O dia em que Ronaldo se perdeu

Como ERA possível não ser fã de Ronaldo? Muitas vezes me fiz esta questão quando ele era criticado por dois motivos: tudo e nada. Hoje, faço outra: Como É possível alguém SER fã deste Ronaldo?

Sim, como é possível algum adepto gostar dum jogador que fica chateado quando a equipa onde joga marca um golo sem a sua assinatura?

Como é possível gostar dum jogador que destrói os seus colegas com menor reputação na praça pública, que passeia gelo nos treinos, tudo para se desculpar a si e só a si?

Como é possível gostar dum jogador que se recusa sacrificar um milímetro pela sua equipa?

E poderia continuar até à resposta final, no entanto, também existem outras questões para quem tem memória. Alterando apenas o tempo verbal…

Como era possível não gostar dum jogador que teve a coragem de largar o conforto de Manchester para levar luta a um talento que parecia imune a ela – Lionel Messi?

Como era possível não gostar dum jogador que nasceu sem o talento dos virtuosos e se transformou num dos melhores da história do jogo, e na minha opinião, no mais completo?

Como era possível criticar um jogador que conseguiu suplantar todos os feitos, colectivos e individuais, quer nos clubes quer na sua Seleção?

Pois é, Ronaldo mudou. É complicado falar em momentos, raramente existe AQUELE momento, mas talvez arrisque um neste caso… o dia em que recebeu a segunda bola de ouro.

E até se pode compreender, foi o dia em que finalmente foram justos com ele, depois de anos consecutivos de injustiça.

No caminho para a conseguir foi gozado pelo presidente da FIFA, foi acusado injustamente de se esforçar menos na Seleção do que no clube ou de jogar apenas para si próprio, foi traído pelo ninho de cobras crónico que o plantel do Real era… e poderia continuar.

O facto é que Ronaldo chega à confusão madrilena numa época em que tinham feito 78 pontos, e no seu ano de estreia, o Real terminou com 96. Quase 20 pontos a mais, e ainda não havia Mourinho.

O facto é que Ronaldo dava tudo na Seleção, até um cego via isso, no entanto, é preciso perceber algo de futebol para entender que um jogador das suas características precisa de estar calibrado com o resto da equipa para render a grande altura.

O facto é que em 2012 Ronaldo levou a dita geração rasca quase a campeã europeia, sendo batida apenas por uma das melhores seleções da história do jogo… em penáltis.

Tudo isto desaguou naquele momento, no momento em que finalmente se fazia justiça, em que a resiliência dum espírito notável quebrou todas as barreiras.

Mas foi também o momento em que Ronaldo se perdeu nos seus feitos, e é difícil censurá-lo tal a magnitude dos mesmos, deixando o ego tomar conta da competência e acabar com ela.

A sorte dele é que se chama CR7, uma sorte que lhe deu muito trabalho diga-se, mas imaginem se fosse outro jogador qualquer a criticar os colegas na praça pública, a revelar falta de empenho nos treinos, a preferir viajar a treinar, com a mania que era o melhor só porque sim. Por certo, o lugar desse jogador no clube era… a bancada.