Diário de uma divorciada – A mochila às costas

Tenho o prazer único de poder partilhar a história da minha amiga Telma, textos repletos de sátira, textos reveladores de uma profunda tristeza e honestidade, são de facto textos que detalham a vida real e a fase de mudança que a Telma está a vivenciar. Ponderei muito antes de partilhar estas palavras com os leitores mas relembrei o poder transformador que as palavras detém, se o testemunho da Telma ajudar nem que seja uma mulher a sentir-se bem com as suas decisões e escolhas, então valeu a pena.

Diário de uma divorciada  – A mochila às costas

Em conversa com uma psicóloga a respeito da maternidade e do divórcio, a doutora, dando um exemplo de um paciente seu, disse: “A minha mãe está mais feliz, mas quem carrega a mochila às costas sou eu.” As palavras não foram proferidas pelos filhos de Telma, mas podiam ter sido, teriam toda a legitimidade para o dizerem. Ninguém te prepara para o que se vai suceder durante e após o divórcio. É absolutamente avassalador. És a mãe dos teus filhos, depois do divórcio deixas de ser a pessoa mais importante das suas vidas, como geres isso na tua cabeça? A Telma ainda está a descobrir.

Algumas semanas antes da separação a Telma desabafou com uma amiga, entre o sufoco, o desespero e as lágrimas, a Telma admitiu que o medo de dar o primeiro passo e pedir o divórcio era precisamente o medo de chegar ao ponto em que não teria dinheiro para dar de comer aos filhos, esse medo gigante de faltar com alguma coisa aos seus filhos por um capricho da mãe em querer ser feliz, era suficiente para ela não tomar a decisão certa ( não se surpreendam por este ser o motivo de muitas mulheres se manterem casadas apesar do sofrimento e desgaste da relação). A amiga de Telma, que também estava divorciada e tinha dois filhos disse algo que Telma jamais irá esquecer: “No dia em que isso acontecer, chegas à mesa na hora do jantar e dizes aos dois: Hoje é dia de tostas mistas! E fazes tostas mistas. No dia a seguir é outro dia e logo se vê. Tudo se resolve”. Estas palavras são um conforto na alma de Telma, quando esta faz uma retrospetiva do último ano, ela sente um orgulho enorme em si mesma, por todas as pequenas conquistas que ela conseguiu obter, através de muito trabalho, esforço físico e psicológico e muitas lágrimas também. Os filhos nunca passaram fome e o frigorífico manteve-se sempre cheio, mas o frigorífico cheio não basta para recomeçar um lar, pois não?

Se as notas baixam em algumas disciplinas, a Telma sente-se culpada, se é chamada à escola porque o filho se envolveu em alguma briga, a Telma sente-se culpada, se o filho chora, a Telma sente-se culpada, se o filho muda radicalmente o seu comportamento, a Telma sente-se culpada, se o filho está deprimido, a Telma sente-se culpada, se o filho relembra momentos felizes que tiveram em família, a Telma sente-se culpada, se o filho prefere estar com o pai, a Telma sente-se culpada…a culpa é devastadora, a angústia é tão pesada que sentes que vais ser engolida por todos estes sentimentos até não conseguires respirar. Mas a culpa também distorce a verdade, já te esqueceste da mãe que tens sido? Quem foi a pessoa que ensinou a primeira palavra? Quem ensinou a dar os primeiros passos? Que se viu privada do sono para os alimentar? Quem é que levava um à natação e carregava o outro em seus braços? Quem é que ensinou as primeiras letras e os primeiros números? Quem é que lhes comprou livros para os incentivar à leitura? Quem é que lhes enchia o quarto de balões e chocolates? Quem os ajudava com os deveres de casa? Quem é que disse o dói-dói já passa quando deram a primeira queda? Quem é que os amparou com abraços e beijos quando tiveram a sua primeira paixoneta? Quem é que lhes fazia o avião e lhes cantava a música da Galinha põe o Ovo? Tu estiveste sempre presente na vida dos teus filhos, as fases boas e más tu é que estiveste lá, muitas vezes sozinha e desamparada, muitas vezes cansada e desiludida mas sempre mãe, sempre uma boa mãe, sempre presente. Foste a melhor mãe que podias ter sido, és a mãe que os teus filhos precisam, não dês importância à opinião alheia, descansa o teu coração, relaxa e aproveita a vida, seres feliz é o melhor ensinamento que podes dar aos teus filhos!

 

“(…) Por isso, filho, não voltes atrás. / Não te sentes nos degraus (…) Porque eu cá vou indo, querido / Cá vou subindo / E para mim a vida nunca foi escada de cristal.”

Langston Hughes

 

Próximo capítulo: Estado civil – Numa relação