Derby: Liderança alterada com base na eficácia

Costuma dizer-se que quem ri por último, ri melhor. Esta máxima é bem capaz de ser mais uma das frases de algibeira que Rui Vitória vai passar a proferir em cada Conferência de Imprensa e a ter numa moldura à cabeceira. O treinador do Benfica tem agora motivos para sorrir e acreditar que “em frente é que é o caminho”. Os encarnados venceram o Sporting por 0-1, em jogo a contar para a 25ª jornada da Liga NOS. Para a história fica o novo dono do 1º lugar, que a 9 jornadas do fim, pode ter dado um passo muito importante rumo ao título.

O derby começou logo durante a semana. Acusações de parte a parte, pressão posta na equipa de arbitragem e muita tensão entre os adeptos de ambas as equipas. O jogo em Alvalade seria, sem dúvida nenhuma, quente. Duas equipas separadas por um ponto, mas mais que isso, pelo orgulho inerente a uma rivalidade centenária. Do lado do Sporting, Jesus queria continuar a ganhar pelo óbvio motivo de ficar em primeiro e poder continuar assim a atirar à cara – como tanto gosta de fazer – de Rui Vitória que este, nunca lhe ganhou um derby. Do outro lado da barricada, do prisma dos encarnados, a vitória era uma questão vital neste campeonato; tanto em termos futebolísticos, visto dar o 1º lugar, como no campo do orgulho, campo que, após perder três vezes em três jogos, está mais do que ferido. Os motivos para ambos quererem sair vitoriosos eram mais do que suficientes para se presenciar um bom espetáculo. Dentro de campo, claro. Fora do mesmo os protagonistas serão sempre maus actores e o enredo carregadinho de intrigas, calúnias, meias verdades e acusações infundadas. Ou como se costuma dizer, uma novela da SIC.

Em todo o jogo grande, tem de existir uma contrariedade. Seja ela de que foro seja e tenha ela as implicações que tiver. Neste caso, a lesão de Júlio César horas antes do derby, foi um rude golpe na estratégia benfiquista. O jogo ia começar. Quase 50 mil nas bancadas, um ambiente infernal com os adeptos da casa a darem o máximo de apoio à equipa. Tarjas ao alto. Insultos prontos a serem proferidos. Duas equipas em sistemas tácticos quase idênticos, actuando em 4-4-2. O início do jogo não foi muito intenso. Muito repartido, com o Benfica a estar presente no meio-campo leonino e os viscondes de Alvalade a fazerem uso das suas boas transições ofensivas para colocar em sentido a defesa encarnada. Os primeiros 20 minutos tiveram um ascendente dos visitantes, que conseguiram impor a sua estratégia e condicionar o ímpeto atacante do adversário; tudo assente num meio-campo coeso que se conseguia desdobrar rapidamente dando cobertura defensiva e proporcionando iniciativas ofensivas. Aos 21 minutos, através de um remate de Samaris que ressaltou em William, Mitroglou acabaria por colocar a bola dentro da baliza e fazer assim o 0-1. Muito oportunista o grego, silenciou o Estádio de Alvalade e pôs os encarnados numa situação privilegiada para o resto do encontro. A partir do golo houve uma maior preponderância ofensiva por parte do Sporting. Eliseu foi muito massacrado, em virtude da grande maioria das jogadas ofensivas se desenrolar pelo seu lado. A intensidade de jogo aumentou, assim como a dinâmica de ambas as equipas com bola, o que acabou por conferir um ritmo mais elevado ao jogo. Os homens da casa passaram a dominar a partir dos 35 minutos. Contudo, nesses 10 minutos até ao intervalo, apenas causaram perigo num remate fortíssimo de Jefferson à barra, à passagem dos  40 minutos. Artur Soares Dias apitava para o intervalo. De salientar a qualidade defensiva dos encarnados, que tiveram em Lindelof o esteio do primeiro tempo.

O intervalo pareceu uma longa espera para os sportinguistas, uma vez que queriam ver a reacção da sua equipa à adversidade e todos esperavam um golo nos primeiros dez minutos.  Pode dizer-se que a 2ª parte começou de uma forma completamente díspar quando comparada com a 1ª. Logo a abrir, um amarelo para Ewerton, um remate perigoso de Renato Sanches e muito mais dinamismo da parte do Sporting. Em tudo mais interessante que os primeiros 45 minutos, diga-se a verdade. Os leões estavam mais pressionantes e instalaram-se no meio-campo rival. O discernimento é que não era muito. Bolas cruzadas em excesso, falta de ideias e pouca clarividência no momento de decidir, a juntar a tudo isto,  Bryan Ruiz estava numa noite em que não deveria ter saído de casa. Em 10 minutos, primeiro aos 60 e depois aos 70, tem dois falhanços clamorosos; sendo que o segundo é escandaloso de mais para ser verdade. O costa-riquenho falhou sem ninguém na baliza uma bola com selo de golo, Jorge Jesus nem queria acreditar. Dos 70 minutos para a frente, o futebol foi sempre igual: Benfica com linhas compactas e coesas; Sporting a explorar os flancos e a bombear muitas bolas para a área e um resultado que não mais se alteraria.

Em suma, o Benfica tem de agradecer a Lindelof, pela enorme exibição que fez, e a Rui Vitória, que soube gerir o jogo sem nunca entrar em loucuras. É certo que os encarnados pouco ou nada jogaram, pouco ou nada criaram ou sequer perigo causaram, no entanto, os 3 pontos vão para a turma de Rui Vitória, que conseguiu assim uma preciosa conquista e um portentoso lustre ao ego por ter derrotado Jorge Jesus. Relativamente ao treinador dos leões, é possível afirmar que foi atraiçoado pelo seu ego, como se viu na conferência de imprensa pós-derby. Um treinador perdido no discurso e dominado pela “azia” – ou pela revolta, se preferirem – que o assolou após 90 minutos de desperdício por parte da sua equipa. Referiu que “o Benfica jogou como uma equipa pequena”, ou ainda que “o Benfica não sabe como ganhou”. Tudo isto até pode ser verdade, todavia, convém não ter memória selectiva e apagar os 6 anos do outro lado da segunda circular em que muitas vezes esteve na situação que agora critica. É fulcral ter reminiscências do tempo em que afirmava aos sete ventos que “o que interessa é ganhar”; pois bem, hoje perdeu de uma forma que utilizou muitas vezes para ser ele próprio o herói. Se é bonito? Não. Agora, como diria Rui Vitória numa palestra sua, “quem tem telhados de vidro, não atira pedras”. Jesus atirou, partiu o vidro e ainda ficou impávido a vê-los espetarem-se na sua cabeça; quando assim é, torna-se complicado não apontar o dedo.

A Liga NOS está mais competitiva que nunca. Os três “grandes” estão de armas apontadas à grande batalha que serão estas nove jornadas. Verdade seja dita, o futebol praticado pelos três do costume, não é o melhor, no entanto, os níveis motivacionais estarão mais altos do que nunca. Com um calendário mais acessível, o Benfica posiciona-se assim como o favorito à conquista do tri-campeonato. O certo é que a recta final aproxima-se a passos largos e com isso vem a pressão inerente. Os adversários não tirarão o pé do acelerador e o ritmo desta viagem de “ferrari” será alucinante. É preciso que todos os treinadores ponham o cinto, para que não se deixem comer “de cebolada” perto da linha da meta.