Da Rússia com amor…e muito futebol – Mundial 2018

A espera está prestes a terminar para todos os amantes do desporto-rei. O Mundial do Brasil foi há 4 anos e o clima tropical acompanhado pelo samba vai agora dar lugar ao frio e ao folclore russo. Vem aí o maior evento desportivo do ano e a redação do Ideias e Opiniões não o vai querer perder. Nem nós, nem o caro leitor. Venha daí. Venha assistir ao melhor futebol do mundo e aproveite para ler o que temos a dizer sobre o Mundial da Rússia!

A cada Mundial o mundo para durante, mais ou menos, um mês. Os adeptos casuais anseiam pelos grandes encontros entre as maiores equipas mundiais ou apenas por ver o seu país representado por 23 homens que o podem levar a sonhar com o mítico caneco dourado, a Taça do Mundo da FIFA. Os mais ferrenhos (como eu), até passam a achar um Marrocos x Irão um jogo digno de se seguir de início ao fim. E não, não é por serem duas seleções do grupo de Portugal. A febre do futebol é tanta nestas ocasiões que, quase dá vontade de tirar férias só para poder seguir todos os jogos da competição. Infelizmente, tal não é possível e vou ter de me contentar com o que der para ver nos intervalos do trabalho. É a vida.

Muita vida promete então ter este Mundial que começa a 14 de junho deste mês. Nem o frio, nem o gelo russo vão conseguir arrefecer o calor emanado por cada um dos duelos que se adivinha. Como já é habitual, vão estar em prova 32 equipas, com representantes de todos os continentes. A primeira fase compõe-se por 8 grupos, cada um com 4 equipas. Cada equipa realizará, no mínimo, 3 jogos e os dois melhores classificados de cada grupo passam à fase seguinte: A fase do “mata-mata” como diria no nosso ex-selecionador nacional, Filipe Scolari. Quem tiver a infelicidade de perder nessa fase regressa a casa até só sobrar um país, aquele que ficará eternamente na História. Será Portugal? Hum, tenho as minhas dúvidas, mas sonhar não custa não é verdade?

No Grupo A estarão os anfitriões, a Rússia, os bicampeões mundiais, o Uruguai, a Arábia Saudita e o Egito. Este grupo prevê-se bastante equilibrado apesar de nivelado por baixo. Se é verdade que o Uruguai dispõe de uma equipa experiente e muito combativa, contando nas suas fileiras, com dois avançados de classe mundial (Luís Suarez e Edinson Cavani) e que, por norma, as equipas da casa (embaladas quase sempre pelo público) fazem uma gracinha, não estamos perante um grupo fortíssimo. Mesmo que pelo meio disto tudo exista uma equipa, o Egito, liderada por um “Faraó”. A Arábia Saudita é a equipa menos mediática e, teoricamente, a mais fraca das quatro. Ainda que os sauditas possam surpreender num ou noutro momento, não acredito que passem à fase seguinte. O Uruguai é a equipa com mais argumentos (e não, não falo do recurso às dentadas), para se superiorizar aos seus adversários e ficar com o primeiro lugar do Grupo A. O Egito deposita toda a sua confiança em Mohamed Salah, o homem-chave da sua qualificação, que trouxe o país de volta a um Mundial ao fim de 28 anos. A última participação ocorreu em 1990, no Mundial de Itália. Se é verdade que Salah vem de uma época de sonho a nível individual pelos números que apresentados no Liverpool, não deixará de ser verdade também, que o apuramento para os oitavos-de-final se adivinhará complicado. Penso que disputarão uma vaga com a Rússia. Sim, mesmo que os russos tenham realizado uma Taça das Confederações paupérrima e não tenham necessitado de fazer uma qualificação (fruto de serem anfitriões da prova) não podem ser menosprezados pelo fator casa e, claro, pela experiência de alguns dos seus jogadores: Akinfeev, Zhirkov, Ignashevich ou Dzagoev. As maiores esperanças estão depositadas em Fedor Smolov, numa equipa desprovida de grande talento.

