As conversas que não existem

Perdeu-se o hábito de falar com os outros. Perdeu-se o hábito de ouvir os outros. Perdeu-se o respeito pelos outros. Perdeu-se o sorriso nos lábios, o olhar sereno. Perderam-se valores importantes.

Cada vez mais as pessoas estão concentradas no seu mundo – no que eu tenho de fazer, no  que eu gosto, no que eu quero, no que eu preciso – e não há um minuto para olhar à volta e ver o que as rodeia.

Quantas vezes andei de metro, por exemplo, e observei os outros sem lhes dizer nada? Os bons dias que fossem? Diferentes tipos de pessoas que se encontram naquele transporte e não se falam entre si. Existem os que vão de auscultadores nos ouvidos. Existem os leitores que se perdem nas letras infinitas. Existem os que ao telefone falam para todos os que queiram ouvir e também para a pessoa do outro lado da linha. Existem os que adormecem e ficam por momentos no mundo dos sonhos. Existem os que simplesmente observam, olham para tudo e para nada. Existe tanto e tão pouco, tudo misturado numa carruagem de metro.

O tempo corre e conversas importantes ficam no esquecimento. Quando nos apercebemos já não há tempo ou não valerá a pena falar.

Que é feito do estar frente a frente entre as pessoas? Do olhar olhos nos olhos?

Hoje em dia é tão fácil falar via sms, via chat, estando “escondido” atrás de um ecrã e um teclado. Não que essas conversas sejam más ou não devam existir – eu própria as tenho –, só que essas conversas, esses 5 minutos de conversa só para saber se está tudo bem, não passam disso.

Porque será que nos sentimos protegidos atrás de um computador? Será o facto de não ser preciso mostrar como se lida com as opiniões positivas e/ou negativas? O comportamento da pessoa pode dizer tanto é certo, mas o contacto pessoal faz falta. Depois dizem que as pessoas não conseguem olhar nos olhos dos outros. Se os olhos falassem, diziam tanto!

Contra mim falo ao escrever este texto. O tempo corre e quando dou por isso o contacto com algumas pessoas é quase inexistente, simplesmente porque não existiu tempo para aquele café prometido há imenso tempo para por a conversa em dia. As preocupações do dia a dia levam a melhor e fácil juntar no computador tudo o que preciso fazer – procurar trabalho, ver as notícias, falar com alguém.

E se muitas vezes nem com amigos e familiares conseguimos falar pessoalmente, como iremos falar com desconhecidos? Tarefa impossível para mim há uns tempos atrás. Actualmente, com a necessidade que surgiu em estágios durante a faculdade e as poucas experiências profissionais, posso dizer que me sinto mais à vontade. Mas é à vontade, não à vontadinha. Parece parvo…

Mas a verdade é que quantos de nós mete conversa com alguém que não conhece? Seja no supermercado, nos transportes públicos, no parque, onde for? Serão assim tantos? E ouvir esse alguém? Ou sorrir? Tomaremos alguma destas acções para desconhecidos? Assim do nada?

Quantas notícias se ouvem sobre uma troca de palavras mais acesa que levou a uma acção violenta por parte de algum dos intervenientes? O stress, a complicação que muitas vezes é a vida, leva à falta de paciência, à má interpretação das coisas. E a resposta que se tem para isso é a violência. Não há uma palavra antes, um tentar perceber a situação, o ponto de vista. É o marido que mata a mulher porque pensa que ela o traía. É alguém que saca duma navalha e esfaqueia o outro porque não gostou da resposta ou do encontrão que levou. É o aluno que é mal-educado e agressivo do nada e que muitas vezes tem problemas em casa. É a troca violenta, agressiva e mal-educada de palavras via facebook ou sms, sem muitas vezes dar a cara. É tudo junto e a paciência que se esgotou. O discernimento para compreender, para tentar perceber os outros, acabou. O que interessa é a minha opinião, se quiseres aceitas se não quiseres mais vale ires embora para não levares um murro. Não há trocas de ideias, há troca de violência.

Na escola, lembro-me de fazer alguns debates (não seria bem o nome, nem fiz muitos, mas a palavra resume bem a ideia): uma turma dividida em dois ou três grupos e cada grupo tinha de defender um ponto de vista mesmo que não concordassem com ele. E com esta “brincadeira” dá para perceber que mesmo não concordando por vezes, é necessário respeitar, primeira a própria pessoa e depois o seu ponto de vista. Porque se me sentar com alguém frente a frente, não sei quais são os seus ideais e/ou valores, mas sei que tenho de respeitá-los, tal como quero que respeitem os meus. Posso mostrar o meu ponto de vista, mas não forçá-lo a aceitar.

Contudo a conversar é que a gente se entende…

Sorriam com os olhos, como me disseram uma vez.

Mostrem um sorriso a quem vai ao vosso lado.

Conversem.