Um desabafo sobre os ataques a Bruxelas e o terrorismo

Por norma não sou de escrever textos sobre estes assuntos, mas todos nós temos limites e o meu acaba de ser ultrapassado. Estou farto! Estou farto de ler e ouvir coisas escritas e ditas sobre os atentados terroristas que ocorrem, sobretudo, pela Europa fora. Primeiro que nada: dar apenas notícia de terrorismo que passa em solo europeu é de uma hipocrisia brutal. Como se só importasse se fosse aqui ao lado e não fosse importante se tal ocorresse na Ásia ou em África.

Bem sei que, de vez em quando, lá surgem notícias sobre esses acontecimentos, quer seja porque infelizmente estava um português nas vítimas dos atentados, ou porque foi algo em grande, ou porque o burburinho sobre o assunto era de tal maneira grande, que era obrigatório dizer algo sobre isso.

Confundir os ataques terroristas com a ajuda humanitária aos refugiados é coisa de quem gosta de causar o pânico, e alimentar especulações sobre coisas que não existem. Facto é que até um dos candidatos a Presidente dos EUA, Donald Trump, quer impedir o país de receber refugiados, pois acha que estes são terroristas. Até onde iremos, neste pobre Mundo?

Depois de tantas reportagens, tantas explicações, tantas sátiras, será que ainda ninguém percebeu que atentados como o de Paris, ou o de hoje, na Bélgica, são precisamente o motivo pela qual tanta gente foge da Síria, do Líbano ou de outros países em perigo? A ameaça não deve ser vista pela religião ou pela zona do Globo de onde as pessoas vêm. Os terroristas podem estar ao virar da esquina, afinal basta relembrar que até há portugueses envolvidos no grupo terrorista mais conhecido e mais falado nos dias de hoje.

Está na hora de dizer basta! Está na hora de dizer chega a todas as mentiras que a Comunicação Social propaga e que as redes sociais alimentam! Não sou daqueles que acha que isto tudo é culpa dos refugiados, dos muçulmanos, dos árabes, ou de qualquer outra nacionalidade/raça/religião que não aquela que conhecemos na Europa. Estou fora de Portugal, estou inclusivamente num país repleto de muçulmanos e de árabes, e não os vejo como diferentes ou anormais, para mim são perfeitamente normais, com os mesmo rituais que os católicos porventura têm, ou já se esqueceram que muitos dos católicos foram ensinados a rezar todos os dias? A entidades tão credíveis como anjos da guarda, virgens Marias…Ou será que é apenas porque os nomes dados pelos muçulmanos são diferentes? Em vez de Deus, chamam Alá. Em vez do seu profeta ser Jesus, chama-se Maóme (Mohammed). Dá que pensar, não é?

Vivemos actualmente uma crise de valores! Países como a Hungria, a Áustria, a Dinamarca desrespeitam todo e qualquer acordo assinado, quer a nível europeu, quer a nível mundial. Nada lhes acontece, a não ser uma “reprimendazinha” das entidades supranacionais, que deveriam tomar medidas. Mas ai de quem se atreva a ter mais x por cento de dívida do que o permitido, que ameaçam logo com troikas, resgates, assistências financeiras, austeridade, cortes. Que Mundo é este? Será que não seria mais importante respeitar as vidas humanas? Ou as duas guerras mundiais que ocorreram no século passado não são suficientes para percebermos e valorizarmos a vida de um ser humano? Será que as fotos que nos chegam diariamente de famílias de várias nacionalidades a sofrer horrores ou porque foram obrigadas a sair do seu país, vendo tudo destruído, não é chocante o suficiente? Será que as imagens e os relatos de inúmeras pessoas que morreram ao tentar fugir do terrorismo, não são chocantes e esclarecedoras o suficiente, para pararmos com esta estupidez de dizer que a culpa é dos refugiados? Todos são vítimas!

Se alguém sugere ou defende ideias de integração é logo chamado de cobarde, idiota, menino, ou outras adjectivações que rebaixam a pessoa, porque é muito mais fácil ir por aí do que criticar construtivamente uma ideia ou uma política. Ou isso, ou porque não há neurónios suficientes para compreender as mesmas…  Será que a localização deste ataque (Bruxelas) não estará precisamente relacionado com o facto de aí se situar e realizar a Comissão Europeia? É só pensar um bocadinho! No meio destes acontecimentos, as pessoas tendem a esquecer que houve pessoas apanhadas por estes atentados, que há famílias separadas por causa destes acontecimentos, concentrando-se apenas no facto de o suspeito ser uma pessoa com um nome árabe, continuando assim a destilar ódio para com os muçulmanos e os refugiados, sejam estes últimos de que religião forem…

Porém, apesar de tudo, estes acontecimentos têm de positivo, se é que se pode chamar a algo “positivo”, no meio de tanto terror, os actos humanitários. Segundo consta nas notícias, no Twitter está a surgir, no momento em que escrevo esta crónica, um movimento semelhante ao que aconteceu após os atentados de 13 de Novembro do ano passado em França. Pessoas a dizerem que têm a porta aberta para acolher pessoas que necessitem de abrigo, com a hashtag #Porteouverte (porta aberta), ou outras manifestações como a hashtag #IkWilHelpen (eu quero ajudar). São movimentos como este que me fazem ter ainda alguma esperança e crença na humanidade, porque felizmente não somos todos iguais e como tal há quem no meio do desastre brote como um salvador e um rosto da esperança.

No Facebook, também há notícias importantes. Alguém postou nesta rede social que é preciso doações de sangue no Hospital St. Pierre, em mais um gesto de humanidade nestes momentos complicados. Se nada fizermos para prevenir e evitar as comparações de uns atentados com a vaga de refugiados, se nada for feito para parar as comparações entre os muçulmanos e os radicais que dizem lutar em nome do Islão isto só vai piorar. O que conseguiremos nós se estivermos divididos e fracturados a defender as nossas convicções, se não repararmos no que realmente importa que é unirmo-nos na luta contra o terrorismo?!

“Hatred does not cease by hatred, but only by love”  – Buddha

“Imagine all the people living life in peace” – John Lennon