Depressão

«Diversos estudos de projeção indicam que, com a evolução atual das patologias médicas, confrontadas com os estilos dePat1 vida, bem como as políticas de saúde mental, a depressão será em 2030 a doença mais prevalente do mundo» (Bernik, 2014).

MAS AFINAL O QUE É A DEPRESSÃO?

A depressão é um transtorno mental frequente, que se caracteriza pela presença de tristeza, perda de interesse ou prazer, sentimentos de culpa ou falta de auto-estima, transtornos de sono ou/e de apetite, sensação de um cansaço profundo e falta de concentração (OMS, 2014).

Muitas vezes esta perturbação tende a ser silenciada ou não reconhecida, confundindo-se com «simples estados de falta de ânimo» (Keck, 2010). Segundo a OMS (2014), a depressão afeta 20% da população, sendo as mulheres mais propensas à mesma. No entanto a depressão pode aparecer em qualquer idade, desde o mais novo ao mais velho, pode ter curta ou longa duração (existir somente um 1o episódio, ou mais tarde verificar-se um 2o episódio – tal como acontece em 50 a 75% dos casos) (Keck, 2010).

Crónica ou recorrente, leve, moderada ou grave, esta doença tende a «dificultar sensivelmente o desempenho no trabalho ou na escola, bem como a capacidade para enfrentar a vida diária» (OMS, 2014) e por sinal a qualidade e dignidade de vida humanas.

COMO SE MANIFESTA?

De modo geral, tal como nos indica Keck (2010), a depressão manifesta-se geralmente por:

• um estado de ânimo triste (+/- 2 semanas);
• a perda de disposição para mostrar sentimentos de alegria e interesse;
• a perda da capacidade geral de concentração e rendimento.

No entanto, para compreender o que se denomina por «depressão», temos de atender ao número e intensidade de sintomas, bem como à caracterização dos episódios depressivos, tal como podemos observar no Quadro 1. Para além destes dois tipos de categorias principais, existem também outras categorias ou condições especiais apelidadas de depressão, como sendo:

1. Depressão latente: Caracterizada por sintomas físicos, disfunções vegetativas (emocionais) e dificuldades orgânicas (ao nível dos órgãos internos).

2. Depressão melancólica: Mais frequente nos homens, caracteriza-se por um cansaço significativo pela manhã, perda de peso, tristeza, perda da líbido e interesse. Existem reações inerentes a este tipo de depressão tais como a irritação, a agressividade, a raiva, o abuso de álcool e a possibilidade de práticas exageradas de desporto bem como sentimentos de stress e esgotamento.

3. Síndrome de «burnout» ou esgotamento: provocado por um stress prolongado, normalmente de caráter profissional, caracteriza-se por uma perda de energia considerável, redução da capacidade produtiva, indiferença, cinismo e falta de motivação associada a compromissos. O stress acumulado (muitas vezes arrastado por vários anos), a mudança das condições de trabalho, associadas ao posto, estatuto, local, horários, etc., estão relacionadas com este tipo especial de “depressão” ou síndrome.

 

 

PatQua
Quadro 1: Como se manifesta a depressão

4. Depressão em Idade Avançada ou da Terceira Idade (+65 anos): Menos frequente nestas idades, este é um tipo de depressão que pode transcorrer ao longo de vários anos sem tratamento já que os pacientes tendem a queixar-se muito mais das doenças físicas (muitas vezes sem explicação física) e a silenciar os sintomas anímicos (emocionais e espirituais) inerentes à depressão. Este tipo de depressão pode aparecer ou favorecer-se a partir de uma nutrição escassa ou inadequada ou então de uma ingestão insuficiente de líquidos.
5. Depressão Sazonal: Com o Outono/Inverno chegam-nos os dias escuros e mais sombrios, modificando e muitas vezes piorando os nossos estados de ânimo e em casos mais graves, levando a tendências suicidas. Neste tempo, o olho percebe uma menor entrada de luz, levando a uma maior propensão para a depressão muitas vezes associada a características inatas do Ser Humano para a melancolia. Este tipo de depressão manifesta-se numa disfunção do metabolismo cerebral (alteração ao nível das hormonas cerebrais).

6. Depressão Pós-Férias: «Terminaram as férias…e agora?». O dever nos chama depois de um período de lazer sem cumprimentos dePat2 obrigações e horários. Daí, a pouca motivação em levantar, arranjar-se e ir trabalhar é muitas vezes uma manifestação deste tipo de depressão que se caracteriza por sintomas físicos como dores musculares, dores de cabeça, cansaço, insónias, problemas gastrointestinais e sintomas emocionais como angústia, stress, culpa e raiva. Contudo, esta falta de motivação também pode estar ligada diretamente ao trabalho que já se tinha e que por sinal já não trazia qualquer motivação a nível pessoal.

7. Depressão Pós-Parto: Diferente dos chamados «dias tristes» ou «baby blues», caracterizados por uma certa tristeza e vontade de chorar, associados ao cansaço, medo e sentimento de solidão, este tipo de depressão pode aparecer e durar dias, semanas ou meses depois da mãe ter o bebé. Os sintomas são iguais aos dos episódios típicos de depressão noutras idades, mas aqui encontram-se ligados à dificuldade em superar as tarefas diárias e à forma como estes afetam a capacidade da mãe cuidar de si mesma e do bebé. Manifestam-se por perda de interesse em coisas que antes se gostava (como sexo) ingestão de mais ou de menos comida do que o normal, ataques de pânico e nervosismo em grande parte do tempo, pensamentos muito rápidos, muitas vezes associados à culpa, tristeza, preocupação em não ser boa mãe; medo de estar só com o bebé, problemas de adormecer ou pelo contrário dormir demasiado, pensar em fazer mal a si mesma ou ao bebé devido muitas vezes a alterações de estados de ânimo, acompanhados por um sentimento de mal-estar e enjoos, etc.. Estes sintomas duram mais de 2 semanas (tal como já se viu nos sintomas típicos de uma depressão geral).