No Grupo B teremos direito a um duelo ibérico entre Portugal e Espanha, onde Ronaldo irá enfrentar vários dos seus companheiros do Real Madrid certamente embevecidos pela conquista da terceira Liga dos Campeões seguida (chiça que é obra!). A seleção das Quinas, campeã europeia em título (que orgulho é escrever isto) e os “nuestros hermanos” (vencedores do Mundial em 2010), são mais do que candidatos a carimbar um lugar entre as 16 melhores equipas do mundo. A seleção espanhola, que vive de um coletivo fortíssimo é, aliás, umas das grandes candidatas à vitória final, não fosse a sua convocatória composta por alguns dos melhores jogadores do mundo, também eles pertencentes aos melhores clubes do mundo. Estou curioso para ver Isco assumir as rédeas da seleção do seu país e saber se Iniesta irá conseguir a eterna redenção, caso consiga mais um título mundial. Porque não uma Bola de Ouro em estilo de homenagem por uma grande carreira? Nunca se sabe. Para Portugal e para CR7, chegar aos oitavos/quartos será uma boa prova, embora, embalados pelo espírito do Euro 2016 nos apeteça sonhar (com legitimidade) por algo mais. Quem tem Cristiano Ronaldo pode sempre fazê-lo.

Não creio que Portugal jogue um futebol brilhante, mas se há algo que deixa confiante numa bela prestação é que, não jogando muito bonito também sofre poucos golos e é uma equipa extremamente difícil de ser derrotada. Agora, duvido muito que a conjuntura do último europeu, marcada por um sorteio favorável e uma sequência anormal de empates, se volte a repetir. Não quero parecer pessimista, estou só a manter algum realismo. Deveremos passar em primeiro ou segundo lugar e até acredito que o primeiro jogo, frente à Espanha, dê empate. Contra Marrocos e Irão, teremos, obrigatoriamente, de ser melhores.

Passando agora ao Grupo C. Bem, aqui temos mais um seríssimo candidato a levar o troféu para casa: a França. Os gauleses (vencedores da prova em 1998), vão disputar jogos contra Austrália, Dinamarca e Peru numa fase rara em que conjuga experiência e muito talento jovem. A convocatória francesa é composta por grandes nomes e não posso deixar de antever um grande Mundial para Griezmann (uma das minhas apostas para Bota de Ouro do torneio) ou Pogba e para duas das maiores promessas do futebol mundial: Ousmane Dembélé e Kylan Mbappé, jogadores do Barcelona e do Paris Saint-Germain, respetivamente. Vai ser complicado tirar o primeiro lugar à França, mesmo que Dinamarca e Peru sejam boas equipas. A Austrália tem poucas hipóteses de pegar uma partida às restantes e, por isso, antevejo a sua eliminação logo na primeira fase do torneio. A maior disputa vai mesmo dar-se pelo segundo lugar e ambas as equipas (Dinamarca e Peru) não podem ser menosprezadas, até mesmo nos oitavos-de-final.

No Grupo D está uma das minhas seleções favoritas: a Argentina. A seleção albiceleste chega a este mundial liderada por aquele que é, para mim, o melhor jogador do mundo: Lionel Messi. Chega também, é verdade, com muita dificuldade e uma qualificação muito intermitente. Se não fosse “La Pulga” os argentinos bem que se podiam preparar para ver o Mundial sentados no sofá, o que seria uma pena dado que estamos perante uma seleção com tanta história (venceram a competição em 1978 e 1986) neste desporto. Felizmente que tal não aconteceu poi já bastam Holanda e Itália estarem ausentes. Assim sempre vamos poder ver outros grandes craques atuar nos palcos russos. À cabeça: Di María, Otamendi, Dybala, Aguëro e Higuaín. E então, o que esperar duma equipa com estes grandes craques? Bem, o melhor e o pior. Por um lado, a Argentina tem um ataque de sonho, composto por grandes individualidades capazes de decidir jogos, por outro, tem lacunas muito vincadas do ponto de vista defensivo, por exemplo, Marcos Acuña do Sporting e Eduardo Salvio do Benfica, podem vir a atuar como alas quando são extremos, adaptações que podem comprometer qualquer partida mesmo que estejamos a falar de jogadores muito abnegados.

Ainda assim, há talento que sobra para passar a fase de grupos (mesmo que se trate de um grupo muito equilibrado) e fazer uma bela prova, quiçá ganhando. Seria um verdadeiro conto de fadas para Messi.

