De calculadora na mão para esconder a desgraça em campo

Miserável. É tudo o que é preciso dizer para descrever o que se passou este Domingo em Manaus, na Amazónia. A jogar a 10km da selva, uma selva autêntica foi a nossa organização defensiva, o nosso ataque, a ausência do meio-campo, as lesões atrás de lesões, as escolhas do Paulo Bento. Assim, o apuramento fica a ser visto por um canudo, e a depender de terceiros, Portugal, vai ter, mais uma vez, de andar com a calculadora na mão, algo que, muito provavelmente, de nada nos valerá.

A prestação da seleção das quinas no Mundial de 2014 tem sido digna de um país de 5ª linha, isto no que ao futebol diz respeito claro. Um apuramento defeituoso augurava um Mundial igualmente deficitário, algo que acabou por se verificar – neste caso não foi preciso nenhum camelo para nos alertar – . Para analisarmos o que se tem passado no Brasil, não nos podemos apenas basear nos últimos dias, nas últimas semanas, ou mesmo nos últimos meses. É necessário ir mais além. É necessário ir ao apuramento in extremis, ao empate sofrido com Israel, com a Irlanda do Norte, à derrota com a Rússia. É necessário recorrer à renovação com o Paulo Bento numa antecâmara de um Mundial. É necessário recorrer a uma estrutura federativa débil. No fundo, são problemas estruturais que não nasceram ontem e que afectam, e afectarão a seleção durante muito mais anos. Isto se as coisas não mudarem.

No que diz respeito à conjuntura portuguesa, aí podemos apontar um culpado; Paulo Bento. O selecionador português deixa que os seus defeitos se sobreponham às virtudes colectivas, e com isso arrasta-nos para o fundo. Vamos por partes. Primeiro, importa referir que não cabe na cabeça de ninguém não convocar o Antunes. Chega de polivalência, não são necessários tantos jogadores que cumpram mediocremente várias posições, mais vale os suficientes mas que cumpram eficazmente o que lhes é pedido. Segundo, e passando à frente a não convocatória de Ricardo, José Fonte, Danny e Quaresma, não é compreensível, e muito menos aceitável, que com a matéria prima de que dispõe, continue a apostar exactamente nos mesmos jogadores durante os quase três anos que está à frente da seleção. É necessário uma revolução, coisa que, com Paulo Bento, não acontece. A aposta cega no seu núcleo duro não tem dado mais do que mau resultado, há melhores jogadores no banco que, caso fizessem parte do 11 dariam um contributo muito melhor do que os que lá estão. Falta coragem e visão ao timoneiro das quinas. O ciclo de Meireles, Veloso e Bruno Alves já acabou, não pela idade, mas pela qualidade. Terceiro, o discurso de Paulo Bento é hediondo. Não motiva, não inspira confiança, limita-se a constatar o óbvio e a queixar-se das mesmas coisas desde que é treinador de futebol. Posto isto, é óbvio que urge a necessidade de mudar, de reverter as coisas enquanto é tempo.

Por fim, quanto ao jogo contra os “yankees”, há muita coisa para ser analisada. Portugal entrou bem no jogo, até fez um golo cedo, todavia, foi sol de pouca dura e rapidamente perderam o controlo do jogo tendo acabado a primeira parte com o credo na boca. Inadmissível. O principal problema, além da exasperante falta de intensidade e da passividade excessiva, era a condição física dos jogadores. É impensável uma equipa composta por 23 jogadores ter, em duas semanas, 10 jogadores com problemas físicos. Não é coincidência, é incompetência. Tudo isso levou a que surgisse a problemática principal deste jogo, a posição de defesa-esquerdo. Os americanos fizeram o que quiseram do nosso lado esquerdo, quer André Almeida, que saiu aleijado, quer Veloso, foram inoperantes e incapazes de travar os jogadores do Estados Unidos. Foi por este lado que surgiram os principais problemas. Depois deste há várias problemáticas que também merecem ser destacadas. A incapacidade de pressionar por parte do meio-campo, as falhas gritantes de finalização, a descoordenação defensiva, a inúmera quantidade de passes errados e a falta de criatividade, foram igualmente falhas graves da nossa equipa. Muito mais haveria a dizer e por onde debruçar no que ao jogo diz respeito, mas para concluir só dizer que os Estados Unidos procuraram a vitória mais do que nós e souberam manietar-nos como bem quiseram. Péssimo trabalho do selecionador português ao preterir William em detrimento de Veloso/Meireles e Ruben Amorim em detrimento de Meireles. Vergonhoso.

Nem dá para ter esperança. O futuro não parece cinzento, parece mesmo negro e terrivelmente decepcionante. No entanto, apesar de não jogarmos nada, de sermos das piores seleções do mundial, de não ganharmos a uma seleção de 4ª linha do futebol mundial e de nos escudarmos sempre nas arbitragens, a verdade é que ainda temos hipóteses de apuramento. Lá vamos nós, como é nosso apanágio, andar de calculadora na mão até ao último segundo. Neste caso as contas não têm muito que saber. Temos de ganhar ao Gana e anular a diferença de 5 golos que temos para os Estados Unidos. Uma missão hercúlea, portanto. Resta sonhar, e depois do sonho, olhar para trás e analisar o que foi, mais uma, participação miserável da equipa das quinas num mundial. Desta vez, nem a calculadora serve para esconder o descalabro.