Cúmplices na morte – Mundo ao Contrário

Na vila Italiana de Falciano del Massico é proibido morrer. Como a vila não dispõe de cemitério, e o cemitério da vila ao lado (onde os mortos eram enterrados), já não tem vagas. O líder da câmara Giulio, Fava, tirou da cartola esta fantástica solução, e aprovou uma lei que proíbe os habitantes de morrer.

A aprovação desta lei mostra-nos que dependendo da nossa posição politica conseguimos fazer passar qualquer que seja a estupidez proposta. E mostra acima de tudo a vulgaridade como o poder politico, um pouco por todo o mundo encaminha as nossas vidas. Fazendo passar uma lei que vale pela sua publicidade.
Da forma como a politica é apresentada cada vez mais como um espectáculo,  já não me vai espantar nada o dia em que o Batatinha se assumir como candidato a primeiro ministro, e consiga liderar o país fazendo uma coligação com outro partido liderado pelo Companhia. No âmbito desta visão do inferno,  consigo ainda imaginar este governo escolher o Paulo Futre para ministro dos negócios estrangeiros, o Zé Cabra para ministro da cultura ou até mesmo Os Homens da Luta para ministros da solidariedade e segurança social.
O que se calhar não espantava no meio disto tudo é que um governo destes funcionasse melhor.

Giulio Fava aprovou, está aprovado, está em vigor. Mas já há prevaricadores – esses bandalhos não cumpriram a lei e morreram. Eu não sou advogado, mas em Itália não deve ser diferente e quem assiste os prevaricadores, é também ele prevaricador, por isso só espero que ninguém tenha ido a esses funerais para não correr o risco de ser cúmplice. Se a moda pega no resto do mundo, vamos ter de construir uma nova força policial, talvez uma ASAE dos funerais, gente que se infiltra apenas para surripiar o Livro de Condolências, para que depois os cúmplices em vez de receberem uma carta em casa a agradecer pela participação no funeral, recebam uma intimação como arguidos para serem ouvidos por cumplicidade.

 A ideia de proibir a morte não me espanta nada, mas o que me deixa realmente chocado é o facto desta lei não ter sido inventada em Portugal. Esta é uma lei que tem Portugal escrita por todo o lado, parece que estou a imaginar:
Cenário – Gondomar, véspera de eleições autárquicas.
Candidato à Presidência – Eu prometo, caso seja eleito presidente da câmara, que em Gondomar vai ser proibido morrer, e quem não morrer ainda ganha um frigorífico novo.


Crónica de Miguel Bessa Soares
Mundo ao Contrário