Ainda neste grupo estarão em prova a Islândia, a Croácia e a Nigéria. Três equipas com estilos de jogo bastante distintos. Os islandeses (quem não se lembra deles no Europeu de 2016?) vão apostar na garra, na determinação, no futebol aéreo e no jogo físico. Os croatas na posse de bola e num estilo mais técnico e com classe (ter Modrić, Rakitić ou Kovačić ajuda). E por fim, os nigerianos (que costumam dar-se bem contra os argentinos) vão apostar nas suas melhores características: velocidade e contra-ataques. Diria que, em circunstâncias normais e por serem melhores, Croácia e Argentina, passam à fase seguinte. No entanto, o futebol está longe de ser assim tão linear assim. A ver vamos.

O país que mais vezes venceu o campeonato do mundo, o Brasil, chega à Rússia com vontade de vencer o hexacampeonato e fazer esquecer, a forma como foi eliminado (atrocidado, vá) pela Alemanha aquando do último Mundial. Em 2014, os brasileiros até nem estavam a jogar mal mas acabaram por sair eliminados com uma derrota de números históricos: 7-1. Agora, com alterações na equipa e liderados Tite, numa qualificação praticamente imaculada (só perderam um jogo em dezoito), as coisas prometem ser diferentes e também mais risonhas para um país que vive (e dança) o futebol como nenhum outro. A canarinha está no Grupo E, juntamente com a Suíça (que disputou o apuramento com Portugal), a Costa Rica e a Sérvia. Restam poucas dúvidas relativamente à qualidade deste Brasil à vontade da sua estrela, Neymar, mostrar que tem, de facto talento para dar e vender, podendo ser ele o herdeiro direto de Ronaldo e Messi. O “menino” merece e se estiver totalmente recuperado da lesão que o afetou esta época, pode muito bem cimentar o seu lugar entre os grandes da atualidade. Aposto que o Brasil chega, no mínimo, às meias-finais e pouco me arrisco a fazer previsões para o resto que falta deste grupo. Para mim, todas as equipas que o compõem têm possibilidade de passar e deixar uma boa imagem. A Sérvia tem ótimos jogadores e ainda não fez jus à fornada de talentos que o país tem produzido nos últimos anos. A Costa Rica foi uma das surpresas de 2014 e podem muito bem repetir essa proeza. A Suíça é uma equipa difícil de bater e não é ao calhas que ocupa o 6.º lugar do ranking da FIFA.

Os atuais campeões mundiais, da todo poderosa Alemanha, vão estar no Grupo F e prontos para chegar longe na competição. Como se costuma dizer por lá, ouvi eu o mítico Lothar Matthäus dizer, “uma má seleção alemã chega à final e perde, uma boa seleção alemã chega à final e vence”, por isso podemos esperar que Die Mannschaft faça por revalidar o título. Tem mais do que argumentos para isso, a começar pelo coletivo forte que a caracteriza e a acabar pelo pragmatismo que lhe está associado. O que não falta são jogadores de topo à equipa alemã, mas estou muito curioso por três deles: Thomas Müller, Marco Reus e Leon Goretzka. O primeiro, porque penso que vai ultrapassar Miroslav Klose como o melhor marcador da História dos Mundiais (só não sei se será nesta edição da Rússia). O segundo, porque fustigado por tantas lesões na carreira vai finalmente jogar numa fase final. O terceiro, porque é uma das minhas apostas para revelação do torneio, embora saiba que vá ser difícil ter lugar a titular num meio campo com Khedira, Kroos e Özil. Fora isto tudo, quero muito ver “A Muralha” Neuer regressar ao melhor futebol do mundo. Por muito que perceba os elogios a De Gea, continuo a achar que o alemão é número um do mundo, no que à baliza diz respeito.

O México, crónico participante em mundiais e onde atuam vários jogadores do Futebol Clube do Porto (Herrera, Reyes, Corona e Layún), a Suécia, já não liderada por Zlatan mas com um Forsberg (RB Leipzig) em muito boa forma e a Coreia do Sul com Son Heung-min (Tottenham), são seleções para nos trazerem alguns jogos interessantes neste Grupo F, na disputa pela segunda vaga. Embora, realisticamente, seja difícil seguirem mais longe na competição.