O QUE ESTÁ NA SUA ORIGEM? QUE TIPO DE CAUSAS?

Raramente a depressão tem apenas uma causa única; deriva sim de uma interação ou confluência de fatores biológicos, físicos, psicológicos e sociais, acompanhados muitas vezes de características que são inatas ao próprio indivíduo. Fatores de stress agudo, como a perda ou a morte de uma pessoa importante ou situações de sobrecarga crónica podem desencadear a depressão, sendo que esta pode gerar ainda mais stress, mais disfunção e piorar a situação vital da pessoa afetada. Fatores sociais como uma adaptação a novas situações (matrimónio, perda do emprego, o cuidado com um familiar com doença crónica) são causas que apresentadas primeiramente como stress, podem desencadear depressão.
Contudo, é muito importante ter em atenção que «golpes da vida», geradores de tristeza e alterações anímicas, não significam necessariamente a existência de depressão. A presença da mesma prende-se com a continuidade de fatores e estados pessoais que se vão manifestando e transcorrendo. É necessário prevenir, tratar, cuidar.

COMO SE TRATA?

Um tratamento efetivo, consistente e cuidado da depressão deve de estar relacionado com um conceito global e plural no que diz respeito à questão individual de «quem é» o paciente, bem como aos sintomas apresentados. No entanto, diferentes planeamentos de psicoterapia, juntamente com terapia medicamentosa (caso seja depressão moderada ou grave), juntamente com terapias individuais ou grupais orientadas para a superação de sintomas e desenvolvimento de condições saudáveis, tornam-se essenciais para o tratamento desta doença. Do diagnóstico ao tratamento, a fiabilidade é um fator muito importante, que deve de ser considerado por profissionais de saúde altamente capazes e dirigidosPat3 ao Ser Humano com depressão como um Ser único e individual.
Os tratamentos psicossociais segundo a OMS (2014), deveriam ser os de 1ª eleição na depressão leve. Tratamentos farmacológicos e psicológicos são eficazes para uma depressão de moderada a grave. No entanto, deve-se tomar em atenção que os antidepressivos não devem ser utilizados em crianças, nem numa 1ª instância, em adolescentes, sendo preferível outro tipo de terapias psicológicas, cognitivo – comportamentais e médico – complementares. São exemplos:
• Terapia comportamental
• Psicoterapia interpessoal
• Elementos constitutivos de psicoterapia (Gestão de stress, terapia profunda ou psicanálise, terapia sistémica)
• Formas de terapias adicionais e acreditadas sem medicação (terapia da vigília, fototerapia, métodos de estimulação do nervo vago – MNV, estimulação magnética transcraneal – EMT
• Tratamentos médicos complementares (terapias naturais, medicina tradicional chinesa, massagens, aromaterapia).

Não nos podemos centrar num paradigma médico e patologizante, tal como referiu Bernik (2014); devemos antes concentrar a nossa atenção no desenvolvimento da saúde holística do homem, valorar as suas condições e tributos pessoais e colocá-los em prol da sua realização plena e consequentemente, de uma sociedade mais saudável; devemos de tomar em atenção os cuidados primários, métodos que previnam o stress, cuidados capazes de resolver o problema incidente, antes deste mesmo existir ou desenvolver-se. Só assim, poderemos contrariar na vida de cada qual a existência desta problemática, desta tendência denominada de «depressão».
Boas leituras.

Artigo de Patrícia Marques

Bibliografia:
American Psychological Association - La depresión PostParto (2010). Apa, consultado em Outubro 5, 2014, em http://www.apa.org/pi/women/resources/reports/postpartum-depression-spanish.pdf
Bernik, Vladimir – Depressão será a doença mais prevalente em 2030 (2014). RBM Especial Neuropsiquiatria 71, Consultado em Outubro 2, 2014, em http://www.moreirajr.com.br/revistas.asp?fase=r003&id_materia=5599
Biazotti, L.C; Reis, A. L. B – Depressão pós-parto: sintomas e tratamento da tristeza materna (2010). Dep. Enf. Das Faculdades Interadas de Ourinhos, consulta em Outubro 2, 2014, em http://fio.edu.br/cic/anais/2010_ix_cic/pdf/05ENF/15ENF.pdf
Centro de Prensa (OMS) – La depresión (2012). Organización Mundial de la Salud – Nota descriptiva 369, consultado em Outubro 2, 2014, em http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs369/es/
Keck, Martin – La depresión (2010). Lundbeck (Suiza) – Dokument letzmals geprüft, consultado em Outubro 2, 2014, em http://www.depression.ch/documents/depressionen_es_neu.pdf
Rodrigues, Catarina – «Acabaram as férias. Calma, há solução para o stress que já está a sentir» (2014). Observador, consultado em Outubro 5, 2014, em http://observador.pt/2014/08/31/acabaram-ferias-calma-ha-solucao-para-o-stress-que-ja-esta-sentir/