Quem Dá Mais? – O Melhor Programa de TV de Sempre

Deixem-me adivinhar: já nem sabem o tempo que passou desde que um programa de televisão vos conquistou por completo, e vos deixou ansioso para que chegasse mais um episódio, certo? Eu logo vi. Mas não se preocupe que não é o único nessa situação. Sejamos sinceros, a maioria de nós deixou de ver televisão no início da segunda edição portuguesa do “Big Brother”: percebemos o conceito, o quão repetitivo seria e o quanto o mesmo não nos iria interessar. Basicamente mudam as caras (e às vezes nem isso)! Entretanto as séries tornaram-se mais populares que nunca (e parece que todos os anos surgem séries ainda melhores e mais viciantes que as anteriores) e os programas de televisão perderam o seu “lugar”. Contudo, esta semana trago ao “Desnecessariamente Complicado” um programa que, certamente, será o vosso novo vício: “Quem Dá Mais?” (ou, no original, “Storage Wars”) do Canal A&E.

Nunca ouviram falar deste programa? Como não? Vocês andam desatentos! Este programa é, sem sombra de dúvida, o mais recente fetiche televiso dos Estados Unidos da América (EUA) e, por conseguinte, também de Portugal. Mas o que é afinal o “Quem Dá Mais”? O conceito é bastante simples: imaginem que várias garagens (ou depósitos/cacifos como são chamados nos EUA) tinham sido deixadas ao abandono. Em Portugal ficariam eternamente ao abandono, contudo, nos EUA, esses depósitos são leiloados. Ou seja, é contratada uma empresa para leiloar esses locais e tudo o que eles possuem. Aquilo que, à primeira vista, pode parecer aborrecido e desinteressante é, em boa verdade, a profissão mais entusiasmante de que há memória. O programa acompanha várias pessoas cuja vida é dedicada, como já devem ter suspeitado, a este ramo de negócio.

“E quem são essas pessoas?”. O caro leitor pergunta bem, e eu irei responder-lhe, mas antes tenho de lhe dar uma outra informação. Existem várias versões deste programa: a original, a que se passa no grande Estado do Texas e a que tem lugar em Nova Iorque. Cada série tem o seu próprio elenco, obviamente. E por falar em elenco, vamos então apresentá-lo.

Comecemos por Jarrod Schulz e Brandi Passante. O casal mais jovem de toda a série possui uma loja, “Now and Then”, no Estado da Califórnia (podia dizer muito mais sobre este tópico mas isso seria estragar a experiência para quem tenciona começar a ver esta série). Em Abril de 2012 estreou o programa “Brandi & Jarrod: Married to the Job”, que incide apenas sobre a vida do casal, e a difícil gestão entre a loja que possuem, os leilões de depósitos e a vida familiar.

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Agora é a vez de Darrell Sheets . Sheets é um veterano dos leilões em San Diego. Geralmente faz-se acompanhar do seu filho, Brandon, e tudo o que adquire vende posteriormente online. É conhecido como “O Jogador” e foi quem nas várias temporadas descobriu os maiores tesouros de toda a série (pelos motivos enunciados acima não darei mais detalhes).

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Tempo para falarmos do polémico Dave Hester. No início da série, Hester era proprietário do Newport Consignment Gallery, em Costa Mesa, Califórnia, e do Rags to Riches, mas ambas as lojas faliram em Junho de 2011. Actualmente possui um novo negócio a que chamou, Dave Hester Auctions. Dave é conhecido por ser conflituoso, arrogante, por licitar quase sempre no último segundo possível irritando todos os restantes licitadores e, acima de tudo, pela frase que sempre usa: “YUUUUUPP”. Em Dezembro de 2012 foi demitido, acabando posteriormente por processar os produtores do programa. Contudo acabou por chegar a acordo com o canal A&E e regressou para a 5ª (e 6ª) temporada(s) da série.

