Generalizou-se na nossa sociedade o não hábito da boa educação.
Hoje em dia é muito difícil para muita gente pedir desculpa por algo que fizeram ou disseram que lhe saiu ou aconteceu de forma infeliz. Umas vezes essa atitude não é pensada devidamente e as pessoas deslumbram-se com o mediatismo que as personagens que representam desempenham na sociedade e esquecem-se que existe uma opinião pública que não é parva nem burra e que, por sinal, cada vez é mais culta e tem maior conhecimento, sabe julgar, opinar e avaliar palavras e atitudes. No entanto, esse conhecimento e essa cultura, nem sempre têm sido sinónimo de boa educação, antes pelo contrário. No tempo da minha infância e adolescência – décadas de 70 e 80 – os meus pais, avós e educadores ensinavam as suas crianças a pedirem “desculpa” quando faziam algo errado, ensinavam a dizer “obrigado” quando agradeciam algo que lhes davam ou faziam por elas, a dizerem “por favor” quando pediam alguma coisa, a dizerem “com licença” ou “perdão”, quando se retiravam, quando espirravam ou tossiam, etc. As crianças eram ensinadas a tratar os mais velhos por vossemecê (vulgo você), incluindo pais, avós, tios, professores, educadores e outros adultos com os quais tivessem contacto. Eram ainda ensinados a chamar “senhor ou senhora” em lugar de “profes”, “velhos”, etc.
Continuo a defender que a primeira escola é que se aprende e se mostra em casa. Que o melhor exemplo deverá o que é dado por mais e irmãos mais velhos em casa. Se os mais novos não respeitarem os seus pais e estes não impuserem o seu respeito e autoridade, então a quem vão as crianças respeitar e obedecer?
Os tempos modernos e as tecnologias disponíveis nas décadas de 90 e 2000, alteraram os hábitos de ocupação do tempo das crianças e jovens. Hoje em dia, têm muito mais em que se entreterem dentro de casa, sem terem que sair dela e os seus hobbies são essencial e perigosamente sedentários. Brincadeiras de antigamente como as apanhadas, o jogo do mata, jogar à bola na rua, andar de bicicleta, ir até ao campo, são atividades que saíram dos hábitos das crianças, para os substituírem pela televisão, pelos jogos e atividades em consolas e computadores. Isso não seria necessariamente mau, se essas não fossem as únicas atividades de que as nossas crianças disfrutam hoje em dia. A inevitável inércia, falta de movimento e exercício das crianças, provocam obesidade, excesso de ingestão de alimentos não aconselháveis e outras práticas que podem afetar a saúde física, psicológica e espiritual das crianças.
Para mim, educação é tudo isto e não apenas aquilo que se aprende na escola. Mais importante ainda que a educação é a formação, principalmente a formação cívica e o urbanismo. Mais tarde, quando forem adultos, é natural que estas crianças sofram de falta de bons modos, falta de civismo no trabalho, na condução, nas filas de supermercado e das lojas do cidadão, nos estádios de futebol, nas manifestações, entre outras mais.
Mas para educar os novos, era necessário que também os adultos fossem pessoas bem formadas, o que, infelizmente, não se vislumbra com grande frequência na nossa sociedade.
Pedir desculpa, agradecer e pedir algo por favor, são atitudes que continuam com plena validade e não devem envergonhar quem as diz e as pratica. Aqui fica mais uma dica para a convergência de uma sociedade melhor.
Concordo com a maior parte do que está aqui escrito, mas com o devido respeito, a época de 1990 não está aí a fazer nada. Eu cresci nessa época, sou de ’90 de gema, e no entanto tenho sempre esses cuidados de dizer obrigada e por favor. Crescendo nessa altura, claro que todas as minhas companhias são fruto dos ’90 e não conheço ninguém da minha idade que seja, como se diz, “mal-educado”.
Sim, às vezes em contexto de amigos, não tomamos as delicadezas como parte das conversas quando partilhamos comida, por exemplo. É verdade. Mas gosto de pensar que é fruto do companheirismo, não termos que pedir “por favor” e “obrigada” de cinco em cinco segundos. Está implícito, porque somos bem-educados. E sim, existe uma enorme diferença entre pessoas que fazem isto e gente realmente mal-educada. Lá está, o contexto é de amizade e companheirismo, mas versus um ambiente entre estranhos, nunca, mas nunca me esqueço das boas maneiras. E quem diz eu diz toda a gente com quem confraternizo.
Claro que, no que toca às criancinhas de 2000+, a conversa é toda ela algo inteiramente diferente. E tenho muita pena, porque até a mim me incomoda estar rodeada de crianças que não sabem pedir nada por favor e não só, não são capazes de pedir e pelo contrário, dizem “quero”. Querer, toda a gente quer, mas a diferença está mesmo em saber pedir.
Sou portanto, e rodeio-me de, pessoas bem educadas, civis e formadas também. Talvez sejamos a excepção à regra, mas acho que ainda somos o comum. Quanto às gerações futuras… Veremos. Por elas não posso falar.
A massificação da Comunicação assim como outros fatores sociais e económicos conduziram a sociedade humana a alterações profundas nos seus comportamentos. Para muitos o acesso fácil a tudo fez com que alterassem as formas de tratamento. Não desculpo de forma alguma as faltas de educação, mas há que compreender as condições em que as mesmas surgiram. Não se trata de comparar décadas em termos de evolução comunicacional, trata-se sim da urgência em alterarmos as nossas atitudes e deixarmos de culpar os outros pelas nossas faltas.
Um passo para a mudança passa pelo reconhecimento das consequências negativas dos comportamentos humanos. Como deve o ser humano agir perante a sua incapacidade em reconhecer as suas falhas?
Ainda há muita estrada para percorrer…