Disse que disse – João Cerveira

Toda esta discussão em torno da Ministra das Finanças e dos contratos swap reduz-se a uma coisa muito simples: a oposição quer usar a falha grave – mentir numa comissão parlamentar – da então Secretária de Estado do Tesouro para a atingir e, por consequência, atingir o Governo. E nem vale a pena dizer que não mentiu porque toda a gente viu.

O que todos vimos Maria Luís Albuquerque dizer foi que não havia qualquer informação sobre este tipo de contratos na pasta da transição. Depois foi desmentida pelo então Ministro das Finanças que disse que havia informação, mas era insuficiente. Mais recentemente, o então Director Geral do Tesouro veio dizer e demonstrar que informou a Secretária de Estado dos contratos em causa por email na altura. Resumindo: no que é que  senhora ex-Secretária de Estado, agora Ministra das Finanças, mentiu? Disse que não estava lá informação. Como podia ter evitado? Dizendo que estava lá informação mas era insuficiente. Só isto bastava e ninguém podia contestar. Mas então porque não disse isso? Provavelmente tinha receio que se levantassem dúvidas – o que acabou por acontecer – quanto ao tempo que levaram até reagir, o que levou alguns governantes e gestores ligados aos partidos da maioria a serem afastados. A própria Maria Luís Albuquerque assinou contratos swap enquanto gestora da Refer.

Dito isto, o Estado foi lesado? Segundo Maria Luís Albuquerque não. Porque os contratos que deram lucro cobriram os que deram despesa. Então porque é que se continua a falar disto?
A maioria deve ter pensado que a existência de contratos swap era uma boa forma de atingir a anterior governação que detectou alguns contratos mas não agiu contra eles. Mas estou em crer que, quando começaram a pesquisar, começaram a verificar que havia muito nome de gestor social democrata associado a esses contratos e, por isso, optaram por acusar de falta de informação que acabou por cair por terra, pelo que se disse anteriormente.

Ou seja, acaba por ser um exemplo da politiquice que se faz em Portugal, por todos os partidos.  Ambos os chamados partidos da governação têm responsabilidade pois cabe a eles a tutela das empresas públicas. Ambos tinham conhecimento. O anterior governo não agiu a tempo de os conter, por isso não interessava divulgar a sua exigência. E o actual não tinha grande interesse porque o nome que estava nas assinaturas eram de muitos gestores ligados à maioria. E tudo isto – volto a frisar – numa operação que, no seu conjunto, supostamente não lesou o Estado. E digo supostamente porque, posto o que se disse em cima, actualmente ninguém sabe se pode confiar no que Maria Luís Albuquerque diz.

Mais uma vez chega-se à conclusão que todos, incluindo o Presidente da República – e muitas vezes por culpa deste -, andam a discutir por “peanuts” em vez de se preocuparem em resolver os problemas do país, em nome do interesse nacional (entendido aqui como o interesse dos portugueses e não, como é entendido por este Governo, como o interesse dos mercados, troika ou Sra Merkel).

 

 

Crónica de João Cerveira

Diz que…