De mal a pior – João Cerveira

Quando se pensava – até pelo que disse Paulo Portas – que não haveria lugar a mais austeridade, eis que Passos Coelho decide aumentar   a taxa social para os privados de 11% para 18%, baixando a mesma para as empresas de 23% para 18%, justificando-se com o combate ao desemprego.

Não consigo entender como é que isto vai fazer diminuir o desemprego.
Pelo lado das empresas, não creio que qualquer empresa vá aumentar exponencialmente o número de funcionários pela diminuição da taxa social única. Até porque a maioria das grandes empresas tem vindo a optar pela contratação através de empresas de recursos humanos e/ou empresas de trabalho temporário, desobrigando-se desta forma ao pagamento de TSU sobre os mesmos.
Pelo lado dos privados, leva, mais uma vez, à redução do seu poder de compra e à consequente diminuição do consumo que – e não é preciso ser-se muito inteligente para se concluir isto – leva ao encerramento de empresas que, sem facturar, acabam por fechar portas. E o que sucede aos funcionários dessas empresas? Vão para o desemprego, claro está.

Só no mundo imaginário de Passos Coelho é que  se pode pensar que, como ele disse na sua comunicação ao país, a austeridade não é a causa do desemprego. Disse ele que a causa do desemprego é o corte no acesso ao crédito pelas empresas. Esta afirmação tem tanto de descabida como de contraditória. Não só esta medida não dá acesso ao crédito às empresas, como não aumenta substancialmente a liquidez das empresas para fazer face à crise. Para além disso, dizer que se gasta mais do que se pode e tem e, ao invés de se incentivar ao aumento da produtividade, com o consequente retorno em lucro, incentiva-se ao recurso ao crédito. Corta-se no consumo que poderia aumentar o lucro das empresas (e promover, consequentemente, o emprego) e incentiva-se as empresas a recorrer ao crédito. Faz sentido?

 


Crónica de João Cerveira
Diz que…