Déjà vu ou a ilusão dos sentidos e outros assuntos – Laura Paiva

Perceber que determinada “cena” do nosso filme é repetida, um déjà vu, é algo que não acontece frequentemente.

Estar num qualquer lugar e todos os nossos sentidos gritarem “eu já estive aqui,  vi estas pessoas e fiz exactamente o que estou a fazer agora” é demasiado estranho.
Principalmente se estamos num lugar pela primeiríssima vez, com pessoas que temos a certeza de não conhecer e a fazer algo que sabemos nunca ter feito.
É uma sensação aterradora por achar que estou a ver a cena levitando fora do meu corpo. É um estou ali mas não estou.
Felizmente, todos os meus déjà vu duraram apenas alguns segundos. São curtos em duração mas longos em efeito – deixam-me a pensar durante uma eternidade de tempo… Como é possível que isto aconteça? E não me venham dizer que o meu cérebro tem uma falha! É claro que tem, aliás, deve ter mais do que uma mas não acredito que nenhuma delas seja responsável por estas ocorrências.

É uma ilusão que os nossos sentidos nos pregam!
Pois bem, aos meus sentidos gostaria de dizer:
Parem de me pregar partidas! Eu não gosto de partidas nem de surpresas! Gosto do meu porto seguro e do meu oceano pacífico! Não quero um mar revolto. Não quero que me enganem!
Mas, se realmente me querem pregar uma partida, que tal um déjà vu onde eu esteja a levantar o prémio do euromilhões da próxima sexta-feira, hem??? Eu, assim com o boletim na mão, números bem visíveis – todos eles, sim?
Nem me importa saber quem são os estranhos que me rodeiam ou o local onde isso acontece!
Sabem o que ia acontecer depois? Sabem?!?!? Ia embriagar-vos a todos! A todos sem excepção.
Ele ia ser Santorini, Bora-Bora, Maldivas, Seychelles, Tailândia e tantos outros lugares semelhantes que provocariam à visão um monte de déjà vu de praias de areia branca e águas límpidas.
Quanto ao olfato, haveria de enjoar de tanto déjà vu de odor a mar e a protector solar!
E o tacto?!?!? Ahhhh esse iria ficar esfoladinho de tanto contar notas!
A audição iria ficar inebriada pelo som das ondas que vêm morrer à praia, pelos risos e pelas gargalhadas…
Até o paladar iria ser castigado por ter de provar todas as iguarias em todos aqueles lugares.
E repetiria tudo vezes sem conta…

 

Crónica de Laura Paiva
O mundo por estes olhos