Diz que… foi justificado…

Creio que já falei 2 vezes nestas crónicas no marco negativo que foi o buzinão da ponte 25 de Abril e da consequente carga policial que tornou um jovem manifestante tetraplégico. A minha crónica de hoje é sobre um outro episódio que envolve também carga policial sobre manifestantes, mas cujos ferimentos não foram tão graves, para bem de todos nós.

No passado dia 22 de Março, dia de greve geral convocada pela CGTP-IN, a Plataforma 15 de Outubro planeou uma manifestação pacifica pelas ruas da cidade. A certa altura, a PSP diz ter avistado um manifestante com petardos e, quando foi proceder à detenção, foi agredida com chávenas de café e copos que estavam em cima das mesas nas esplanadas, nomeadamente d’ A Brasileira.

Vamos a factos. Há fotos a circular na internet, desde o Facebook à blogosfera, que mostram que o referido individuo já vinha a ser acompanhado pela PSP desde o inicio da rua. Isto é, a detenção podia ter sido feito antes. Isto se a intenção era real, pois, segundo alguns testemunhos, minutos depois já estavam na amena cavaqueira e, segundo alguns arriscam, tal individuo seria um policia à paisana. Sem provas, não o posso afirmar. Mas as fotos não mentem em relação à proximidade da policia em muitos outros pontos da rua. Outro facto: o responsável e/ou proprietário d’ A Brasileira referiu em entrevista às televisões que, mal começaram a ouvir o barulho dos manifestantes ao fundo da rua, que os funcionários do café trouxeram os clientes todos para o interior do estabelecimento, deixando a esplanada deserta. Eu não estava lá para ver, mas pensem comigo: traziam os clientes para dentro e deixavam lá a loiça? Podem não ter tempo de trazer tudo para dentro, mas acham que havia muita loiça naquela esplanada para arremessar?

Factos à parte, a agressão dos manifestantes à policia foi tão grave que só 1 policia ficou ferido com uma chávena que o atingiu na face. Reparem na ironia: a policia de intervenção – vulgo policia de choque – varre uma rua e praça à força de bastonada (com aqueles bastões enormes tipo anti-motim) porque alguns indivíduos lhes lançam chávenas. Ou seja, por meia dúzia, agride-se, no mínimo, meia centena. E diz a policia que foram também arremessadas cadeiras e mesas. Óbvio. Se eu estivesse lá e se a policia viesse para cima de mim, também lhes arremessava tudo o que pudesse, como forma de defesa. Não sou masoquista para levar porrada sem me defender.

Com tudo isto presumo que os oficiais que comandavam as operações naquele dia faltaram às aulas na escola de policia onde lhes ensinaram o principio da proporcionalidade.  Todos nós vimos as imagens dos jornalistas a ser agredidos. E ambos dizem ter gritado que seriam jornalistas e que foram ignorados e impedidos de mostrar identificação que o comprovava porque continuaram a ser agredidos e – pior – com bastões na cabeça. Em nenhuma imagem, bem como em nenhum relato, é mostrado ou dito que algum dos mesmos demonstrou resistência ou ameaça à policia. Apenas que gritaram ser jornalistas. Então, peço-vos mais uma vez, pensem comigo: se eles agridem com bastões na cabeça, e, inclusivamente, abrem a cabeça a um cidadão, que não oferece resistência, não retribui a agressão, gritando apenas “sou jornalista”, se tivesse mostrado resistência o que lhe aconteceria? Matavam-no?

Tenho lido nalguns comentários que é injusto crucificar toda a PSP por esta atitude de um grupo deles. Concordo. Mas só em parte. Alguns agentes naquela situação portaram-se como autênticos animais (com todo o respeito que eu tenho pelos animais), e não como pessoas. E acima deles, há oficiais que lhes dão as ordens. E, acima deles, à uma direção nacional da policia e um Ministério da Administração Interna. Enquanto estas instituições não investigarem o sucedido e penalizarem quem de direito, sejam eles agentes, oficiais, diretores, secretários de Estado ou ministros, a instituição PSP, para mim não merece respeito nem credibilidade. Não falo do agente que patrulha as ruas ou que tenta orientar o trânsito, mas a PSP enquanto instituição e a sua gestão ao nível mais alto.

Para terminar, pior (se é que pode haver pior) do que a agressão desmedida e irracional da policia naquele dia, é que, devido à intervenção da Troika, agora, mais do que antes, os olhos do mundo estão no nosso País, e o que se via nos jornais internacionais no dia seguinte e nas agências noticiosas eram imagens que mostravam uma intervenção de uma policia fora de si. Abaixo uma imagem de um (suposto) agente de autoridade, que pela sua expressão, estava totalmente fora de si, a agredir uma foto-jornalista da Agência France Press, captado por uma objectiva de um fotografo da Reuters, que minutos depois a colocava online para todo o mundo.

Agora entendo o que queriam dizer quando referiam que íamos chegar ao mesmo ponto que a Grécia. Pelo menos a PSP já começou a imitar a policia grega. Mas os gregos pegam fogo a edifícios e monumentos nacionais. Não se limitam ao arremessar de chávenas de café, por meia dúzia de manifestantes.

A policeman strikes AFP photojournalist Patricia Melo during the Portuguese general strike in Lisbon March 22, 2012.


Crónica de João Cerveira
Diz que…