Agora é que é! – Diz que…

Quer queiramos, quer não, tirando poucas individualidades, a maior parte dos governantes já têm experiência de governação ou de deputado. E os leitores desta crónica perguntaram: mas achas que não deviam ter experiência? Como dizem os pescadores, nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Nada contra a experiência. Mas pensem bem: se antes não funcionou, como vai funcionar agora?

Se não funcionou com Cavaco Silva – antes pelo contrário – quando havia milhões e milhões de (na altura) contos que vieram de Bruxelas para o nosso país, o (agora) chamado período das vacas gordas – que ajudou a criar BPNs e companhia -, como vai funcionar agora?

Se não funcionou com Durão Barroso e Paulo Portas – mesmo com a Manuela Ferreira Leite e Pedro Lynce a protagonizar os primeiros cortes no Ensino Superior -, e mais tarde com Pedro Santana Lopes e Paulo Portas, como vai funcionar agora?

Se não funcionou com Guterres, mesmo com a criação de rendimentos minimos e aumento de pensões – sem olhar a consequências, nomeadamente, da fiabilidade financeira da medida – e com a Expo, como funcionaria agora se o PS fosse governo?

Já, com certeza, perceberam onde quero chegar. Em Portugal normalmente os mais votados são sempre o partido A e B. O resto do abecedário fica de fora. O que leva com que os oportunistas se concentrem todos nos mesmos partidos. Haverá pessoas válidas, verdadeiros estadistas, realmente preocupados com o país e com os portugueses? Acredito que sim. Mas na história, há vários casos que desacreditam os partidos, precisamente pelos oportunistas que lá estão. E enquanto o sistema politico for este – enquanto rodar pelos mesmos partidos, que elegem na maioria das vezes os lideres com as mesmas ideias, convidando as mesmas pessoas para os cargos políticos de mais relevo –  os verdadeiros e/ou outros estadistas vão ficar na sombra. Dirão que o actual governo tem caras novas na politica, pelo menos o ministro da educação e o da economia e o próprio primeiro ministro. Tem, verdade. Mas, começando já por este último, a vida dele toda – excepto uma leve incursão pelo meio empresarial que levou a que uma empresa por ele administrada fosse multada por despejar ilegalmente lixo no Tejo – esteve ligada à JSD e ao PSD. O Álvaro, como gosta de ser chamado, sempre esteve ligado, segundo a informação online sobre o senhor, ao PSD de Viseu, o conhecido “cavaquistão”. Mas ainda assim, são poucas as caras novas.

E perguntarão se eu queria outro partido no poder. Eu acho que uma mudança no sistema, que permitisse uma maior representatividade no parlamento, com mais partidos, logo (em teoria – já vimos com o PSD e o CDS que, quando se juntam em coligação, a diferença teórica perde-se…) mais e diferentes formas de ver a coisa e, creio eu, mais perto da realidade que é o nosso país. Porque, e para finalizar, cada vez acho mais que os principais partidos (e não falo apenas de PS e PSD) se fecham numa realidade que não é a nossa. Eles não conhecem a realidade do país. Eles olham para os números, olham para a teoria e tomam aquela como realidade. Só assim entendo certas posições, completas aberrações, comparadas com o que nós sentimos, ouvimos dos nossos amigos, dos conhecidos e alguns desconhecidos no trabalho, no café, no supermercado, por aí.


Crónica de João Cerveira
Diz que…