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Próxima figura de destaque: Barry Weiss. Weiss e o seu irmão foram empresários de sucesso, e Barry havia sido, em tempos, também produtor musical, até que chegou a idade da reforma. Ora Barry sempre foi um coleccionador de antiguidades, contudo nunca tinha comprado um único depósito em toda a sua vida. Isto até ao dia em que o seu amigo (e então produtor executivo do programa) Thom Beers o convidou para fazer parte do reality show. Durante quatro temporadas foi um dos destaques do programa, contudo no dia 25 de Junho de 2013, foi relatado que Barry não iria voltar para a 5ª temporada. Em Fevereiro de 2014, o A&E anunciou que Weiss iria ter direito à sua própria série sobre antiguidades, intitulada “Barry’d Treasure”.

Quem Dá Mais?

Por fim resta apresentar Dan Dotson e Laura Dotson. O casal de leiloeiros executa, e administra, os leilões da série original do programa (cada série tem os seus próprios profissionais). Dan é leiloeiro profissional desde 1974, contudo, de vez em quando, cede a sua função à esposa, Laura. Uma das frases mais emblemáticas do programa pertence a Laura: termina sempre os leilões dizendo “não se esqueçam de pagar à senhora!”.

Ao longo das diversas temporadas do programa vamos conhecendo outras pessoas, contudo estes podem ser conhecidos como “os originais”. Foi com eles que começou a série e serão sempre os que têm maior destaque.

Agora é tempo de explicar as regras dos leilões. As regras são poucas e muito simples. Primeiro: as vendas são todas a dinheiro. Ou seja, os apostadores devem ter sempre em mente o valor que está nas respectivas carteiras, senão…vão ter problemas! Segundo: os licitadores não podem entrar em nenhuma das garagens. Também não lhes é permitido que toquem nos objectos no seu interior ou que os adulterem de alguma forma. Se tal suceder serão excluídos do leilão. E por último quem vencer o leilão passa a ser o dono de tudo o que estiver no interior da garagem (e tanto podem ser objectos de muito valor como de valor nenhum). E estas são as regras. Simples, não?

Os episódios seguem sempre, regra geral, o mesmo formato: primeiro somos confrontados com a localização do leilão daquele episódio; depois temos imagens dos licitadores e dos leiloeiros a deslocarem-se, e a chegarem, ao local em causa contando-nos a sua estratégia para aquele dia e o que procuram em especial; de seguida são explicadas as regras do leilão e o mesmo começa; cada uma das personagens apresentadas acima fica com um depósito; a sós ou com a companhia dos respectivos funcionários passam a pente fino o local que compraram; tenham um lucro estonteante ou percam muito dinheiro é certo que vão encontrar um objecto inusitado, raro, inesperado do qual não sabem o valor tendo, por isso, de o mandar avaliar; feita a avaliação resta sabermos quem teve mais lucro. E isto é o resumo de todos os episódios. Literalmente.

E isto, certamente que levantou várias perguntas no estimado leitor. Vamos, então, por partes.

Primeiro: todos nós somos capazes de antever que se por vezes estes profissionais podem fazer boas descobertas, por outras, têm de perder dinheiro muitas vezes certo? Certo. Aliás, são muitas mais as vezes em que perdem dinheiro do que aquelas onde ganham.

Segundo: Se isto é a sua vida estas pessoas vão a quantos leilões por dia/semana? Vão a muitos mais do que podemos imaginar. São centenas de leilões por semana, literalmente! Contudo nem todos são gravados para a série. Aliás, na série aparecem apenas as melhores partes de todos os leilões a que eles foram durante um mês inteiro!

Terceiro: Devemos mesmo acreditar que tudo aquilo é verdade ou devemos duvidar, e assumir, que é falso? Calma, nem tanto ao mar nem tanto à terra! Existem muitos truques utilizados pela produção para gravar o programa (nomeadamente repetir por diversas vezes as licitações de forma a conseguirem captar todos os gestos, vozes, caras e respectivas expressões), mas o conteúdo do programa é verdadeiro. Aqueles locais existem mesmo, os cacifos também, os leilões acontecem tal como descrito e os leiloeiros fazem mesmo daquilo a sua vida!

