Crónicas Minhas – Estranho

Dizer que uma coisa é estranha é o contrário de dizer que uma coisa nos é familiar.
Um bom exemplo, entre a diferença entre o estranho e o familiar, é o novo acordo ortográfico.
Para o novo acordo ortográfico, os factos deixam de ser factos, e passam a ser fatos. Os fatos continuam a ser uma peça de roupa que pode ser utilizado ao fim-de-semana. Que deixou de ter hífen.
Para quem está familiarizado com o modo como sempre se escreveu, é estranho ver e perceber, que as pessoas que dantes davam erros ortográficos, com este novo acordo agora escrevem correctamente. Resumindo, esta é uma excelente fase para que as pessoas que dão erros ortográficos passem a escrever bem. Talvez até mesmo ícones da literatura.
Em compensação, já consigo imaginar os grandes nomes da literatura portuguesa, a remexerem-se na sepultura sempre que perceberem que a língua portuguesa está cada vez mais brasileira.
Aliás o Brasil parece que passou de colono a colonizador, não era mais fácil cada um manter as suas ideologias e regras ortográficas em vez de estarmos a dar “facadinhas” na nossa literatura.
Imaginem os contos infantis começarem com “Era uma vez um guapo…”, ou então, substituírem o famoso “Olá, tudo bem?!”, pelo igualmente famoso “Oi, tudo bom?!”. Não é que exista aqui, neste texto algum tipo de xenofobia, longe disso!!! Aliás, se o objectivo aqui fosse criticar, os únicos criticados são mesmo, os responsáveis pelo novo acordo ortográfico, porque tiraram á nossa língua, toda a essência do ser português, cortaram as palavras aos velhos mestres da nossa literatura e as novas gerações nunca saberão que em tempos, concepção tinha um “p” a mais, aliás, metaforicamente falando, o novo acordo ortográfico é um anticonceptivo muito eficiente contra letras indesejadas.

Crónica de Teresa Isabel Silva
Crónicas Minhas