Coração que Educa, não Caduca.

Chamam-nos Educadoras.

Ignorando papéis timbrados que com toda a pomposidade referem que somos Arquitectas, Professoras, Assistentes Sociais…chamam-nos Educadoras.

Ao entrar cheira a limpo. Aparece uma e outra menina, e num olhar e chamada de atenção, percebemos que aquela é uma casa de emoções. Claro está, não fosse ela uma casa de crianças e acima de tudo, de meninas mulheres.

As crianças cheiram a suor. De vez em quando ganham piolhos e têm o hábito de tirar comida dos dentes com os dedos e limpar à roupa…lenta e discretamente, um segundo antes de olhar em volta enquanto procuram alguém que tivesse visto o acto em flagrante.

As crianças gritam. Por tudo e por nada, por barulhos ou olhares, porque simplesmente ninguém percebeu que naquele dia alguém as deveria ter ido buscar para um passeio e não apareceu, porque simplesmente a Mãe que nunca conheceram morreu e elas não sabem o que a Morte significa.

As crianças maltratam. Riscam e partem, desarrumam e sujam; móveis, roupa, toalhas, a nossa roupa, o chão do recreio, as cadeiras do refeitório. Chamam-nos incompetentes sem conhecer claramente o valor da palavra, fazem-nos sentir “Educadoras” pequenas e incapazes perante tal tarefa, a de educar quem não saiu do nosso ventre, mas quem todos os dias nos leva o nosso tempo.

No meio do caos de tantas vidas interrompidas, damos conta de algo que nos devolve tudo o que é perdido num dia, tudo o que esgotou a paciência e a força física, tudo que nos esvaziou a boa vontade, que nos inibe nas acções de carinho: O aconchego.

E no espaço de um minuto, enquanto percorremos os quartos e distribuímos beijos de boa-noite, o suor passa a cheirar a cabelos escovados e dentinhos lavados. Os gritos dão lugar ao silêncio, ainda que interrompido por sussurros e piadas abafadas, e os maus-tratos perdem o jogo para o beijo que antecede um abraço.

“A Catarina amanhã vem? – Sim Maria, amanhã venho.” E era aí que queria chegar, à pergunta que tem apenas 4 palavras, mas que diz muito mais, e que acima de tudo faz com que voltemos no dia seguinte. De sorriso em punho, e como se nada nos tivesse assoberbado o coração há 24 horas atrás.