O dia do nascimento da minha princesa!

Ora viva!
O Pai Sofre de hoje é especial. Irei partilhar consigo aquele que foi o dia mais feliz e stressante de toda a minha vida: o dia do nascimento da minha princesa!

Confesso que o dia do meu casamento também não foi fácil. Primeiro porque já estava bêbado pela hora do almoço e segundo porque tive de amarrar a senhora do registo à cadeira, durante mais de 1h, só porque a minha excelentíssima esposa fez o favor de de se atrasar. O que convenhamos, não foi nada fixe… Pela primeira vez na vida soube o que eram nervos. Claro que agora, comparando com o que passei no dia em que a minha piquena nasceu, o dia do casório foi “peanners” – como diria o grande J.J..

Dia X do Y de dois mil e coiso (para calcular o X e Y basta fazer um algoritmo matemático onde X vale tanto como o primeiro digito do ano e Y é a soma do total), a minha rebenta decidiu vir ao mundo, conhecer os papás. Não que tivesse muita vontade mas lá teve de ser, ao fim ao cabo a mãe estava grávida de um bebé e não de um pónei (embora eu não me importasse de ter um pónei, como o leitor bem sabe).

Fomos até ao hospital, instalaram-nos num quarto privativo e mandaram-nos aguardar. Aquilo sim, é qualidade de vida. Tínhamos SPORTV, WC privativo, cadeira com massagens, drogas grátis, tínhamos tudo o que uma pessoa pode desejar. Bom, quase tudo… Não havia álcool no quarto. Mas em contrapartida serviam uma epidural que era de tomar e chorar por mais. Uma dose daquilo e até nos esquecíamos que o mundo à nossa volta existia.

Instalei-me confortavelmente na cama, atirei logo 3 ou 4 comprimidos para o bucho e pus-me a ver o Chelsea a jogar contra não sei quem. Eu estava nas sete quintas! Já a minha esposa não parava sossegada. Lá andava ela, de um lado para o outro, depois sentava-se numa espécie de bola gigante, depois andava mais um bocadinho, depois agachava-se, depois levantava-se… Bom, só vos digo, aquilo cansava só de ver.

Passado algum tempo eis que chegou a médica. Correu logo comigo da cama. Disse-me que o meu lugar não era ali. Quem ia entrar em trabalho de parto era a minha esposa e não eu, por isso a cama era para ela, não para mim! Confesso que inicialmente fiquei bastante chateado a sua atitude. Mas depois, assim que vi o que ela fez à pobre coitada mal se deitou na cama passou-me logo a “chateação”… “IRRA! Ainda bem que saí da cama a tempo!!”, pensei eu para com os meus botões.

Com o passar o tempo as coisas começaram a não ter assim tanta piada. A minha mulher começou a ter imensas contracções e eu comecei a ficar cada vez mais preocupado. À medida que as contracções aumentavam, mais preocupado eu ficava, até que ela gritou: “Já não aguento mais!!” e eu pensei para comigo mesmo: “Bom… Se já não estava a conseguir ver a porcaria do jogo, em condições, agora é que não vai dar mesmo!”. E foi aí que me enchi de coragem, dei-lhe a mão e disse, “Então vá, faz força querida… Que eu vou só ali a baixo almoçar e já volto.”

Foram os 30m mais longos desse dia… O tempo que passei naquela fila foi exasperante. Dezenas e dezenas de pessoas, à minha frente, iam pedindo o que comer enquanto eu estava ali, preocupado, e de coração nas mãos… Já só havia mais uma dose de perna de frango e ainda estavam 3 pessoas à minha frente. Estava lixado. Não ia conseguir… Mas felizmente Deus estava do meu lado. A pessoa antes de mim, no preciso instante em que ia pedir a perna de frango foi chamada para ir fazer uma operação. “HUU! HUUU! Pensei eu. Obrigado pessoa que estás prestes a ir à faca. Graças a ti vou poder comer aquela perna de frango suculenta. Obrigado!”.

Lá comi a perna de frango, uma sopa, 2 maças assadas, e bebi uma Coca-Cola. (Ao fim ao cabo não sabia quanto tempo teria de ficar sem comer, não é verdade?!). Entretanto descobri que o mal era geral. Também não havia álcool na cafetaria. (E aqui sou forçado a deixar um reparo: acho mal que num sitio onde os nervos das pessoas estão sujeitos a tamanha pressão não exista qualquer tipo de bebida alcoólica. Ao menos que arranjassem um vinho da casa, pá!)

Mas pronto, lá voltei para o quarto (interiormente com o desejo de que a gaiata já estivesse cá fora, mas exteriormente muito preocupado por possivelmente ter perdido aquele tão grandioso momento). E ao chegar ao quarto deparei-me com minha esposa, tal e qual como a deixei, deitada confortavelmente na cama a ver a novela.

Não me contive. Dirigi-me a ela e perguntei-lhe: “Então?! Mas isso vai ou não vai? Tenho mais que fazer, pá?!” e ela respondeu-me: “Tens toda a razão, vou já tratar disso. «PLOFT!» Já está! Toma, aqui tens a nossa princesa!”.

FIM!

Estou a brincar, não foi nada assim… Aliás, nada do que aqui foi escrito corresponde à verdade. Bom, quer dizer, quase nada. O quarto era realmente muito bom e não serviam álcool no hospital, fora isso isto são tudo devaneios da minha mente. (Filha, espero que nunca encontres esta página, sim?!)

Agora respondendo às perguntas do costume:

Sim, eu estive lá presente. Assisti ao nascimento da cachopa e foi algo de maravilhoso. E não, não a tirei lá de dentro nem tampouco cortei o cordão umbilical. Não que tivesse medo ou nojo, simplesmente acho que se estamos a pagar por um serviço os outros é que têm de ter o trabalho, não eu. Já me aborrece o suficiente quando vou a um restaurante e acabo por ter de ser eu a confeccionar a carne, quanto mais ir assistir a um parto e acabar por ser eu a fazê-lo. Se era para isso tinha ficado em casa e ao menos sempre poupava na gasolina.

“AI! AI! Pai Sofre!”