Divertida Mente (Inside Out)

A Pixar é um poço de criatividade que parece não ter limites e Divertida Mente faz-me arriscar que neste momento há cinco emoções a trabalhar incansavelmente no meu cérebro de forma a que esta review chegue a bom porto… Mas que magia traz este novo filme e de que forma mantém a coerência da empresa de animação?

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Titulo Original: Inside Out

Ano: 2015

Realizador: Peter Docter, Ronaldo Del Carmen

Produção: John Lasseter, Mark Nielsen, Jonas Rivera

Argumento: Peter Docter, Ronaldo Del Carmen, Mege LeFauve, Josh Cooley

Dobragem Original: Amy Poehler, Phyllis Snith, Richard Kind, Bill Hader, Lewis Black, Mindy Kaling, Kaitlyn Dias

Dobragem Portuguesa:  Carla Garcia, Bárbara Lourenço, Nuno Pardal, Custódia Galego, João Baião, Diogo Infante, Nuno Markl

Musica: Michael Giacchino

Género: Animação, Aventura, Comédia

Ficha técnica completa em: http://www.imdb.com/title/tt2096673/

Em 1995, uma empresa achou por bem deixar a criançada a olhar fixamente para os seus bonecos e brinquedos, a espreitar pelos buracos das fechaduras à espera que ganhassem vida. Esta empresa maquiavélica inspirada em fazer crianças felizes e futuros adultos chorar chamava-se Pixar, e estava à frente de toda a industria de animação por computador na altura continuando a somar pontos não só pela vertente técnica como pela criatividade e qualidade das suas histórias. Numa companhia com um sucesso de 93,4%, os 6,6% representam Carros 2, as probabilidades da empresa somar novos sucessos de bilheteira é alta e com certeza alvo de uma certa expectativa tanto para crianças como graúdos.

Inside Out, ou Divertida Mente em português, é um projecto ambicioso pela complexidade do tema e pela imaginação necessária para criar um mundo que na realidade está longe da perspectiva fantasiosa da Disney. O nosso cérebro é, segundo o filme, um centro de comandos onde cinco emoções trabalham em aparente harmonia de forma a manter o equilíbrio mental necessário para uma vida sã. Estas cinco emoções, Alegria, Repulsa, Raiva, Tristeza e Medo, munidas de uma personalidade própria intrinsecamente ligada ao que representam fazem parte do cérebro de uma criança chamada Riley, que depois de uma infância feliz é obrigada a mudar de casa e a viver para São Francisco. As cinco emoções tem por isso uma tarefa árdua, manter Riley em equilíbrio enquanto as dificuldades desta mudança de casa começam a transparecer no seu próprio cérebro com resultados devastadores para o seu crescimento. Enquanto isso, as cinco emoções vão ter de arranjar uma nova forma de colaborar sem se discriminarem entre si apercebendo-se da importância que cada uma representa para uma mente saudável.

A personificação das emoções é talvez um dos pontos mais imaginativos do filme, juntamente com toda a criatividade que tenta explicar de forma brilhante os processos mentais do nosso cérebro. Desde a transformação das diversas dimensões da nossa mente em ilhas mágicas organizadas dentro do cérebro, até ao simples acto de sonhar, atribuído a uma espécie de industria de Hollywood que trabalha incansavelmente num novo filme todas as noites. Também alguns dos processos como a eliminação de memórias, ou até mesmo a forma como são organizadas numa enorme livraria de esferas brilhantes, não só beneficiam do contributo da comédia como ilustram de forma criativa a complexidade do cérebro humano.

Nos cinemas portugueses a dobragem portuguesa impera, e no caso de Divertida Mente por bons motivos. Vivem-se tempos negros para as dobragens não só pela crise económica mas também pela necessidade de promover alguns filmes de animação através da inclusão nas equipas de pessoas que não pertencem de todo ao mundo da representação ou da dobragem (apresentadores de televisão, futebolistas, etc). Isso tem por vezes um efeito indesejado na plateia mais atenta. Divertida Mente afasta-se desta nova moda com um elenco que não deixa de ter as suas estrelas, mas não vende a qualidade da dobragem a pessoas com pouca experiência só pelo desejo de arrecadar audiências. Actores, dobradores e radialistas fazem parte deste elenco numa dobragem que é de arriscar ser uma das melhores de sempre no panorama português. Grande destaque para Alegria (Carla Garcia) e Tristeza (Custódia Gallego) passando por Medo (João Baião), Raiva (Nuno Pardal), Repulsa (Barbara Lourenço) ou até Bing Bong, um irreconhecível Nuno Markl numa das suas melhores performances pessoais até hoje em termos de dobragem.

Divertida Mente conta ainda com banda sonora de Michael Giacchino, que tal como em outro trabalhos da Pixar, cria um tom bastante adequado, atmosférico e variado, dispensando uma vertente psicadélica associada a filmes que se debruçam sobre a mente humana.

A Pixar, faz novamente o que poucos estúdios de animação têm feito, produzir um filme que embora pareça para crianças move também adultos, que se aperceberão com mais nitidez de todas as dimensões do filme rindo juntamente com a criançada enquanto o cérebro é reconstruído de forma criativa. Divertida Mente cumpre de novo o objectivo, fazer com que a plateia saia do cinema com a sensação que existem de facto cinco pequenos seres a trabalhar dentro da nossa mente, fazendo um bom ou um mau trabalho, enriquecendo e de certa forma tornando mais colorida a nossa visão por vezes cinzenta do nosso próprio cérebro. A criatividade sem limites deve catapultar este filme para um dos clássicos mais espectaculares da Pixar, mas cuidado com possíveis sequelas, o que é genuinamente bom tem este efeito. e por vezes a continuação pode não corresponder às expectativas…

Her9.0

Regresso para a o próximo mês com mais cinema…