Dez Mil Anos Após a Moeda Única

A crónica que se segue, pode conter várias referências musicais. Tome nota que caso não conheça, aconselho a consultar o motor de busca mais perto de si.

Boas meus caros, como estão? Deste lado é como a música dos Rio Grande, “Entre os dias que passam menos mal/ Lá vem uns que nos dá mais que fazer”. E na verdade, campanha eleitoral deveriam ser desses dias, mas infelizmente esta foi uma campanha atípica. Se começarmos a ver este meu dia-a-dia eleitoral do ponto de vista de quem é militante de uma das “jotinhas”, deveria de andar ocupado em eventos de abanar bandeirinhas e jantares para mostrar uniões, eventos e jantares esses que não me interessam minimamente e por isso faço o favor de saltar. Por outro lado, se analisarmos a minha pacata, monótona e desinteressante vida do ponto de vista de um interessado na ciência social apelidada como Economia, os dias foram ainda mais aborrecidos, e desta vez sem culpa própria.

Ora entre o regresso às aulas e a atenção, que acho devida, ao fenómeno acima referido, notei que nos debates a ausência do tema é mais do que apenas preocupante, algo digno de nota. Pequenos apontamentos feitos aqui e ali, mas em suma, mais dúvidas o que explicações. No restante da campanha as televisões dão mais destaque à Coligação PSD/CDS e ao PS. Mas visto que a estes a Economia é um tema que pouco interessa falar e que a coligação não tem sequer Programa Eleitoral (e que o PS tem um com as contas feitas pelos Led Zeppelin, ao mesmo tempo que compunham o Kashmir*), a minha adorada Economia foi esquecida.

Mas até aqui trata-se apenas de uma campanha atípica mais no conteúdo do que na forma porque, note-se,  o debate político em Portugal não costuma primar pela qualidade. Lembro-me que à conversa com um amigo pela conhecida rede-social “Album de Retratos”, após o debate televisivo entre os dois principais candidatos à vitória nas eleições, eu disse “Até o Marcelo dá a vitória a Costa”, ao que ele me responde “Sim, mas até na ultima divisão distrital pode haver vencedores nos jogos”. Diga-se que esta foi talvez a melhor e mais sincera análise às eleições em espaço público. Repito, “mais sincera”.

Porquê? Numa crónica do Daniel Oliveira ao Expresso, aquando do Referendo Grego – reparem como nem é preciso expecificar qual, todos sabemos do que falamos! OXI –  ele conta uma conversa que tem com um amigo estrangeiro que lhe pergunta: “Vocês em Portugual não têm analistas de Esquerda?” Obviamente que temos de descontar o facto do autor da frase também ele ser da extrema esquerda moderna, mas facto é que o comentário político que se ouve nas televisões portuguesas roça a qualidade do debate político em si. E este ano o debate centrou-se em pizzas, casos judiciais e de paternidade.

E por muito importante que essas temáticas podem até ser para o País, eu gostava de perceber melhor o plafonamento “X0Y” que se vai defendendo de cada lado das barricadas, gostava de perceber melhor a posição do BE em relação ao Euro, porque defende que temos de estar preparados para a saída que muitos deles classificam quase como inevitável, e de perceber se afinal de contas a Coligação tem programa para a partir de 4 de Outubro, caso vença, ou não. Em vez disso passamos o tempo todo a tentar encontrar o “Pai da Criança”, chamada Crise, cuja Sopeira foi sem alguma duvida a Troika dos credores.

O caraças do mundo é que parece estar, como sempre aliás, contra o nosso mal-fadado país, insistindo a continuar a girar, tendo problemas demasidado graves para serem esquecidos no debate interno, mas que infelizmente não se trata de um caso de paternidade, nem de um ex-recluso que pediu uma combinação cliché de extra queijo e peperoni, e dessa forma tendem a serem postos em segundo plano.

Assim de cabeça lembro-me do ISIS, do Boko Harem, dos Refugiados, da Crise Chinesa, mas agora que penso nisto, até as cabras que gritam como pessoas, é tema mais interessante do que todo este folclore. Mas a prova como os próprios agentes não estão prontos para a mudança foi, quando perguntaram a António Costa, por uma solução, em terrritório nacional, para os refugidados, a resposta incluiu o excerto “limpar matas”. Isto porque se for médico, a maior produtividade que esse indivíduo pode dar ao país de acolhimento, é sem duvida esse. Nem que mais não seja porque, como é sabido, o Médio Oriente é conhecido pelos hectares de flora seguidos.

Mas não é só de Badajoz para lá que houve a criação de novos problemas. Também “pelos caminhos de Portugal” foram existindo uns novos, outros descobertos. A privatização, que já considerei o amor escondido do Governo de Paços Coelho, é agora mesmo a amante. As ultimas feitas, caso da Carris e o Metro, foram à porta fechada. E como no clássico de Mónica Sintra, o terceiro vértice deste triângulo amoroso só descobre quando entra quarto dentro e apanha o grupo espanhol, novo dono dos nossos transportes públicos, e o Governo extasiados, depois de louco e intenso amor. “Mesmo em frente ao nosso retrato.” Mas pior, porque nem a eterna música dos divorcidados é aplicavel com este caso. “Podes ficar com a TAP, com as Águas, com a Ana, mas não ficas com tudo”. É claramente impossível, vendo que nenhuma ainda está sob alçada pública.

E sobre isso, a única forte declaração foi mesmo de Catarina Martins, que se tem apresentado como vencedora em todos os debates, relativos ao dia 4 de Outubro. Deixo também, e desde já, uma nota de apreço para a postura de alguns partidos, com o Bloco à cabeça, nesta campanha. Que sem pousarem nus para revistas – o que seria  muito agradável no exemplo das gémeas Mortágua e das suas gémeas – ou gritarem “Morte aos traidores!”, têm apresentado medidas, soluções, que quer se concorde ou não, como eu, põem-nas cá fora, com impacto mediático e o seu devido crédito. Porém, e para ser honesto, mais uma vez o debate político centra-se nos do costume e o resto é paisagem.

Diga-se com honestidade, que o PS vive um momento de “depois de ti, mais nada”, e a coligação um momento muito Toy, com dois amores que em nada têm igual. Porque entre irrevogáveis, desmentidos e “meros dados estatísticos”, a política portuguesa vive um momento muito frágil, em que a queda para os extremos, em qualquer outro país da Europa seria o mais provável, mas felizmente vivemos num país moderado em que grande parte da população ainda se lembra daquela que foi uma dolorosa ditadura.

No meio desta dança do pisca-pisca, gostava de que a política portuguesa fosse menos pimba e fosse um bocadinho mais progressista. Um bocadinho mais “harder, better, faster, stronger”.

Hoje pagamos o preço daquilo o maior engodo que alguma vez nos foi dado! Quando ouvimos falar de moeda forte esqueceram-se de informar na perda de competetividade e de soberania. Apesar de ser pro-euro, tenho consciência que a nossa transição para a moeda única foi mal feita, e por isso, estamos anos atrás da Europa. Hoje pagamos o preço de uma má campanha eleitoral da altura e vendo como as coisas estão receio que daqui a 15 anos, falar sobre os efeitos de uma má campanha de 2015.

Seja como for, e no fim desta crónica vem o apelo mais precioso, no Domingo VOTE! Não deixe outros escolherem por si!

 

* referência ao elevado consumo de substâncias recreativas que alegadamente, os integrantes da mítica banda, consumiam.