Diz que… está controlado, mas na realidade é o descalabro! – João Cerveira

Já o disse antes: não é preciso ser-se economista ou matemático para perceber que tentar cobrar onde não existe o que cobrar não funciona. Que o digam os bancos com o aumento exponencial do crédito mal parado. Por isso, ninguém parece compreender que quem nos governa continue a dizer que está tudo controlado, dentro dos limites esperados.

Vimos, esta semana, que isso não é verdade. Segundo dados do INE, o défice é bastante mais alto do que esperado; cortam no subsidio de maternidade (quando supostamente o apoio à maternidade era uma prioridade, segundo o programa de Governo ); ajudam a promover o desemprego colocando 400 trabalhadores da linha de apoio (se é que ela realmente apoia alguém) no desemprego; baixam o limite do valor do património para se usufruir do Rendimento Social de Inserção de 100 mil euros para 25 mil euros (o que, na prática significa que um cidadão desempregado, sem dinheiro para subsistir, se tiver uma habitação que valha mais do que 25 mil euros, já não recebe, mesmo que passe fome); e, não menos importante, um ministro diz que “o Governo tem tido muita paciência com as greves”, como se o direito à greve não fosse um direito constitucionalmente consagrado e ele tivesse meios (legais) de o reprimir.

Temos de gastar menos? Sim, claro. Absolutamente de acordo. Mas com critério e com moderação, estudando as consequências. Austeridade desmesurada em vez de ajudar o país, leva ao puro estrangulamento de famílias e empresas.

A consequência real do que se está a fazer é simples: imaginem as famílias muito pobres que procuram em todos os bolsos os trocos que sobram para comprar um pouco de comida para por na mesa e, quando o conseguem, o Estado vem e tira-lhes esse pouco que conseguiram comprar. E, não havendo mais, não há o que poupar (diminui a liquidez nos bancos), não há forma de comprar mais (diminui consumo, diminui receitas do Estado em sede de IVA, diminui lucro das empresas, que pode eventualmente tornar-se em prejuízo e levar à falência das mesmas e desemprego) e eventualmente esta família, como muitas outras, vai pedir apoios ao Estado para sobreviver (aumento da despesa social do Estado). Menos receita, mais despesa, mais défice. Simples, não?

Nada de novo, portanto. Todos nós já nos apercebemos disto. Então porque  quem nos governa, economistas e académicos reputados, ainda não entenderam? Espero que mudem de opinião antes que seja tarde demais.

 


Crónica de João Cerveira
Diz que…