O 1º Maio deixou-me confuso – João Cerveira

Confesso que o 1.º de Maio de 2012 deixou-me confuso. Aquela história do Pingo Doce pôs muita gente a falar dos direitos dos trabalhadores e dos lucros dos grandes grupos económicos. Mais do que habitual. Mas, essas mesmas pessoas, que falam sempre disso, deixaram-me confuso.

Eu li comentários de funcionários do Pingo Doce que dizem que se receberam a triplicar, mais um dia de folga, para trabalhar naquele dia. Se não trabalhassem, receberiam zero. Pelo menos na empresa onde trabalho, os feriados não se trabalham e não se pagam.

Ouvi a televisão a falar que o lucro do Pingo Doce nesse dia foi metade do que seria num dia normal. Ora, eu vejo muita gente queixar-se de que os lucros das grandes empresas são verdadeiros atentados de tão altos que são, especialmente no momento difícil em que as famílias vivem. A empresa tem metade do lucro e eles queixam-se na mesma.

Qualquer empresa, seja ela grande ou pequena, deve ser punida se comete uma ilegalidade. É o que eu penso. Mas se, dentro da legalidade, uma empresa decide abdicar da sua margem de lucro para dar mais aos seus clientes, eu apoio. Dizem “mas podiam fazer isso todos os dias”. Pode até podiam. Mas o que os senhores que propõem isso não contam é que empresas como o Pingo Doce não tinham 369 lojas em todo o país, mais não sei quantas da cadeia Recheio, entre outros serviços do grupo. Como é que uma empresa cria emprego se não tiver lucros? Mais: como é que uma empresa – ainda mais nesta conjuntura – abre mais lojas (consequentemente, cria mais emprego) se não tiver lucros avultados?

Se há coisa que ainda não percebi é como é que alguém pode pedir mais criação de emprego e, ao mesmo tempo, pedir que o Estado “saque” o lucro das empresas através de novos impostos.


Crónica de João Cerveira
Diz que…