Contratações ou reforços?

Com o Mundial quase no fim, e com mais de 10 milhões de pessoas a não se quererem lembrar que tal competição existiu, é tempo de defeso. Como tal, as especulações, os vai não vai, os nunca esteve interessado, os queria vir mas foi desviado, vão estar presentes pelo menos até Setembro, ou seja, tudo o que um bom Verão tem de ter para ser interessante e nada monótono. Todavia, com todos estes “fait-divers”, há também consumações, compras de jogadores e vendas efectuadas. É aqui que surge a dúvida. Os jogadores que chegam serão reforços ou contratações?

Apesar de parecer algo óbvio, ou até redundante, o certo é que são termos distintos que muitas vezes são usados para se referirem à mesma coisa, a aquisição de um jogador por parte de uma equipa, neste caso, de futebol. O que pretendo desmistificar, ou tornar mais clarividente se preferirem, é a sua distinção, a diferença que há entre uma contratação e um reforço. Aspectos diversas vezes confundidos e que, na maioria das vezes, passam uma ideia errada a quem está de fora.

É importante começar pelo inicio e tentar perceber o que acrescentará o jogador à equipa em questão. Se vier para fazer número, se apenas tiver sido contratado para alguma eventualidade, se for um miúdo que precisa de evoluir, se vai ser emprestado ou se simplesmente é uma jogada de um empresário, então poderemos afirmar à priori que é uma contratação. Isto acontece porque é, de facto, um jogador novo no plantel, um jogador que ainda não havia actuado pela equipa e que veio de outro clube, posto isto, podemos constatar assertivamente que é uma contratação, porque foi contratado – pleonasmo necessário – . No entanto é aqui que normalmente se dá o erro. Em todos os jornais, sites ou mesmo em programas desportivos, os jogadores que são contratados passam a ser chamados de reforços. O que é errado, tremendamente incorrecto e enganador.

Um reforço é alguém que vem reforçar a equipa, que vem para suprir lacunas, para colmatar falhas, para ser preponderante ou que vem simplesmente para assumir um papel fulcral na manobra da equipa. Isto sim é um reforço. Não se pode dizer que todo e qualquer jogador que vem do “jacaré de paysandu” ou coisa que o valha, seja uma mais-valia para a equipa. Não é o valor monetário que está em causa e muito menos é ele que define o que quer que seja,o que o faz, é sim o papel e a preponderância que terá. É certo que muitas vezes só se sabe o que o jogador vale na realidade depois da pré-época, que por vezes é enganadora, e de um começo de temporada, por outro lado, a verdade é que muitas vezes, olhando para o plantel, para o perfil do treinador, para o próprio perfil do jogador, para o esquema táctico e um pouco para o seu passado, poder-se-á saber se é, ou poderá ser, efectivamente um reforço.

A vulgarização da palavra far-nos-á cair num cenário em que qualquer nova aquisição se tornará automaticamente um reforço e com isso tudo o que a palavra acarrecta, o que terá evidente influência no que os adeptos esperam. Assim sendo os sócios, adeptos e simpatizantes vão ficar, ou continuar, na ignorância pela imagem que é, quase sempre,  passada pela comunicação social. Se pegarmos no defeso presente, podemos constatar que o Benfica está a contratar muito, mas não se está a reforçar bem, uma vez que, os jogadores que vieram em pouco ou nada superam os antigos, pior, muitos deles são incógnitas sem lugar certo no onze ou no próprio clube. Isto tudo num plantel que está em debandada quase geral, logo torna-se grave. É apenas um exemplo ilustrativo da importância de uma expressão que vem enganando as maiorias durante anos a fio, muito por culpa dos media formadores de opinião pública que, no fim de contas, acabam por enganá-la. Como se diz, e bem, na gíria portuguesa, “tratemos os bois pelos nomes”. Um reforço é um reforço e uma contratação uma contratação.