou a apresentação, andou com a menina, estrada fora, e falaram de tudo e mais alguma coisa. A fome, o frio, o escuro, o final do dia nem se notara naquele momento genuinamente ensurdecedor. A despedida, a despedida mais uma vez foi a parte mais dolorosa, porque os olhos não esquecem o que o coração já pensou; porque a mente relembra e retém o importante e o especial.

A certa altura, e depois da menina chatear muito o menino, combinaram por alturas do Natal, jantarem juntos. Retorquiram-se frases, atualizaram-se informações de ambas as partes, até que o menino foi levar a menina ao Inatel mais próximo da região, onde estava instalada.

A menina convidou-o a tomar um chá mas o menino não quis. E aí sim, ela tentou roubar-lhe um beijo, mas não o convenceu do seu amor por ele. E por isso mesmo, o menino foi-se embora e a menina foi descansar de tudo o que se passara naquela noite.

Desde então falaram-se mais uma vez, agora pelo Carnaval. A menina convidou-o para vir até sua casa, mas o menino estava muito longe e não pôde comparecer.

A menina tinha o seu número, ele dera-lhe, mas entretanto deixou de o ter, porque perdeu o telemóvel; aliás a menina já perdeu dois telemóveis…

Ela gosta muito dele, mas sabe que a reciprocidade no amor é muito importante; ela própria gostaria de lhe dizer que ele é especial na sua vida, por outro lado, ela sabe que nada mais se pode esperar… ontem foi dia 10 de Junho, dia de Portugal e de todas as famílias que ainda não abandonaram a capacidade de sonhar e de serem um pouco mais felizes neste mesmo país.

Crónica de Patrícia Marques
Um lugar ao Sol