Um dos maiores duelos da fase de grupos vai dar-se no Grupo G, entre a Bélgica e Inglaterra, que, em conjunto com a Tunísia e o Panamá fecham este grupo. Os “Diabos Vermelhos” vão opor-se aos “Três Leões”, num confronto onde os jogadores se conhecem relativamente bem, não jogassem quase todos na Premier League. As duas são favoritas a passar perante o estreante Panamá e a modesta Tunísia. Resta saber quem ocupará a posição cimeira. Tenho boas perspetivas para Bélgica e Inglaterra no que toca a este Mundial. A Bélgica pode (finalmente) cumprir com as expectativas depositadas numa “geração de ouro” onde figuram Hazard, De Bruyne, Lukaku, Mertens, Kompany, Courtois ou Dembelé e a Inglaterra pode (finalmente também) e ao fim de tanto tempo, iniciar uma grande competição sem ter à sua volta aquele hype tipicamente inglês que costuma dar em fracasso. Isto quando, curiosamente, fez uma qualificação verdadeiramente notável. Há coisas que me custam a entender. Os ingleses quase não sofrem golos e são das poucas seleções do mundo que se podem gabar de ter uma base vinda de um clube, o Tottenham. Os Spurs “emprestam” à seleção inglesa Danny Rose, Trippier, Eric Dier, Dele Alli e Harry Kane. Este último promete muitos golos. Muita atenção a esta Inglaterra!

O último dos 8 grupos é, provavelmente, o menos entusiasmante juntamente com o Grupo A. No Grupo H constam Colômbia, Japão, Polónia e Senegal. Los Cafeteros voltam a apostar as fichas todas em James e companhia, prometendo um futebol atrativo e muita animação, sendo fortes candidatos à passagem. Na Polónia teremos o privilégio de ver uma equipa interessante com direito a um dos melhores pontas-de-lança do mundo, Robert Lewandowski. O Japão de Shinji Kagawa (Dortmund) junta mais uma participação ao seu currículo (é a sexta para os nipónicos), mas só mesmo se tivessem a ajuda de Son Goku para reunir as Sete Bolas do Dragão poderiam pensar em fazer algo grandioso no Mundial da Rússia. Por fim, o Senegal de Sadio Mané vai com as mesmas esperanças que o Egito de Salah: fazer uma boa figura, representar dignamente o continente africano e esperar que um homem, curiosamente companheiro no Liverpool, traga alguma alegria ao seu povo. É possível que aconteça, porém, aposto na passagem da Polónia e da Colômbia.

O mais provável é que as minhas apostas, apontadas ao longo dos parágrafos anteriores, mais inclinadas para os favoritos, não estejam corretas. Costuma ser assim no futebol. Estamos perante um desporto onde, por vezes, vemos um David derrotar Golias. Seria, admito, engraçado ver algo deste género acontecer em alguns jogos deste Mundial.

Para já, guio-me, sobretudo, pela lógica. Para mim, Alemanha, França, Espanha e Brasil partem ligeiramente à frente das restantes. São as quatro grandes candidatas à vitória. Pelas equipas atuais e pela sua história mais ou menos recente.

Numa segunda linha de candidatos surgem, Portugal, Argentina, Inglaterra e Bélgica. Como português gostava que o Engenheiro Fernando Santos guiasse a seleção nacional a mais um grande título internacional. Cristiano Ronaldo é um jogador que merece um título destes e, se não for com Ronaldo, não estou a ver com quem Portugal poderá atingir tal feito. Era mais um feito notável na grandiosa carreira de CR7. Por outro lado, desde criança que adoro a seleção da Argentina (tal como sempre gostei da Holanda, infelizmente ausente) e agora, com Messi, ainda mais. Se Portugal não fosse campeão do mundo, gostava que Lionel conseguisse guiar o seu país à vitória e se desforrasse da derrota em 2014 frente à Alemanha, ou das duas finais da Copa América perdidas para o Chile. Seria, repetindo o que já disse mais atrás, um verdadeiro conto de fadas para o pequeno argentino: Depois de três finais perdidas ao serviço do seu país, erguer-se no maior palco de todos com o troféu mais desejado. Eu sei que disse acima que me guiava pela lógica e não estou a ser incoerente. Se há jogador para levar o seu país às costas, esse jogador é Messi.