Diário de uma divorciada – “Engana-te que eu gosto”

É uma honra como escritora não profissional poder escrever sobre as histórias de vida das pessoas comuns – vivências que são uma aprendizagem, momentos de pequenas conquistas, momentos de dor extrema, momentos genuinamente felizes –  as pessoas têm uma necessidade urgente de conversar, partilhar, desabafar. Num mundo em que as redes sociais são a fonte da socialização, é importante que alguém te ouça enquanto te olha nos olhos.

Tenho o prazer único de poder partilhar a história da minha amiga Telma, contada na terceira pessoa, textos repletos de sátira, textos reveladores de uma profunda tristeza e honestidade, mas são de facto textos que detalham a vida real e a fase de mudança que a Telma está a vivenciar. Ponderei muito antes de partilhar estas palavras com os leitores mas relembrei o poder transformador que as palavras detém, se o testemunho da Telma ajudar nem que seja uma mulher a sentir-se bem com as suas decisões e escolhas, então valeu a pena.

Diário de uma divorciada  – “Engana-te que eu gosto”

Há uns anos a Telma leu uma frase a respeito do divórcio, aleatoriedade ou ironia divina, hoje Telma compreende o sentido do que leu, a dita frase era algo deste género: “O divórcio têm a capacidade de trazer à luz tudo o que está oculto dentro da alma de uma pessoa. Portanto, caso queira conhecer melhor o seu marido, divorcie-se dele”.

A Telma disse ao marido que queria o divórcio e a partir desse momento foi o caos. A Telma achou que a outra parte iria compreender e os dois teriam um acordo rápido pois ambos sabiam há demasiado tempo que o casamento tinha terminado, que esse ciclo não se iria renovar, mas enganou-se. A Telma pensou que os filhos em comum não seriam colocados como intermediários numa situação dolorosa como a separação dos pais, mas enganou-se. A Telma pensou que as suas amigas iriam ligar para dar apoio emocional mas o telefone não tocou. A Telma julgou que os amigos em comum iriam compreender os motivos dela mas enganou-se. A Telma achava que a sua decisão iria ser respeitada por muito sofrimento que fosse originar, mas enganou-se.  A Telma esqueceu-se que a sociedade é uma merda, que as pessoas à sua volta não concordavam com a sua coragem e audácia e esperavam que tudo lhe corresse mal, para que elas pudessem orgulhosamente afirmar “Eu já sabia que isto lhe ia acontecer”. A Telma achava que ia arranjar um gajo em três tempos mas rapidamente percebeu que estava errada, ela criou um sistema de defesa emocional e não iria permitir ser magoada novamente. A Telma pensou que ia sentir aquele click instantâneo de felicidade que ocorre nas mulheres quando estão finalmente sozinhas, mas enganou-se, o bem-estar é um trabalho contínuo e por vezes doloroso que não acontece magicamente do dia para a noite.

Infelizmente a Telma enganou-se em muitos aspetos mas em contrapartida Telma não se enganou num elemento fundamental: Ela iria finalmente conhecer a mulher que sempre quis ser.

 

“Se não sais de ti, não chegas a saber quem és”

José Saramago

 

Próximo capítulo: A corrida