O discurso do método de Passos Coelho

A mesma jornalista que na crónica de nove de março entrevistou António Costa ( ver em https://maisopiniao.com/explicacao-da-gafe-do-candidato-antonio-costa/ ) , na sequência de uma célebre gafe, fala agora com o candidato eleitoral ao sufrágio do outono e atual Primeiro-ministro Passos Coelho, numa conversa informal, na qual qualquer semelhança entre o que é dito e a realidade portuguesa é mera coincidência.

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JORNALISTA – Sr. Primeiro-ministro, afirmou recentemente que melhorou o sistema de cálculo do subsídio de desemprego.

1º MINISTRO – É verdade.

JORNALISTA – Há quem diga que o fez a pensar na sua situação de daqui a uns meses, se perder as eleições de outubro e o cargo de Primeiro-ministro.

1ª MINISTRO – Não é verdade, não tomo as decisões a pensar em retirar delas qualquer proveito, até porque, como poderá constatar se se der ao trabalho de fazer as contas, com as novas regras o valor do subsídio foi revisto em baixa, o que implica que os novos desempregados vão passar a receber muito menos ao fim do mês.

JORNALISTA – Não considera que quase irrisório o valor de menos de quinhentos euros em média que os desempregados recebem em Portugal?

1ª MINISTRO – Considero, mas estou em condições de anunciar que esse valor vai subir em flecha daqui a uns meses. Se acontecer o PSD deixar de ser Governo, com tantos boys que eu nomeei ao longo de quatro anos e vão nessa altura para o desemprego, tendo em conta o ordenado mensal que auferem não me admiraria que as contas da Segurança Social entrassem em colapso.

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JORNALISTA – Para contornar o problema da falta de dinheiro, para esse fim pode recorrer à verba que a senhora ministra das finanças diz ter posto de parte quando se refere ao Estado ter, neste momento, os cofres cheios.

1º MINISTRO – Infelizmente não posso, esse montante que ascende a muitos milhões de euros e já existe há uns meses, está reservado para a compra de novos aviões para a TAP.

JORNALISTA – Para a TAP?! Mas a empresa não tem um novo dono que prometeu usar oitocentos milhões de euros para esse fim?

1º MINISTRO – É verdade, mas como andámos a pôr o dinheiro de parte com esse objetivo, se não o usarmos agora para o fim a que estava destinado, as pessoas vão pensar, e com razão, que desde essa altura não queremos saber da TAP para nada.

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JORNALISTA – E por falar na TAP, há outras privatizações na calha?

1º MINISTRO – Claro. Todas as notícias que saem sobre o meu passado, sobretudo dos anos em que trabalhei na Tecnoforma. Já é tempo de na imprensa sensacionalista, as pessoas compreenderem que determinados assuntos dizem exclusivamente respeito a si e são do seu foro … privado.

JORNALISTA – Senhor Primeiro-ministro, mudando de tema, já decidiu se, nas eleições que deverão ser marcadas para outubro, o PSD vai concorrer coligado com o CDS?

1º MINISTRO – Em princípio sim.

JORNALISTA – Em princípio? E se elas forem mais perto do fim do mês?

1º MINISTRO – Também. Não vejo razão para alterar. Depois de nestes quatro anos termos conseguido manter um entendimento quase perfeito, só no caso de uma grande desavença é que poríamos tudo a perder no espaço de umas semanas.

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JORNALISTA – O que pensa da situação na Grécia e da posição do seu Primeiro-ministro Tsipras?

1º MINISTRO – Penso que, para não pagar aos fornecedores, gostaria de tê-lo como meu ministro da Saúde, que é um dos ministérios para onde o orçamento de Estado canaliza mais dinheiro.

JORNALISTA – E da posição dos credores e da senhora Merkel em particular?

1º MINISTRO – Que adoraria tê-la como ministra da difícil pasta da Segurança social.

JORNALISTA – Por quê?

1º MINISTRO – Para aumentar o coro dos protestos, para ter também a criticá-la os nossos desempregados e os nossos reformados de baixas pensões. Quantos mais formos, melhor, podia ser que aliviasse a pressão sobre a nossa economia, desistisse dos cortes e me deixasse tomar medidas menos … impopulares.

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JORNALISTA – Mudando novamente de assunto … no ensino, vamos ter uma abertura de ano letivo mais pacífica do que há um ano?

1ª MINISTRO – Naturalmente. Acabaram-se os equívocos, por isso não vamos repetir os erros do passado. Aconselhei o senhor ministro a não mandar para as escolas de Bragança os professores que residem no Algarve. Duvido que na altura das eleições eles queiram ir a casa só para poderem votar em mim.

JORNALISTA – Quando apresenta o Programa de Governo para a próxima legislatura?

1º MINISTRO – Brevemente, talvez no comício de encerramento da nossa reentré política, que vai ter lugar no Algarve como é habitual.

JORNALISTA – Pelas vinte horas? Assim aproveita o tempo de antena dado pela abertura dos telejornais.

1º MINISTRO – Precisamente, tem de ser o mais afastado possível dos intervalos que enchem de publicidade. Não quero que as nossas propostas possam ser confundidas com as estratégias de marketing para iludir as pessoas, como nos anúncios.

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JORNALISTA – Também pensa reduzir a contribuição das empresas à Segurança Social?

1º MINISTRO – Evidentemente, mas só daquelas a que puder subir o IRC. Para compensar o mau humor com que vai ficar o ministro Mota Soares, talvez venha de lá um sorriso simpático da senhora ministra das Finanças.

JORNALISTA – É agora que vai revelar o perfil do candidato que vai apoiar nas presidenciais de dois mil e dezasseis?

1º MINISTRO – Não, porque não iriam reconhecê-lo de perfil. Trata-se de alguém que os portugueses, e os senhores jornalistas também, se acostumaram a ver como um homem frontal. Todavia, posso adiantar que será um candidato-surpresa.

JORNALISTA – Por ser um independente?

1ª MINISTRO – Pelo contrário, é por ser um militante do Partido. Muita gente nunca mais esperou que eu fosse capaz de apoiar alguém dentro do Partido, depois de me terem acusado de não ter dado ao ministro Miguel Relvas o apoio que evitasse a sua demissão, sabendo, ainda por cima, que ele era meu amigo desde os tempos da Juventude.

JORNALISTA – Para terminar esta curta entrevista, depois de quatro de governação, pensa ainda como disse no início, a propósito das eleições que se seguem: “Que se lixem as eleições!”?

1º MINISTRO – Não. Desta vez, prefiro pensar: “Que se lixem as sondagens!”. É que a fazer fé nas mais recentes que li, se continuar a praticar medidas impopulares, não só perco as eleições que se seguem, como todas as outras nos próximos vinte ou trinta anos.

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