Crise na Venezuela

A Venezuela vive uma crise gravíssima a vários níveis. A economia está paralisada, a justiça tem sido alvo de imensas críticas até a nível internacional e existe risco sério de rutura social.

A crise de Caracas não tem merecido a importância devida por parte da imprensa nacional e europeia. Lá, na Venezuela com um pretenso regime de República Bolivariana e socialista, a governação “por decreto” autorizada pelo parlamento local ao presidente Nicolas Maduro permite a tomada de decisões imensamente impopulares e arbitrárias. A inflação atinge valores que rondam os 100%, dando lugar à especulação desordenada de preços de bens vendidos no “mercado negro”. Existe escassez de diversos produtos essenciais para a vida do quotidiano. Esta situação desenrola-se há alguns meses, porém tem piorado no último mês que passou.

A ocorrência de várias detenções feitas pelas autoridades a figuras proeminentes da oposição política venezuelana tem colocado em causa a confiança de grande parte da sociedade nas autoridades e instituições democráticas de Caracas. Antonio Ledesma, alcaide de Caracas, está preso há mais de um mês, enquanto que Leopoldo López (detido por incitação a desobediência civil), está há mais de um ano detido. Outro antigo “preso político”, Henrique Capriles, candidato da oposição venezuelana vencido por Maduro pela margem de pouco mais de um ponto percentual, tem transmitido a mensagem à comunicação social de que a oposição tem interesse em firmar acordos com o governo de Maduro.

O ex-presidente do México (2000-2006), Vicente Fox, acusou o Presidente Nicolas Maduro de limitar a liberdade de expressão na Venezuela e de colocar em causa direitos humanos, e afirma que os líderes da América Latina e da União Europeia devem levantar a sua voz contra o que se tem passado. Fox apelidou Maduro, o sucessor do falecido ex-presidente venezuelano Hugo Chávez, inclusivé, de “ditador”.

Ao apelo de Vicente Fox responderam já dois nomes de peso incontestável: Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente do Brasil, e Félipe Gonzalez, ex-primeiro-ministro de Espanha. Ambos advogam a encetação de negociações entre as duas partes na Venezuela, fraturada por eleições presidenciais cujo resultado foi de menos de 51% dos votos para o atual presidente Maduro, e mais de 49% para o derrotado Capriles. Já Ricardo Lagos, ex-presidente chileno, afirmou que a Unasur, comunidade de países sul-americanos, deve fazer sentar à mesma mesa elementos do governo e oposição da Venezuela.

Tal como no Brasil, onde a disputa eleitoral vencida à tangente pela presidente Dilma Rousseff foi demasiado renhida para facilmente existir pacificação e social, a Venezuela verifica as consequências de um ato eleitoral fraturante. Sendo certo que a oposição agitou a Venezuela, pelo menos em parte, Maduro parece ser o principal responsável da alta volatilidade dos preços, falta de condições e bens essenciais para a vida das pessoas, insegurança e criminalidade acentuadas, justiça impopular e detenções arbitrárias de figuras da oposição. Maduro não consegue reunir as sociedade venezuelana à volta de um paradigma, ao contrário daquilo que Hugo Chávez, apesar de tudo, conseguiu.

Nunca a Venezuela viu tamanha instabilidade social, económica e política, que conseguiu crescimento económico e alguma paz social com mais de dez anos de Hugo Chávez a liderar o Palácio de Miraflores. O Partido Socialista Unido da Venezuela, de Maduro e do falecido Chávez, hoje em dia é uma pálida imagem do partido que inspirou alguns teóricos socialistas em criar uma “Quinta Internacional”; os mais recentes acontecimentos fazem temer o pior nesse país de pretenso regime de socialismo bolivariano parece mesmo ter os seus dias contados.