Desculpe, obrigado, por favor… – Rafael Coelho

Generalizou-se na nossa sociedade o não hábito da boa educação.

Hoje em dia é muito difícil para muita gente pedir desculpa por algo que fizeram ou disseram que lhe saiu ou aconteceu de forma infeliz. Umas vezes essa atitude não é pensada devidamente e as pessoas deslumbram-se com o mediatismo que as personagens que representam desempenham na sociedade e esquecem-se que existe uma opinião pública que não é parva nem burra e que, por sinal, cada vez é mais culta e tem maior conhecimento, sabe julgar, opinar e avaliar palavras e atitudes. No entanto, esse conhecimento e essa cultura, nem sempre têm sido sinónimo de boa educação, antes pelo contrário. No tempo da minha infância e adolescência – décadas de 70 e 80 – os meus pais, avós e educadores ensinavam as suas crianças a pedirem “desculpa” quando faziam algo errado, ensinavam a dizer “obrigado” quando agradeciam algo que lhes davam ou faziam por elas, a dizerem “por favor” quando pediam alguma coisa, a dizerem “com licença” ou “perdão”, quando se retiravam, quando espirravam ou tossiam, etc. As crianças eram ensinadas a tratar os mais velhos por vossemecê (vulgo você), incluindo pais, avós, tios, professores, educadores e outros adultos com os quais tivessem contacto. Eram ainda ensinados a chamar “senhor ou senhora” em lugar de “profes”, “velhos”, etc.

Continuo a defender que a primeira escola é que se aprende e se mostra em casa. Que o melhor exemplo deverá o que é dado por mais e irmãos mais velhos em casa. Se os mais novos não respeitarem os seus pais e estes não impuserem o seu respeito e autoridade, então a quem vão as crianças respeitar e obedecer?

Os tempos modernos e as tecnologias disponíveis nas décadas de 90 e 2000, alteraram os hábitos de ocupação do tempo das crianças e jovens. Hoje em dia, têm muito mais em que se entreterem dentro de casa, sem terem que sair dela e os seus hobbies são essencial e perigosamente sedentários. Brincadeiras de antigamente como as apanhadas, o jogo do mata, jogar à bola na rua, andar de bicicleta, ir até ao campo, são atividades que saíram dos hábitos das crianças, para os substituírem pela televisão, pelos jogos e atividades em consolas e computadores. Isso não seria necessariamente mau, se essas não fossem as únicas atividades de que as nossas crianças disfrutam hoje em dia. A inevitável inércia, falta de movimento e exercício das crianças, provocam obesidade, excesso de ingestão de alimentos não aconselháveis e outras práticas que podem afetar a saúde física, psicológica e espiritual das crianças.

Para mim, educação é tudo isto e não apenas aquilo que se aprende na escola. Mais importante ainda que a educação é a formação, principalmente a formação cívica e o urbanismo. Mais tarde, quando forem adultos, é natural que estas crianças sofram de falta de bons modos, falta de civismo no trabalho, na condução, nas filas de supermercado e das lojas do cidadão, nos estádios de futebol, nas manifestações, entre outras mais.

Mas para educar os novos, era necessário que também os adultos fossem pessoas bem formadas, o que, infelizmente, não se vislumbra com grande frequência na nossa sociedade.

Pedir desculpa, agradecer e pedir algo por favor, são atitudes que continuam com plena validade e não devem envergonhar quem as diz e as pratica. Aqui fica mais uma dica para a convergência de uma sociedade melhor.

 

Crónica de Rafael Coelho
A voz ao Centro