Quarto: Como é suposto as pessoas saberem que aqueles leilões vão acontecer? É muito mais simples do que parece. A empresa responsável pelo leilão tem de o anunciar e divulgar. Os interessados devem deslocar-se ao local indicado no dia, e hora, estipulado devendo inscrever-se no leilão. E isto acontece mesmo na série. Tudo na série é feito de acordo com as leis norte-americanas (só assim é possível que ainda hoje o programa esteja no ar).

Quinto: Como é possível que todos eles encontrem sempre uma peça valiosa para mandar avaliar? Pois, aqui entramos em território complicado. O tema é delicado e existe poucas certezas. Aquilo que sabemos é que Dave Hester (esse mesmo, o arrogante) foi despedido da série depois de ter exigido um salário mais elevado. Na sequência do seu despedimento processou os produtores do programa fazendo uma série de alegações gravíssimas. Segundo ele os cacifos eram mexidos antes de irem a leilão e eram introduzidas peças valiosas de forma a que os licitadores as encontrassem. O processo avançou mesmo, contudo Dave e o canal A&E chegaram a um acordo e Hester regressou à série para a 5ª e 6ª temporadas. Ou seja, não existem certezas nenhumas, mas para a histórica ficará o facto de a justiça nada ter provado.

Sexto: Como sabem eles o valor dos objectos? Na esmagadora maioria dos casos são os próprios que enquanto revistam os locais atribuem um valor aos objectos que encontram. E se pensarem bem tal é perfeitamente normal dado que fazem disto a sua vida, vão a milhares de leilões por ano e vendem milhares de objectos por ano. Seja numa loja física ou na internet eles vendem de tudo. Logo é normal que saibam o valor das coisas. O que por vezes acontece, na minha opinião, é que atribuem um valor exagerado aquele objecto (mas isso também parte da especificidade do mercado norte-americano, eles têm um fulgor económico que nós nunca teremos).

Quais são, portanto, as razões que, na minha opinião, tornam este no melhor programa de televisão de sempre? São várias. Primeiro: as personagens. São muito diferentes umas das outras, acabando por se completar. É impossível não rir com as graças de Barry, não simpatizar com o casal novato ou odiar o “YUUUPPP” do Dave. Segundo: a expectativa. Na realidade aquelas garagens podem conter…qualquer coisa. Literalmente qualquer coisa! Desde a mais banal peça de roupa, até um artefacto raríssimo e muito valioso. E se em alguns casos a mais-valia está á vista, a verdade é que na maior parte dos casos está bem escondida. Pense na sua garagem e no que tem no interior…muito provavelmente tem tudo separado por caixas e bem acondicionado, ou seja, não está à vista. Terceiro: o programa desperta o apostador que há em nós. É impossível não ficar com vontade de desatar a comprar ao desbarato as garagens dos vizinhos a fim de tentar encontrar o Santo Graal numa delas.

Quarto: o lucro. Quase sempre estas pessoas fazem lucro. Não sempre, mas na maior parte dos casos. E esse lucro tanto pode ser de 100 dólares como de largos milhares. Ganhar milhares de dólares em poucos minutos é algo que nenhum de nós rejeitaria. Quinto: a excitação do desconhecido. No fundo é o mesmo que acontece no Natal. A emoção de não saber o que contêm as caixas é tão grande que por vezes dou por mim quase a ter um colapso a meio do episódio.

Portanto é leve, descontraído, divertido e polémico quanto baste. Nunca saberemos se tudo o que vemos é verdadeiro ou não. Mas parte da magia do programa está precisamente aí: na polémica. E para todos os efeitos o programa tem o mérito de ter tornado um negócio de algumas dezenas de pessoas no centro das atenções de parte do mundo. Escusado será dizer que todas as diferentes edições têm os seus pontos fortes. Se gostar da série original então certamente que irá gostar também das restantes.

Todas as séries (ou seja, a original, a Texas e a Nova Iorque) são transmitidas em Portugal pelo canal A&E em diversos dias e horários. Basta estar minimamente atento dado que é um dos programas que mais repete no canal.

P.S: Depois de toda esta conversa deixo-lhe uma pequena amostra das personagens da série – https://www.youtube.com/watch?v=MApOZhZAXJE

Boa semana.
Boas leituras.