Crónica Anónimos como nós

Há cerca de um mês atrás, num começo de noite solitário e atribulado, eu tive um pensamento, uma ideia de fazer uma crónica diferente. Todos nós temos sempre algo a dizer, uma confissão a fazer, uma história de vida para partilhar com quem nos quiser realmente ouvir. Pensei na quantidade de pessoas que conheço que têm histórias de vida fascinantes, acontecimentos tristes e momentos felizes…e se eu partilhasse essas histórias com os leitores? E foi assim que surgiu a crónica: Anónimos como nós.

Nenhum anónimo é entrevistado aleatoriamente, mas a minha primeira “vítima” (eh eh eh) foi um género de plano B, que acabou por resultar numa entrevista intimista e sobretudo sem qualquer tipo de pudor ou tabus.

Define-se como uma pessoa rara, com uma mentalidade muito aberta e uma forma de pensar muito própria em relação a vários aspectos da vida humana.

Acha que a sua forma de pensar é a mais correta, porque como ela própria exemplifica: No sexo porque é que tem de ser um homem e uma mulher? Não entendo porque é que uma mulher tem nojo de estar com outra mulher e o homem não consegue estar com outro homem. Devíamos ser todos bissexuais.

(Fuma um cigarro enquanto fala)

É casada, mas o companheiro não partilha a mesma opinião. O sexo foi-se alterando naturalmente ao longo dos anos do matrimónio, mas melhorou depois de uma breve separação. E é essa fase intensa que predomina na entrevista.

Foi através das redes sociais que ela promoveu vários encontros, cujo objectivo era sexo. Apenas sexo. No dia em que se inscreveu marcou logo dois encontros, e nesse mesmo dia teve sexo com dois homens diferentes.

Tive de digerir bem as palavras, quando ela disse que a maior parte dos homens eram casados. Em conversas pós-coito eles diziam que amavam as esposas, mas que gostavam de ter outras mulheres fora da relação. E se as esposas também tivessem estes encontros casuais, não havia problema, desde que eles não soubessem. Hum…tenho sérias dúvidas desta afirmação masculina.

O ménage a três, assistir dois homens a comerem-se (frase que ela pronuncia com alguma malícia), uma rapidinha no capô do automóvel, foram algumas das fantasias que ela experimentou nesta fase. “O meu objectivo numa relação sexual não é ter um orgasmo, claro que se o tiver melhor, mas o meu objectivo é ter prazer. Orgasmo é prazer. Prazer não é orgasmo.”

Ao contrário do que todo o mundo pensa, ela disse-me que o mais importante sexualmente não é o físico, mas sim o click.

Oh sim…já tinha ouvido falar no famoso click, o tal que pode acontecer mesmo que estejamos perante uma pessoa que não nos atraia fisicamente. Mas que acaba por seduzir com a sua forma de estar e falar.

Então a probabilidade de o click acontecer a uma pessoa casada devia ser menor! Ripostei eu com algum desconforto nervoso.

Ao que ela me respondeu: a traição só não acontece por falta de oportunidades.

Uau…uma frase que doí de tão real que é!

Respondeu afirmativamente à questão que lhe coloquei a seguir, se ela já tinha traído. Não está arrependida pois assegura que a traição já faz parte da natureza humana.

“Podemos ser fieis mesmo estando com outras pessoas. A fidelidade está na cabeça das pessoas. Eu posso estar com outras pessoas e amar o meu marido.”

(Começa a cantar a música Ninguém é de ninguém de João Pedro Pais)

E o amor no meio disto tudo, eu podia dizer no meio desta orgia, mas já são palavras sexuais a mais, como fica? Como funciona o amor desta forma?

E ela disse-me talvez uma das frases mais bonitas e verdadeiras que ouvi até hoje: O amor devia ser liberto, mas ao invés disso, o casal têm de se moldar um ao outro. Um tem sempre que ceder e há um que perde sempre. Ter outras pessoas é um investimento positivo para o casamento.

(Engoli em seco)

Positivo? De que forma é que a pessoa que está a ser traída vai ser beneficiada?

Ela explicou-me como pessoa sábia que é que, quando tens sexo com outra pessoa, sem o conhecimento do teu marido, ficas mais fogosa e com mais vontade para fazeres amor com ele. Porque com o companheiro é amor, mas com outras pessoas é sexo. A parte do amor é melhor, mas a rotina, a monotonia, o saber de trás para a frente e de frente para trás como vai ser, tira a pica toda.

Confessou ainda que as mulheres eram estúpidas. As mulheres são dominadoras com os amantes e passivas com os maridos, mesmo sabendo que os homens gostam de mulheres que dominem sexualmente. Como ela exemplificou na perfeição, quando ela estava com um homem casualmente, iniciava o sexo sempre com sexo oral, e isso provocava-lhe uma enorme excitação e satisfação. Mas com o marido não fazia.

Leitores, querem saber qual foi a resposta dela à pergunta se amanhã tivesses oportunidade de trair o teu marido fá-lo-ias? É simples. A resposta foi…não.

Entrevista e Crónica de Sandra Castro