Diário de uma Divorciada – Sexo, sexo, sexo

Tenho o prazer único de poder partilhar a história da minha amiga Telma, contada na terceira pessoa, textos repletos de sátira, textos reveladores de uma profunda tristeza e honestidade, mas são de facto textos que detalham a vida real e a fase de mudança que a Telma está a vivenciar. Ponderei muito antes de partilhar estas palavras com os leitores mas relembrei o poder transformador que as palavras detém, se o testemunho da Telma ajudar nem que seja uma mulher a sentir-se bem com as suas decisões e escolhas, então valeu a pena.

Diário de uma divorciada  – Sexo, sexo, sexo

Telma só pensava em sexo! Sexo de manhã, sexo à tarde, sexo à noite, sexo de madrugada…não havia filmes, imagens, livros, histórias, que a fizessem sossegar. Quando ela abria a caixa mágica, o vibrador diria: Outra vez esta gaja, não há pilhas que aguentem esta merda, deixa-me em paz, arranja um gajo por favor! Não era carência afetiva, era mesmo vontade de dar umas quecas, o sexo não lhe saía da cabeça e ela só pensava nisso todo o santo dia, por vezes questionava-se se essa fome toda era visível no seu rosto ou nos seus passos, não queria dar a impressão de ser uma mulher esfomeada, sedenta de sexo, mortinha por se meter em cima de um gajo, com ar de quem desgasta o robô que mete no meio das pernas, rotulada de abstinente por obrigação, nada disso, ela só queria transmitir paz e tranquilidade, mesmo que dentro de si reinasse a balbúrdia.

As amigas diziam-lhe para ela se inscrever no Tinder, no Badoo, ir a clubes de swing e sabe-se lá mais onde, para conhecer uns gajos ( se calhar umas gajas também) dar umas voltas, tirar umas lascas, desentorpecer os ossos, dar umas fodas, mas a Telma não conseguia seguir os conselhos elucidativos das amigas, ela não consegue se envolver com um homem sem sentir nada por ele, é preciso conhecer, é preciso seduzir, é preciso gostar, existir química, um envolvimento para além de sexo, namorar, curtirem a vida a dois ( com tantos itens um homem assusta-se e põe-se a andar ).

A Telma é demasiado romântica e espera um Romeu que dificilmente irá aparecer, Telma não se imagina a combinar um café com um amigo colorido do Tinder, que já lhe enviou fotos do instrumento (o código de relação atualmente é este: primeiro as nudes, depois os beijos, também há filtros para fotos de badalos? É uma questão pertinente, imaginem um encontro em que se espera 25 cm e surge um de 10 cm, o que dizemos ao tipo? Que nos doí a cabeça? Isso não é uma desculpa usada só pelas mulheres casadas? ) vão para o motel dar uma ou duas quecas, dependendo da pedalada do gajo, depois cada um vai à sua vida e amanhã venha o próximo, provavelmente casado…nem pensar, Telma não está nessa onda sexual, a maré dela é outra, mais turbulenta pois envolve sentimentos.

Por conta dessa agitação Telma tem vivenciado algumas situações peculiares, como o motorista da camioneta que tinha grandes atributos físicos ( os olhos claros já lhe bastavam ), o cliente que lhe deixou uma sugestão de um livro num guardanapo ( não há nada mais charmoso do que um homem que lê ) ou ainda o tipo do facebook que a fez rir de madrugada à custa de uma piada por ela não responder às suas mensagens ( um homem com humor é um ponto a favor, para a Telma e para qualquer mulher ).

A Telma é uma desventurada, uma indigente, não fuma, não bebe, não usa drogas, mas com que porra ela se vai entreter enquanto não chove um gajo do céu? Telma só pedia a Deus que lhe desse forças para ela não saltar em cima do primeiro gajo que lhe desse letra…ups!

“Quando a cabeça não tem juízo, o corpo é que paga”

António Variações

 

Próximo capítulo: A romantização do sofrimento