A magia tem muitos protagonistas, diversas formas e por vezes está onde menos esperamos. Independentemente da idade que tiver, se tiver diante de si um bom mágico é quase certo que no final do seu truque vai ficar de boca aberta e a pensar como raio fez ele aquilo. Sejam bem-vindos ao “Desnecessariamente Complicado” desta semana.
Para além da magia tradicional existem outras magias. Por exemplo, alguns objectos estão rodeados de uma aura mágica inexplicável. A primeira vez que uma criança vislumbra o ecrã de uma televisão é um momento absolutamente mágico. Por mais pequeno que seja é mais que certo que o petiz vai ficar maravilhado com as cores, com o movimento e com o som que a mesma expele. Existem também momentos mágicos: um pôr-do-sol à beira-mar, as primeiras palavras de um filho, um abraço ou um beijo daquela pessoa especial, um concerto do cantor/banda favorito ou quem sabe assistir no estádio a um jogo decisivo do seu clube de futebol. Mas esta semana venho falar-vos de um outro tipo de magia: da magia de uma cidade.
Desde sempre que oiço falar da magia que a cidade de Lisboa possui, contudo nunca a tinha sentido verdadeiramente. Sim, é a capital do nosso país e mais que não seja por isso é especial. Mas sempre ouvi dizer que ela tinha algo mais, algo de inexplicável, e que assim que nos entregássemos ela nos conquistaria de imediato. Os quase cinquenta quilómetros que separam a minha habitação da capital levaram a que durante muitos anos ela fosse para mim apenas o sítio onde por vezes passeava e/ou fazia compras. Nunca a conheci sequer totalmente (aliás, ainda hoje não a conheço totalmente).
Mas tudo mudou quando há cinco anos atrás deixei o Ensino Secundário e passei a frequentar o Ensino Superior. Mantive a minha habitação a cinquenta quilómetros de distância, contudo as viagens diárias “obrigaram-me” a conhecer muito melhor a cidade. Com o traje académico veio muita responsabilidade, mas também uma ligação muito maior e mais forte a Lisboa. Estudante universitário que se preze desenvolve uma relação especial com a cidade que o acolhe. As viagens a pé, de autocarro, de metro ou de comboio, as actividades de praxe nos seus jardins (quer como caloiro, quer agora como trajado), as saídas à noite pelos seus bares e discotecas, os passeios nas tardes solarengas ou nas quentes noites de verão. Tudo ganha uma magia inexplicável. É como se estivéssemos “ligados” aquela cidade. Mesmo que estejamos no meio de uma autêntica multidão é como se estivéssemos sozinhos com a cidade, num diálogo sem palavras e apenas composto por silêncios, sorrisos e lágrimas. É como se parte dela fosse nossa.
O facto de ainda não a conhecer totalmente é fantástico porque torna cada viagem uma verdadeira descoberta. Cada rua, cada viela, cada canto e recanto ganham uma magia incontável. Consigo viver verdadeiras aventuras sem sair do mesmo lugar, tal é o tamanho da minha imaginação e a velocidade a que a minha mente viaja. O facto de saber que ainda existe muito mais por descobrir só aumenta aquilo que sinto pela cidade que tão bem me acolheu.
Fruto da correria que é a nossa vida e dos mil e um compromissos e afazeres que temos diariamente numa primeira fase este sentimento é inconsciente. Apenas quando paramos um pouco para observar o caminho que percorremos é que nos apercebemos desta magia. Mas quando este momento chega tudo muda: o sol e a lua brilham com mais intensidade, aquela noitada com os amigos tornou-se ainda mais especial só pelo facto de ter ocorrido nas ruas e vielas de Lisboa, aquela actividade de praxe não seria a mesma se não acontecesse num dos inúmeros jardins da capital.
Tenho pena daqueles que apenas se apercebem desta magia depois do fim desta fase da sua vida porque tal facto é sinal de que podiam ter disfrutado muito mais dos momentos e vivências do passado. Mas mais vale tarde do que nunca, como tal se é este o seu caso olhe em frente e pense bem nos maravilhosos momentos que ainda vai viver na “sua” Lisboa.
Como diz a música “Lisboa” interpretada pelos Tara Perdida e pelo Tim: “Lisboa, és só tu e eu / Confesso-me a ti / Ó cidade de noite encantada / Lembras-me a vontade / Hoje eu vou ficar”. Esta música é, na minha modesta opinião, uma verdadeira declaração de amor por Lisboa. Pode ser a capital de todos nós, mas acreditem que é muito mais de uns do que de outros. Eu próprio duvidava da sua magia, mas hoje considero-me rendido aos seus encantos.
Boa semana.
Boas leituras.
Crónica de Bruno Neves
Desnecessariamente Complicado
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Bruno, nasci no Porto. Sou do Porto e é no Porto que me sinto em casa, Mas, tal como tu, fiz Faculdade em Lisboa. Papelada mal preenchida e pumba, fui parar à quinta opção. LISBOA!
Uma cidade enorme, longe da família, longe dos fantásticos amigos da escola secundária. Longe das francesinhas, do sotaque e longe do meu FC Porto. Um drama! Queria ir-me embora. Mal cheguei fui roubado. Tive 9 na primeira frequência a uma disciplina que cheguei a ter 20 no 12º. Até Março desse ano, lembro-me do contraste das viagens de sexta, para o Porto, e das de domingo à noite para Lisboa. Era uma angústia.
Entretanto veio a Primavera. Entretanto, conheci pessoas. Entretanto comecei a levantar a cabeça e a olhar para o Terreiro do Paço – que praça monumental – para o Rossio e para outros sítios fantásticos. Ok, também passei pelo Intendente, mas aí voltei a baixar a cabeça. 🙂 Hoje, Lisboa não é a minha casa. Mas é quase! Adoro-a. Conheço-a quase como um velhinho de Alfama ou da Mouraria. Estou sempre cá e lá. A minha namorada é daqui, portanto, o Intercidades e o Alfa Pendular são a minha outra casa 🙂 Lisboa não é a cidade da minha vida, mas é uma das cidades da minha vida. As outras são, além do Porto, Londres e Barcelona.
Mais uma bela crónica. Um abraço.