Desafio Aceite: inseguro?

Há dias “gostei” no Facebook de uma foto de uma amiga minha já de muitos anos, sem reparar sequer na descrição. E ela minutos depois diz-me no chat da mesma rede social que como tinha gostado da foto tinha de colocar uma minha também a preto e branco, a favor da luta contra o cancro. Não sou de seguir correntes, mas vindo de quem vinha o pedido e pelo assunto que era – embora tivesse a noção que era apenas uma corrente e uma manifestação de intenções, não uma ajuda efectiva à luta contra o cancro – acedi e peguei numa foto minha e da minha irmã, pus a preto e branco e lá está.

Mais tarde vi uma onda de indignação que, sinceramente, não entendo. E explico porquê.

Muita gente diz “isso é uma estupidez, isso não ajuda em nada a luta contra o cancro”. Concordo parcialmente. Muita gente a falar no assunto reacende a discussão sobre o assunto. E é um assunto importantíssimo. Quem tem ou teve – como eu – pessoas muito próximas que sofreram esta doença, sabe que é importante que esteja sempre presente a importância da luta contra o cancro e do auxilio a quem o faz diariamente.
Outras pessoas dizem “em vez de colocarem fotos a preto e branco nas redes sociais, deviam era ir inscrever-se como doadores de medula ou doar dinheiro para aqueles que estudam ou promovem a luta contra a doença”. E eu pergunto: como é que sabem que muitas das pessoas que colocaram as fotos a preto e branco no Facebook não o fizeram já ou não têm intenções de o fazer? Porque não o colocaram na rede social? Eu já fiz doações (não tantas como gostaria) e, que me recorde, só em duas delas coloquei informação nas redes sociais (porque tinha lido que havia poucas doações e achei que, com o exemplo, podia motivar os meus amigos a fazê-lo também). Porquê? Porque quando faço uma doação é porque quero ajudar e não ganhar “likes” nas redes sociais ou ser reconhecido por isso.
E com isto não quero dizer que quem tenha possibilidade de fazer doações ou voluntariar-se para ajudar não o deva fazer. Nem que, se achar necessidade disso, não o deva publicar nas redes sociais. Cada qual sabe de si. Mas assim como eu respeito quem faz o que quer, respeitem-me também quando publico uma foto a preto e branco nas redes sociais porque foi a minha decisão.

Mais do que isso, devemos respeitar a opinião de cada pessoa. Se eu achei que, no meu mural e para os meus amigos, devia colocar uma foto a preto e branco, seguindo a sugestão da minha amiga, os meus amigos devem, antes de mais, respeitar a minha opinião. Assim como eu respeito a opinião de quem me diz que aquilo não serve para nada. É a opinião deles, tudo bem. Mas se eles colocassem algo que a mim não me dissesse nada, eu não ia criticar só por isso.
Vou-vos dar um exemplo: tenho muitos amigos para quem a religião é muito importante. E colocam no Facebook posts sobre religião, alguns em forma de corrente do género «tu que estás a ler isto, irás partilhar e dizer “amém”». Para mim aquilo não me diz nada e eu não vou seguir a corrente. Mas diz para a pessoa que a partilhou, por isso não vou fazer pouco ou desrespeitar a crença ou fé da pessoa.

Entretanto diz a comunicação social que a imprensa estrangeira e autoridades policiais – entre as quais a Policia judiciária – têm alertado para os perigos de seguir esta corrente. Citando a SIC, “a PJ suspeita que a campanha é uma forma de angariação de e-mails e introdução de vírus nos endereços eletrónicos, para depois roubar dados”. E eu não compreendo como é que, não tendo o meu email no Facebook (está escondido nas definições) e publicando a foto apenas para os meus amigos como faço na esmagadora maioria das vezes, alguém vai conseguir ter acesso aos meus dados. É que se o fazem por uma simples foto, podiam fazê-lo quase todos os dias, pois muitas vezes publico outras fotos, vídeos ou simplesmente texto, com as mesmas permissões (só para os meus amigos). Se de todas as vezes que o fizer estiver a expor os meus dados pessoais, mais vale fechar a conta do Facebook.
Se os convites chegassem por um link para seguir (ou por email), era completamente diferente, pois podiam estar infectadas com virus. Mas assim, gostaria que a Policia Judiciária explicasse melhor qual é o perigo e porquê, porque não entendo.

Crónica de João Cerveira

Este autor escreve em português, logo não adoptou o novo (des)acordo ortográfico de 1990