Da Ocidental Praia Lusitana – Acordo Ortográfico em vigor: qual deles?

Confesso que gosto de Vasco Graça Moura. É um dos melhores escritores e tradutores portugueses vivos, e finalmente desempenha um cargo condizente com o seu grande currículo literário, sendo presidente do Centro Cultural de Belém (CCB). E dou ainda mais uma razão para gostar da figura que é Vasco Graça Moura: decidiu não aplicar o acordo ortográfico no Centro Cultural de Belém, que só será posto em prática, definitivamente (ao que parece), em 2014. Com isto, Vasco Graça Moura mostra que afinal, nem tudo o que é decidido pelo governo é mau: é que V. Graça Moura foi nomeado para o cargo de presidente do CCB pelo actual governo.
Confesso algo mais: não sou apologista do novo acordo ortográfico. Não porque esse servirá os “interesses das empresas brasileiras”, como diz Vasco Graça Moura, mas sim porque irá prejudicar “interesses inalienáveis dos demais falantes de português no mundo” (ainda segundo V. Graça Moura). Lembremo-nos de que a língua portuguesa tem sido ensinada com várias dificuldades em Timor-Leste, ou ainda a questão moçambicana da pretensa intenção em aderir à Commonwealth (Comunidade de países de expressão oficial em língua inglesa).
Senhor (a) leitor (a), se por ventura já teve o prazer de ler Mia Couto, Pepetela, ou José Eduardo Agualusa, só para citar alguns autores de expressão oficial portuguesa, sabe bem de antemão do que irei escrever. Há-de concordar que a riqueza de vocábulos vários oriundos de Angola e Moçambique não foram devidamente acautelados neste acordo
ortográfico feito ao ritmo de samba e a saber a cachaça 51. Como se pôde não inscrever no acordo, em igual medida, palavras e formas linguísticas africanas a par de brasileiras? A língua portuguesa é, hoje em dia, muito mais (obviamente e ainda bem), do que o português que se fala em Portugal e Brasil; é antes de mais, todo um conjunto de troca de experiências, de viveres, de histórias que se foram e vão formando novas formas de falar, expressar e transmitir ideias, pensamentos, etc. Foi assim que o português se formou e distinguiu do espanhol (alcançando o árabe e o galaico-português, por exemplo), e é assim que continua a ser distinta e especial, porque toma como suas palavras advindas
de outras línguas, polindo-as por forma a serem palavras da língua portuguesa, ou, por outro lado, porque sempre produziu palavras próprias e ímpares no mundo (como a palavra “saudade”), fruto de muitas viagens e experiências com outros povos, que sempre deram azo a novas trocas linguísticas.
Por tudo isto, irei pela minha parte, continuar a escrever de acordo com a grafia ainda em vigor. Aplaudo decisões como a de Vasco Graça Moura, ou como a das direcções da Casa da Música e da Fundação Serralves, que prosseguem com a grafia anterior à constante no tal acordo ortográfico. E, parece-me ainda, que o acordo ortográfico já tem
os dias contados. É que ainda não foi ratificado por todos os PALOP…

Crónica de Nuno Araújo
Da Ocidental Praia Lusitana