Deves julgar que isto é o da Joana – Amílcar Monteiro

Ouço, com regularidade, muitas pessoas a proferirem a expressão “deves julgar que isto é o da Joana”, normalmente quando querem repreender alguém por estar a tomar demasiadas liberdades para o local onde se encontra. O problema é que nunca nenhuma destas pessoas explica quem é esta tal de Joana. Afinal de contas, quem é esta mulher?!

No entanto, apesar de não sabermos quem ela é, anda por aí muita gente que parece conhecê-la. E a avaliar pela forma como todos falam dela, esta Joana deve ser uma grandessísima porca. Mas o mistério não fica por aqui. Mais questões surgem quando reflectimos sobre “O da Joana”: que sítio é este? Onde é que fica? E em que estado é que aquilo não deve estar? Imagine, leitor, que este sítio é a casa dela. Deve ser uma autêntica pocilga: caixas de pizza vazias por todo o lado, o chão com poças de vómito, cadáveres de gato em decomposição espalhados pela sala… Eu cá não quero frequentar um sítio destes.

Claro que é mais preocupante se “O da Joana” se referir a um restaurante de que esta tipa é proprietária. Porque se calhar até é um sítio onde eu já fui comer, em que a zona das refeições tem uma aparência asseada, mas depois a cozinha é uma javardeira:  talheres e pratos que não são lavados, comida fora de prazo, cozinheiros leprosos a mexer a sopa… E isto remete-me para aquelas alturas em que fico uma semana com os chamados “espirros anais” e em que penso “Epá, isto deve ter sido qualquer coisa que eu comi…”. Pois bem, talvez tenha sido neste restaurante e o que eu comi poderá ter sido um bocado de cozinheiro estragado.

Mas existe ainda uma terceira hipótese, que me anda a dar cabo do juízo: a possibilidade de “O da Joana” se referir ao pipi da Joana. E isto interfere com a minha vida, porque muitas vezes estou por aí na noite, conheço uma mulher jeitosa – daquelas que provocam automaticamente 3/4 de erecção – a coisa está a correr bem, boa química, começa a gerar-se aquele clima, só que depois ela diz-me que se chama Joana. E pronto, é o que basta para eu perder logo o interesse. É que na minha cabecinha, aparece logo aquela pergunta: “Será que é esta aquela Joana que toda a gente diz que é uma porca?”. Não que eu tenha algo contra as porcas, atenção – até acho que elas têm a sua função na sociedade – mas a questão é que, normalmente, é uma classe que apresenta uma certa tendência a ter o pipi infestado com doenças.

Por toda esta indefinição e consequências que daí advêm, é que eu acho que se torna necessário resolvermos este problema. E só consigo encontrar duas soluções para o fazer: ou as pessoas que conhecem a identidade desta mulher divulgam a sua fotografia e uma lista dos sítios que ela frequenta, para que todos os outros também a possam evitar; ou então muda-se a expressão para algo que nos permita perceber, exactamente, aquilo que se está a tentar dizer. Como por exemplo, “Deves julgar que isto é o da Ana Malhoa”. Desta forma, penso que tudo ficaria mais claro.

Crónica de Amílcar Monteiro
O Idiota da Aldeia
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